De tão anunciada ao longo da semana, não custava (nada) acreditar na vitória.
É um facto que o festival nacional da canção já levou à Eurovisão cantigas que não me disseram nada, mas também é verdade que já tivemos belíssimos exemplos que ficaram muito aquém das expectativas. E não foi apenas um. Vários casos podiam ser aqui mencionados (Simone de Oliveira, Duarte Mendes, Maria Guinot, Sara Tavares, Dulce Pontes, Rita Guerra).
Há quem diga que são motivações políticas que estão por trás do apoio aos vencedores - não creio que tenha sido o caso este ano. Outros apontam razões económicas - também aqui não está o nosso ponto forte. Alianças ou identidades culturais haverá, por certo, entre os países que se fazem representar num festival que se diz europeu e já lá conta com a Austrália (grande redefinição continental)! Nas aproximações e nos afastamentos, Portugal recebeu pontuações máximas entre aliados históricos e amigos mais recentes. No centro de tudo, há uma belíssima composição, na letra e na música. Quanto à interpretação, por mais que se fale na teatralização e nas particularidades expressivas do cantor, está em causa a sensibilidade de quem canta e interpreta, por mais caricato que possa parecer; um modo de sentir uma letra e uma melodia que têm tudo para ouvir e seduzir, ao estilo de um jazz de versatilidade vocal e harmonias românticas simples, matizadas com sonoridades tão diversas quanto o choro do fado, o embalo da bossa nova, mais a esperança e a vontade que o jazz traz ao que possa ser "blue".
Os prémios extra-concurso (Marcel Bezençon Awards, pela interpretação de Salvador Sobral e pela composição musical de Luísa Sobral) eram um indício de um final feliz, há pouco reafirmado: Portugal vence o Eurofestival com os irmãos Sobral, depois de 53 anos de participação no certame.
Foi assim que tudo começou (tão simples, genuíno, sensível, melodioso) e muito deve ser assim lembrado, por mais brilho, palmas, sucesso ou público que tenham sido ou venham a ser conquistados:
Participação no Festival da Canção 2017, na RTP1 - Salvador Sobral
AMAR PELOS DOIS
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender
Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois
Talento de irmãos, formação musical, sonoridades bem combinadas a despertar a emoção foram ingredientes essenciais para a(s) vitória(s). Em Português.
Uma música pela música. Uma vitória que faz sentido, E a canção é linda! É balada que os irmãos Sobral souberam muito bem criar e pôr muita gente a cantar. Com orgulho, também.
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