Voltamos à sintaxe e de como não se pode transpor directamente etiquetas gramaticais antigas para a nova (já com bastantes anos, afinal) terminologia.
Q: Posso concluir que os antigos ‘complementos determinativos’ dão lugar a modificadores na nova terminologia gramatical?
R: Não há uma transposição directa entre as duas designações. Admitindo que, nas frases seguintes (1-5), o itálico correspondia a um complemento determinativo segundo a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1947, a terminologia contemplada no Dicionário Terminológico (2008) aponta para designações distintas, as quais figuram entre parêntesis (1’-5’):
Q: Posso concluir que os antigos ‘complementos determinativos’ dão lugar a modificadores na nova terminologia gramatical?
R: Não há uma transposição directa entre as duas designações. Admitindo que, nas frases seguintes (1-5), o itálico correspondia a um complemento determinativo segundo a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1947, a terminologia contemplada no Dicionário Terminológico (2008) aponta para designações distintas, as quais figuram entre parêntesis (1’-5’):
1) O pai do João comprou um carro novo.
(1’: ' do João' é complemento do nome [‘pai’ - nome de parentesco])
2) Para sobremesa, pedi bolo de chocolate.
(2’: 'de chocolate' é modificador restritivo)
3) A decisão do presidente foi contestada por todos os partidos políticos.
(3’: 'do presidente' é complemento do nome [‘decisão’ – nome derivado de verbo transitivo, seguido do agente da decisão])
4) A viagem de comboio foi uma experiência agradável.
(4’: 'de comboio' é modificador restritivo)
5) O professor de Português a) pediu muita atenção na construção do texto b).
(5a’: 'de Português' é modificador restritivo; 5b’: 'do texto' é complemento do nome [‘construção’ – nome derivado de verbo transitivo, seguido do tema da construção])
Na verdade, a configuração ‘de+N’ interna ao Grupo Nominal destacado corresponde a comportamentos sintácticos distintos: num caso, ‘de+N’ é um complemento requerido pelo núcleo nominal (‘pai’, em 1; ‘decisão’, em 3; ‘construção’, em 5b); noutro caso, trata-se de um modificador, pois o núcleo nominal (‘bolo’, em 2; ‘viagem’, em 4; ‘professor’, em 5a) não pede, na sua estrutura argumental, nenhuma forma de complementação .
Tipicamente, os nomes que pedem complementos (podendo estes últimos estar ou não realizados nas frases, à semelhança do que acontece com os complementos dos verbos) são os seguintes:
- nomes formados a partir de verbos transitivos (se o verbo transitivo de base tem uma estrutura argumental que requer complementos, o nome que deriva desse verbo admite a mesma propriedade, solicitando o agente, tema, possuidor associado ao nome – caso de ‘decisão’ <Alguém DECIDIR Algo>, por exemplo);
- nomes de parentesco (caso de ‘pai’, ‘filho’, ‘irmão’,...);
- nomes icónicos ou pictóricos (caso de 'fotografia', 'imagem', 'retrato', 'pintura',...);
- nomes associados a modalidades epistémicas (caso de 'hipótese', 'ideia', 'dúvida', 'certeza') ou deônticas ('obrigação', 'necessidade', 'dever', 'permissão');
- nomes relacionados com adjectivos simétricos (caso de 'diferença' / 'semelhança' [formados a partir de 'diferente / semelhante']);
- nomes com sentido colectivo parafraseáveis com o verbo ‘ter’ (caso de 'vizinhança' [formado a partir da sequência parafrásica 'X tem vizinhos']).
Nenhum destes casos é o de 'bolo', 'viagem' ou ' professor', razão pela qual estes últimos estão seguidos de um modificador que lhes restringe a referência (modificador restritivo).
A este propósito, confronte-se a Gramática da Língua Portuguesa, coordenada por Maria Helena Mira Mateus (2003: 330-344 e 376-383).
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