Pessoa a abrir, num projeto Atlântico,... sinais para uma dimensão nova do "Império".
Relembrei uma aula, feita de múltiplas vozes, poesia, som e Pessoa.
Dulce Pontes na interpretação musicada do poema "O Infante" (Fernando Pessoa)
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a Terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa ([1934] 2004), in Mensagem
(Mar Português), 4ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim
Num poema de evidente progressão na leitura de um império decaído (o material, o sensível, o consciente), é interessante ver como uma voz portuguesa, em terras do Brasil, consegue fazer cumprir um novo sentido de Portugal, o de que "nos deu sinal". Daí o refrão identificar-se com a segunda estrofe: a que apresenta a imagem da conquista e da evolução (orla branca > ilha > continente > fim do mundo > terra inteira).
O regresso à segunda estrofe de Pessoa é como que uma resposta a "Senhor, falta cumprir-se Portugal!". Do sentido expressivo direto ao apelo (diretivo) indireto, compõe-se a vontade de um fazer ('Faça-se cumprir') para um império inteligível, essencial, espiritual, cultural - sem tempo, sem espaço, imaterial, mas sobrevivente pelo que faz unir os povos (a língua e a cultura).
E chamou-se a isto, a esta troca de artistas entre Portugal e Brasil, "Projecto Atlântico" - o oceano, o mar baptismal do "Quinto Império".
E chamou-se a isto, a esta troca de artistas entre Portugal e Brasil, "Projecto Atlântico" - o oceano, o mar baptismal do "Quinto Império".
Entre euforias e disforias, há um toque de alma que algumas vozes fazem elevar até esse inteligível a que Pessoa aspirou e do qual "nos deu sinal".
Deus quer, o homem sonha e a obra nasce!!!
ResponderEliminarEstamos aqui vendo as obras nascidas, eu, voce e a poesia de Pessoa! Um Abraço Ademar!!!