Este o tema que tem vindo à discussão nos últimos dias, talvez pela aproximação ao tempo que vai trazer grandes mudanças no Português (novos programas no ensino básico, a terminologia linguística, o Acordo Ortográfico). Assim se lê na sexta página do jornal Metro, publicado no dia 1 de Outubro.
A previsão do Professor Malaca Casteleiro é a melhor das hipóteses, caso se atenda ao facto de, com o triplo do tempo, não se ter deixado de ver escritos a contrariar o que já foi convencionado em 1945. Quem já não se cruzou, nos últimos tempos, com 'lêr', 'sêco', 'pêra', 'côr', 'raínha', 'juíz', 'Raúl'? Assim foram escritas; já não o são, por convenção, há cerca de 64 anos.
Assim foi determinado:
i) “Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas i e u de vocábulos oxítonos ou paroxítonos, quando, precedidas de vogal que com elas não formam ditongo, são seguidas de l, m, n, r ou z finais de sílaba, ou então de nh: adail, hiulco, paul; Caim, Coimbra, ruim; constituinte, saindo, triunfo; demiurgo, influir, sairdes; aboiz, juiz, raiz; fuinha, moinho, rainha.”
ii) “… prescinde-se do acento circunflexo em grande número de palavras com vogal tónica fechada que são homógrafas de outras com vogal tónica aberta. Quer dizer: conquanto se distingam na pronúncia, não se distinguem na escrita formas como: acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar; açores (ô), plural de açor (do mesmo modo o topónimo Açores), e açores (ó), flexão de açorar; aquele (ê), pronome, e aquele (é), flexão de aquelar; aqueles (ê), plural de aquele, e aqueles (é), também flexão de aquelar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão de cercar; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo; cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução adverbial de cor; doutores (ô), plural de doutor, e doutores (ó), flexão de doutorar; ele (ê), pronome, e ele (é), nome da letra l; eles (ê), plural de ele (ê), e eles (é), plural de ele (é); esse (ê), pronome, e esse (é), nome da letra s; esses (ê), plural de esse (ê), e esses (é), plural de esse (é); este (ê), pronome, e este (é), substantivo; esteve (ê), flexão de estar, e esteve (é), flexão de estevar; fez (ê), substantivo e flexão de fazer, e fez (é), substantivo; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; fosse (ô), também flexão de ser e ir, e fosse (ó), flexão de fossar; ingleses (ê), plural de inglês, e ingleses (é), flexão de inglesar; meta (ê), flexão de meter, e meta (é), substantivo; nele (ê), combinação de em e ele, e nele (é), substantivo; oca (ô), feminino de oco, e oca (ó), substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar; portuguesa (ê), feminino de português, e portuguesa (é), flexão de portuguesar; rogo (ô), substantivo, e rogo (ó), flexão de rogar; seres (ê), flexão de ser (ê), e Seres (é), nome de povo; transtorno (ô), substantivo, e transtorno (ó), flexão de transtornar; vezes (ê), plural de vez, e vezes (é), flexão de vezar; etc.”
(Segundo o Acordo Ortográfico de 1945)
Provas de que os usos e o tempo não se decretam. As vontades das convenções, nos consensos que se constroem, requerem a sensatez que também o tempo dá. E esta poderia bem começar por uma acção integrada que convergisse na divulgação arquitectada das mudanças: desde a edição ao ensino-aprendizagem, bem como à comunicação em massa.
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