Voltamos à complexidade da formação de palavras.
Q: Como considerar a formação da palavra 'perfuração' - um caso de derivação por prefixação e sufixação?
R: Desmontando a palavra nos seus constituintes, a base é o verbo 'perfura(r)' ao qual, depois de retirado o afixo verbal do infinitivo, se acrescenta o sufixo '-ção'. Consultando um dicionário, concluir-se-á que a forma latina 'perforāre' é a que está na base da entrada no léxico português. 'Perfurar' pode ser, assim, entendida como a palavra-base. Creio não haver sistematicidade e /ou frequência na utilização do prefixo 'per-', na língua portuguesa, para se proceder à formação de novas palavras e poder entender ainda a base 'furar' como estando na origem de 'perfuração' (atendendo ao facto de 'percorrer' ser palavra que tem origem na forma latina 'percorrĕre'; 'pernoitar', em 'pernoctāre'; 'perdurar', em 'perdurāre'; 'permutar', em 'permutāre', entre vários outros casos que contemplam 'per-' como constituinte já incluído na forma latina que evolui para o português). De qualquer forma, a considerar este último cenário, na linha da consciência sincrónica que mantém alguma rede significativa entre 'perfurar' e 'furar', tratar-se-ia de uma outra fase de sequencialização na formação, conforme se lê nos passos seguintes:
1. furar > perfurar (derivação por prefixação);
2. perfura(r) > perfuração (derivação por sufixação).
Ou seja, não é 'furar' que dá origem ao nome 'perfuração'; este deriva do verbo 'perfurar', pelo que é a este nível (2) que devem ser considerados os constituintes morfológicos; outros terão de ser equacionados a um nível de processualidade morfológica diferente.
De novo o conselho: utilizar um bom dicionário, quando se trabalha formação de palavras; considerar esta última como podendo contemplar etapas ou níveis sequenciais de formação distintos.
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