É o que faz deparar com uma pintura que retrata uma delas.
Imagem no Santuário da Nossa Senhora da Nazaré (foto VO)
Refiro-me a uma tela setecentista, assinada por Luís de Almeida, que se encontra no San- tuário do Sítio ou na mais conhecida Igreja da Nossa Senhora da Nazaré. A imagem repre- senta a Lenda da Nazaré, narrativa que lembra um episódio de caça protagonizado por D. Fuas Roupinho (Fernão Gonçalves Chuchirrão), com- panheiro de armas e de lutas nos tempos de D. Afonso Henriques.
Conta-se que ao amanhecer de 14 de setembro de 1182, o então alcaide do castelo de Porto de Mós caçava junto ao litoral, na proxi- midade das suas propriedades. Ao avistar um veado, começou a persegui-lo. Um denso nevoeiro que se levantara do mar impediu-o de ver como era conduzido para o cimo de uma falésia. Aí, junto a um precipício, reconheceu uma gruta onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora com o Menino. Em aflitiva prece, rogou à Santa que lhe valesse. Milagrosamente, o cavalo estacou, firmando as patas traseiras numa rocha suspensa sobre o vazio - o Bico do Milagre. Salvos o cavaleiro e a sua montada, de uma morte certa numa queda de mais de cem metros, foram chamados pedreiros para erguerem uma pequena capela sobre a gruta, como registo de memória do milagre - a Capela da Memória.
Diz-se ainda que durante os preparativos da construção, entre as pedras lá existentes, foi encontrado um cofre em marfim com algumas relíquias e um pergaminho. Neste se identificavam as relíquias como pertencentes a S. Brás e S. Bartolomeu e se relatava a história da pequena escultura policromada, esculpida em madeira, que no local muita gente venerava: a Virgem Maria, sentada, a amamentar o Menino Jesus, também ele sentado na perna esquerda da mãe. Enquanto a imagem venerada desde os primeiros tempos do Cristianismo em Nazaré, na Galileia (terra natal de Maria), o pergaminho conta também que ela terá chegado a Mérida pelas mãos de um monge grego e, no contexto das lutas entre Muçulmanos e Cristãos, o rei D. Rodrigo tê-la-á trazido para a região do litoral atlântico aquando de uma das suas derrotas.
E com esta história me fico, não pela popularidade da devoção nem pelos mistérios do pergaminho, mas pela memória de uma pausa de carnaval que me levou até Nazaré (não da Galileia, mas deste cantinho ocidental à beira-mar plantado).
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