sexta-feira, 22 de maio de 2009

Morto, Assado, Fundido, Roubado, Arrastado... MAFRA

    Nova visita de estudo ao Palácio, Basílica e Convento de Mafra, com o 12º ano.

    Nunca o topónimo foi tão certeiro quanto ao sentido que um abade beneditino propôs para a palavra: morto (digo eu: de cansaço), assado (digo eu: pelo calor humano), fundido (digo eu: felizmente, com e num grupo de gente boa), roubado (digo eu: do descanso merecido), arrastado (digo eu: pela vontade de rever um espaço feito romance).

Fachada da Basílica e do Palácio de Mafra

     Certo de que não foi este o sentido para cada palavra nos tempos beneditinos, surge ele reinventado pela motivação que nos conduziu ao encontro com essa "brutidão de mármore", mandada construir pelo freirático rei (D. João V); um edifício setecentista que ecoa as palavras e as ideias contemporâneas de um autor, de um narrador, de um homem "levantado do chão" à qualidade de um Nobel.
   Uma visita excepcionalmente guiada, seguida da encenação de Memorial do Convento, ambas a convocar a leitura das páginas do livro de Saramago, pela extensão que o oral tem aí de representado.
    Tudo se faz da vontade e do sonho que alimentam a intriga da obra, numa mensagem universal. À data da publicação (1982), Bartolomeu Lourenço diz a Blimunda que serão necessárias duas mil vontades para a passarola voar; à data da leitura que compõe os nossos dias, diria que são precisas três mil.
                                                                                Capa da primeira edição da obra (1982)

     Cumpram-se as megalomanias de um homem; sacrifiquem-se os homens; inaugurem-se as obras por concluir; divorcie-se o amor natural e puro, a vida feliz e o progresso da ciência, por um lado, da absolutização do poder de um pequeno grupo, da cegueira da fé, da máscara ou farsa cortesãs, por outro. Assim se recria e questiona a História, o ciclo da vida.

   Houvesse vontade e sonho e os universos alternativos seriam possíveis: as passarolas voariam, as mãos e as pedras seriam o infinito um, o amor seria tocado pelo espírito da naturalidade e da sinceridade.

      Um dia que muitos tiveram a vontade de que tivesse sido mais (o infinito). Fica o registo para memória do tempo e das pessoas que partilharam esta experiência. Fica o sonho de um tempo diferente - condição natural a que o Homem aspira.

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