segunda-feira, 16 de março de 2009

Novo desafio linguístico (... mais complementar)

     Esta é uma questão complementar à da relação 'complemento determinativo-modificador' que foi objecto de tratamento no dia 14. A conversa é como as cerejas (quando se começa a comer...).
    
    Q: E com o atributo, já se pode dizer que é sempre substituído por modificador (restritivo)?


  R: Também não há linearidade na transposição das terminologias (a da Nomenclatura Gramatical Portuguesa e a do Dicionário Terminológico). Aliás, considerando a resposta dada anteontem sobre a relação não linear entre ‘complemento determinativo – modificador’, retomo um exemplo (o 3) para concluir o seguinte: 
    1 – a frase ‘A decisão do presidente foi contestada por todos os partidos políticos’ pode ser transformada da seguinte forma: ‘A decisão presidencial foi contestada por todos os partidos políticos’;
   2- a substituição da sequência ‘de+N’ pelo adjectivo ‘presidencial’, além de poder ser tomada como sinónima, corresponde à manutenção da função sintáctica independentemente das configurações sintagmáticas serem ‘de+N’ ou ‘Adj’ (‘presidencial’ funciona como complemento do nome, pelas mesmas razões enunciadas na resposta já mencionada [‘decisão’ – nome derivado de verbo transitivo, seguido do agente da decisão]).
    Aparece, assim, um exemplo de como o adjectivo (a funcionar como atributo, na nomenclatura tradicional) assume a função sintáctica de complemento do nome.
  Nesta mesma linha de argumentação, os adjectivos abaixo considerados podem funcionar como complementos do nome ‘eleição’, ‘aquecimento’, ‘proposta’ (todos nomes derivados de verbo transitivo ou com realização transitiva):
     a) “eleição presidencial(‘presidencial’ tomado como tema: alguém elegeu o presidente);
     b) “aquecimento solar(‘solar’ é a fonte / origem: o sol aquece qualquer coisa);
     c) “proposta estudantil(‘estudantil’ é o agente: os estudantes fizeram uma proposta).

     O mesmo já não sucede, por exemplo, com as sequências seguintes:

       d) “paisagem fabulosa
     e) “crise económica
     f) “comida deliciosa
     g) “vinho branco
     h) “imposto municipal

    Os nomes que antecedem os adjectivos não são derivados de verbos transitivos nem pertencem ao grupo daqueles que apresentam uma estrutura argumental que requer complementação (confronte, de novo, a resposta de anteontem); os adjectivos restringem a referência desse nome (por razões de qualificação, de classificação ou relação). Antigos atributos que funcionam como modificadores (restritivos).

   De novo impõe-se o trabalho da sintaxe numa interface com a semântica e até a morfologia - exemplo de uma gramática de corpo inteiro, para que a língua não resulte mutilada.

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