Ora, agora, vamos à Morfologia (literalmente o estudo das formas).
Parece que alguém precisa de entrar nas "urgências". Felizmente, não é caso hospitalar.
Q: Neste momento, precisávamos de ajuda urgente relativamente ao processo de formação de palavras.
1.desalinhar-des+alinh+a+r
2. desgrenhada-des+grenh+a+da
3. envelhecido-en+velh+e+cido
4. inundação-inund+a+ção
É PARASSINTETISMO?
2. desalinhar,desgrenhada,envelhecido e inundação é parassintetismo ou infixação acompanhada de sufixação?
3. impossibilidade é uma palavra derivada só por prefixação?
ES X EAR (ex.: ESverdEAR)
ES X EJAR (ex.: ESbracEJAR)
A X ECER (ex.: ApodrECER)
A X AR (ex.: ApadrinhAR)
EN X ECER (ex.: ENdoidECER)
ES X ECER (ex.: ESclarECER)
EN X AR (ex.: ENgordAR)
A X IZAR (ex.: AterrorIZAR)
EN X IZAR (ex.: ENcolerIZAR)
Q: Neste momento, precisávamos de ajuda urgente relativamente ao processo de formação de palavras.
1.desalinhar-des+alinh+a+r
2. desgrenhada-des+grenh+a+da
3. envelhecido-en+velh+e+cido
4. inundação-inund+a+ção
É PARASSINTETISMO?
2. desalinhar,desgrenhada,envelhecido e inundação é parassintetismo ou infixação acompanhada de sufixação?
3. impossibilidade é uma palavra derivada só por prefixação?
R: Começo por referir que o processo de parassíntese aparece contemplado nos estudos morfológicos como um mecanismo de formação de palavras caracterizado pelo seguinte: acrescento de prefixo e sufixo simultâneos a uma base. Trata-se, no fundo, da junção de um só operador morfológico formalmente descontínuo (operador = prefixo + sufixo). Ocorre, genérica e praticamente, na formação de verbos a partir de nomes ou adjectivos e configura-se numa base (X) acompanhada de prefixos e sufixos simultâneos:
ES X EAR (ex.: ESverdEAR)
ES X EJAR (ex.: ESbracEJAR)
A X ECER (ex.: ApodrECER)
A X AR (ex.: ApadrinhAR)
EN X ECER (ex.: ENdoidECER)
ES X ECER (ex.: ESclarECER)
EN X AR (ex.: ENgordAR)
A X IZAR (ex.: AterrorIZAR)
EN X IZAR (ex.: ENcolerIZAR)
Nenhum dos exemplos dados existe exclusivamente na forma prefixada ou sufixada; é na simultaneidade de aplicação dos afixos que a nova palavra surge. Daí a parassíntese.
Assim, dos exemplos questionados, o ‘envelhecido’ é representativo deste processo, num percurso inicial de formação: a partir do radical ‘velh-‘ forma-se o verbo ENVELHECER; entretanto, da base ‘envelhecer’ forma-se, por sufixação sucessiva, ‘envelhecido’.
Em ‘desalinhar’, está envolvida, num primeiro nível, a parassíntese: a partir do radical ‘linh-‘, forma-se a palavra ALINHAR; num segundo nível, a partir da palavra-base ‘alinhar’ (derivante) constrói-se, por prefixação, a derivada ‘DESalinhar’.
O exemplo ‘desgrenhada’ (des+grenh+a+da) admite já por si a forma sufixada (grenhADO > cabelo grenhado) formada a partir da palavra-base derivante (grenha); depois, ocorre a prefixação (DES-) numa base que já é por si sufixada (com a sucessividade de afixos no final: [-a] + [-do]).
Para ‘inundação’, a nossa consciência sincrónica admitiria que, à lógica de muitos verbos que derivam em nome com o sufixo '-ção', a considerássemos palavra derivada do verbo ‘inundar’ (com o radical ‘inund-', ao qual se acrescentaria a vogal temática do verbo da primeira conjugação ‘inundA’ e, por fim, o sufixo ‘-ÇÃO’, com o significado de resultado ou acção de V – inundA+ÇÃO). Todavia, a consulta de um dicionário etimológico propõe como entrada do termo, na língua portuguesa, a forma latina 'inundatiōne-'. Mais do que questão morfológica, a explicação do termo assenta mais em processos de alteração (evolução) fonética da própria palavra base.
Relativamente a ‘impossibilidade’, há vários processos de análise a considerar. Sem qualquer outro tipo de indicação, e numa perspectiva sincrónica da língua, dir-se-ia também que seria formada a partir de ‘possível’. Um primeiro problema surgiria com a questão ortográfica e alguma divergência entre 'possível' e 'possibilidade' (lat: possibĭle). Por análise diacrónica, a obter pela consulta de um dicionário etimológico, reconhecer-se-ia o facto de que está estabelecida a entrada da palavra latina ‘possibilitāte-’, bem como ‘impossibilitāte-’. Tal significa que não há lugar para a consideração de formação de palavra propriamente dita, sendo estas últimas assumidas como palavras-base desde logo, assim introduzidas no Português por via do Latim e com os naturais processos de evolução fonética (como é o caso da sonorização da oclusiva [t] em contexto intervocálico).
De qualquer forma, na demonstração de processos e na perspectiva sincrónica já referida, a descrição dos processos de formação terá sempre a ver com uma palavra-base (a derivante) facultada aos alunos: se for pedido que se descreva o processo implicado na passagem de ‘possibilidade’ para ‘impossibilidade’, certamente que estes responderão tratar-se de derivação por prefixação e não se verá nisso mal maior, pela produtividade associada ao prefixo de negação.
Por tudo isto é que, ao abordar nas aulas a questão da formação de palavras, sinto que é melhor seleccionar bem os exemplos e andar sempre com um bom dicionário à mão / ao lado. Há muitas aparências que iludem.
Olá, Vítor, pois parece-me que vais encher depressa a carruagem e até o comboio. Que está a chegar na hora certa. Já o mostrei aqui na escola onde estou. Felicidades e abraço, Vilas-Boas.
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