quarta-feira, 6 de maio de 2009

Relembrando Campos, na angústia

      "Esta velha angústia" data de 16/6/1934, pouco tempo antes de Pessoa falecer.

    Dizem que é um exemplo de escrita poética da terceira fase, mais intimista, própria desse heterónimo pessoano moderno e vanguardista que, depois da euforia, da dinâmica, da força e da pujança, assume a sua limitação humana, a "disforia" ou a "avaria da máquina". Nenhuma aguenta ser puxada ao excesso, ao limite, à totalidade.
       Outros intitulam essa fase como a do "engenheiro aposentado".


      Por mim, continuo a achar que também pode ser a fase de qualquer ser humano a atingir a saturação, o desconforto, a vontade de largar "as rédeas", "o volante e o pedal"; aquela em que se sente também a máquina à deriva, em descontrolo, prestes a espetar-se contra uma parede ou a dirigir-se para um declive.

      Será a realidade um modelo inspirador para a literatura ou será a literatura um modelo a considerar para a realidade? Prefiro ver na segunda hipótese um aviso "poético", para que qualquer real vivido não se torne na amargura de muitos. Também há cirurgias estéticas para as "velhas angústias".

3 comentários:

  1. Olha lá, mas a «velha angústia» é arte ou doutrina (que se siga)? :)

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  2. Concordo que não... mas lá que ela ataca não há dúvida.

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  3. Isto é arte ou vida? Se é vida, o Campos / Pessoa devia ter-se suicidado. Há anos, no EE. UU., um nadador português que estava lá a competir suicidou-se e tinha na mesinha de cabeceira precisamente o engenheiro... Assim, eu quando dou estes textos enfatizo muito junto dos alunos - em crescimento tantas vezes - que isto é muito mais arte do que vida - arte com uma tradição, simbolista, etc... Por outro lado, refiro-lhes estudos sobre Pessoa como o Fazer pela Vida - de cujo autor não recordo agora o nome, embora visualize perfeitamente a ex na juventude :) - que mostram como este homem não é o coitadinho que parece, muito pelo contrário, lutou sempre: e venceu, ou não estava aqui eu a escrever isto... e tu a fazer o filme...

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