terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tudo a dobrar

    A questão decorre de uma dúvida levantada por uma posição extremada na escrita de uma palavra pouco comum, mas já com algum uso.

     Este é um dos casos que o uso vai já impondo alterações. Provas de que a língua está viva.

    Q: A palavra 'duplex' leva acento no 'u'? Disseram-me que essa é a forma correta de escrever a palavra.

      R: Na verdade, sempre encarei a escrita "duplex" como correta. Instalada a dúvida, pesquisei em alguns dicionários e acabei por chegar à conclusão de que ambas as formas, acentuada e não acentuada, são aceitáveis. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, regista as duas formas (dúplex e duplex), o mesmo acontecendo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Igual situação pode ser ainda encontrada no Vocabulário Ortográfico do Português (ILTEC).
    Uma nota, contudo, deve ser tida em consideração: o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa não deixa de registar que 'duplex' é a forma mais usada, mas não a preferida por outros dicionários. Estes seguem a versão acentuada, numa fidelidade à origem etimológica do termo latino (duplex, ĭcis), com o significado de "duplo, dobro, dobrado" e com a sílaba [du] mais longa / intensa do que [plĭ].
      Estamos, portanto, perante mais um caso de alguma deriva na língua portuguesa, à semelhança do que já acontece com outras palavras que apresentam oscilação de pronúncia (Oceania / Oceânia, pudico / púdico, tulipa / túlipa) e entradas dicionarizadas com ambas as formas.
      Para a tendência do uso 'duplex' não será certamente estranha a vulgarização / frequência em função da forma reintroduzida e emprestada do inglês, também grafada sem acento:


     Ora, a tendência da pronúncia estará para assumir a palavra mais como aguda do que grave; daí o 'duplex'. Quem quiser ser mais etimológico que vá pelo 'plex' e pela respetiva fonética - no mínimo incomum pela sonoridade de palavra grave. Em qualquer dos casos (o do uso, o da etimologia), haverá sempre razão para a constatação da língua viva, em constante evolução.
    

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