sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Que caneco!

    Também podia ser caneca, mas, no caso da expressão idiomática, prefere-se a versão masculina.

   É pelo menos assim quando alguém depara com algo inesperado ou indesejável. Quando de uma caneca se trata e nela se estampa um valente erro ortográfico, é mesmo caso para dizer "Que caneco!"

Está negativo! Está mesmo negro! É o caneco! 
(foto partilhada pela MPM, com o agradecimento devido)

    Cedilhar um 'c' acompanhado à direita por 'e' ou 'i' nem ao diabo lembra (também este último é frequentemente tratado, no Brasil e de modo informal, por 'Caneco'). É o sinal da invulgaridade, do estranho, do desequilíbrio, da disformidade. Na escrita, então, o diabo anda à solta, com cedilhas indevidas em muitas palavras. Paciência é uma delas.
     Não há pachorra! Só faltava comprarem a caneca como prenda de natal e oferecerem-ma. Acho que a ia deixar cair logo a seguir.

      Não há PACIÊNCIA! Tenho dito e bem escrito.

domingo, 16 de novembro de 2025

Um bom exemplo

     Assim gosto! Com acento e tudo.

     É tão mais comum a ausência de acento, a fazer com que a palavra seja mal pronunciada, que acaba por ser fantástico o reencontro com a boa grafia:

As qualidades do dióspiro acompanhadas da qualidade da escrita 
(na publicidade da Quinta do Pôpa - colhida do Facebook).

     Assim sendo, vou comer um dióspiro como sobremesa. É tempo deles e a satisfação de o(s) ver bem escrito(s) abriu-me o apetite. Acresce o facto de ter múltiplas vantagens para a saúde.

     Aqueles que ficam a olhar para mim incrédulos sempre que digo 'dióspiro' (com a sílaba acentuada reforçada) podem, agora, acreditar que não é mania minha?

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

São Martinho, com castanhas, sem vinho

       Não foi no dia (a 11 / 11), mas é como se fosse.

     Um dia depois, as castanhas de São Martinho chegaram-me generosamente à mão, em saquinho funcional e motivadamente decorado, bem como ao paladar, entre o faminto e o sedento.
      Nem dei conta do santo. Foi-me anunciado, é certo, mas, na azáfama do dia, ele não me valeu, com o seu manto de aconchego e conforto. Ainda assim, há quem não se esqueça de mim e me traga o "mimo" da tradição, lembrando o magusto.
       Fico-me pelo comer.

Um saquinho de castanhas que valeu pelo santo esquecido, na voragem do dia 
(Fotografia VO)

       Do vinho, nem vê-lo! É como o verão: nos dias outoniços de chuva e da depressão Cláudia recentemente chegada a Portugal, lá se vai o provérbio que ditava "Verão de São Martinho são três dias e mais um bocadinho." 

      Sim, ditava. Neste ano, nem um bocadinho, quanto mais três dias! Grato pelas castanhas que alimentaram a alma e, por momentos, fizeram esquecer as agruras do dia. (Com agradecimento à SF).

sábado, 8 de novembro de 2025

Diminuir não é acrescentar

     Isto de colocar um 's' onde ele não existe é, no mínimo, crítico.

   Numa consciência sincrónica de procedimentos morfológicos na língua, é verdade que a negação, a inversão e/ou o contrário do que uma palavra significa se conseguem, frequentemente, com o prefixo 'des-' (alento > desalento; alinhar > desalinhar; amparo > desamparo; atento > desatento; aparecer > desaparecer; atenção > desatenção; calçar > descalçar; construção > desconstrução; crer > descrer; culpar > desculpar; dizer > desdizer; enterrar > desenterrar; encanto > desencanto; entupir > desentupir; fazer > desfazer; instalar > desinstalar; ligar > desligar; necessário > desnecessário; preocupar > despreocupar; provido > desprovido; tratar > destratar; viver > desviver), seja na formação de nomes, verbos ou adjetivos.
    O mesmo não sucede com algumas outras palavras, não obstante o uso destas em rodapé ou legenda televisivos:

Estas legendas andam uma negação completa... na língua (agradecimento à MPM, pela atenção)

    Por certo algo diminui (progressivamente); é o inverso ou o contrário de 'crescer', mas não se constrói, na verdade, com o prefixo 'des-'. Enquanto antónimo de 'crescer', 'decrescer' requer uma abordagem que não pode escapar à história da língua e à noção etimológica do termo: remonta ao latim 'decrescere', que significa "crescer menos, diminuir." Nele há um prefixo latino ('de-'), que indica "afastamento", cuja consciência corrente não está na mesma linha da consciência morfológica sincrónica.
   Neste sentido, é mais por via etimológica ou da história da língua que 'decrescer, decrescendo, decrescido, decrescente, decrescimento' se explicam; complementarmente, o conceito morfológico da família de palavras, neste caso em intersecção com a etimologia, é o que pode ser convocado para que não surjam, na escrita, erros como o assinalado na imagem.
    Enquanto afixo dos mais produtivos no português contemporâneo, “des-” convoca inevitavelmente, para o seu estudo, uma plataforma entre morfologia e etimologia, num entrecruzamento de diversos estádios da língua (com semelhanças formais e semânticas, entre ambos os afixos), na senda do que se prefigura como prefixo neolatino (“des-”) em interseção com alguns elementos formativos de origem latina ('de-', 'dis-' e 'ex').

     Se 'decrescente' se cruza com a 'descida' de algo, não se confundam as sílabas iniciais nem se misture a primeira com um prefixo que, podendo aparecer em muitas palavras portuguesas atuais, está historicamente distante de qualquer crescimento.