Assim perguntava José Cardoso Pires, aos cinquenta anos (1975), fumando ao espelho nesse Outubro que, ao segundo dia, era data de aniversário.
Neste quente Outubro (num tempo que "não parece deste tempo"), na imagem de um mês que pôs fim a uma vida que havia já fechado olhos ao mundo, relembrei um dos romances mais fascinantes do século XX (metáfora de um tempo feito de fumos, névoas, desgraças e ambiguidades):
José Cardoso Pires
(óleo de Júlio Pomar)
"Havia sol a jorros, brilho e ouro, e não a claridade sem vida deste final de outubro a que estamos a assistir e que desgraçadamente nasceu comprometido, irmão do inverno. Lembro-me bem de que na altura pensei na maravilha da luz do outono - a melhor de todas..."
O Delfim, 9ª ed., Lisboa, Pub. Dom Quixote, 1979 [1968], p. 38
Onze anos depois da morte do autor, revejo-me numa das linhas do seu pensamento: "O pessimismo acaba sempre por funcionar como uma superstição de prudência: prevê o pior para ir acumulando resistências contra o mau, mas sempre na esperança de que o mau nunca venha a acontecer."
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