quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Quando nem tudo está dito ou feito

      Este é um bom exemplo do que não é uma notícia completa, na qual nem tudo é dito (sabe-se lá por que motivo).

      Hoje, lia-se numa notícia do jornal Público (página 7) o seguinte (leia-se a notícia):
   A subida da média dos alunos autopropostos (em cinco disciplinas) parece ser apontado como um sinal de estranheza, quase a significar que mais vale nem ser aluno interno. E a orientação argumentativa não anda muito longe disso quando, no segundo parágrafo do texto, se lê explicitamente o que cabe na designação de autoproposto: alunos externos que anularam a matrícula devido a excesso de faltas ou a falta de aproveitamento; alunos oriundos dos cursos profissionais.
      Pena é que este parágrafo não tenha sido mais desenvolvido, contemplando um exercício de pesquisa e de recolha de dados que reflectisse mais correcta e completamente esta tipologia de alunos. Na verdade, muitos outros cenários cabem aqui, mas admito que só quem trabalhe numa escola possa contemplá-los. 
     Não vou falar aqui de alunos que, frequentando o ensino particular ou privado, acabam por se autopropor a exame(s) em escolas oficiais públicas - aliás, esta distinção, para este caso, não é deveras relevante. Centro-me no contexto da escola pública, por si só, visando exemplificar várias situações que vão além do que se lê na notícia para "autopropostos".
      É o caso dos alunos que se inscrevem em exame depois de terem frequentado (como assistentes) todo um ano lectivo de aulas (trabalhando como se fossem internos), na esperança de verem melhorada uma prestação que não lhes permitia obter uma boa classificação pela média de dois /três anos numa disciplina - lembro-me de uma aluna que, no décimo ano, tinha um resultado suficiente numa disciplina; no décimo primeiro começou a revelar uma proficiência e um desempenho crescentes que a levaram a anular a matrícula no 12º, para conseguir uma nota superior em exame àquela que pudesse vir a obter com a média final da classificação interna e a de exame.
     É o caso dos que, tendo ficado com disciplinas por concluir, nelas se inscrevem como internos e acabam por assistir a todo um ano de aulas de outra(s) disciplina(s) e, depois, candidatam-se como externos ao exame desta(s) última(s), para melhoria de nota - mais uns casos conhecidos.
    É também o caso dos alunos que, com sucesso relativo, preferem esperar um ano na entrada para o ensino superior, investindo exclusivamente numa disciplina específica que lhes permita o acesso ao curso pretendido como primeira prioridade (e não de segunda escolha) na universidade. Isto para não falar daqueles que, já no superior, voltam aos bancos da sala de exame de 12º ano, para subir a média a uma disciplina que lhes permita redefinir o percurso ou fazer transferência no ensino superior - mais uns quantos casos. 
      Como acredito que estes três cenários conhecidos não sejam tão pontuais nem tão exclusivos da escola em que lecciono, não me espanto com o título "Média dos autopropostos foi superior à dos alunos (em cinco exames)". Admiro-me é que não seja dito tudo o que há a dizer. É que os autopropostos cada vez mais são alunos (a tempo inteiro) e, por vezes, bons, tentando atingir o patamar do muito bom. E, assim, as médias sobem, naturalmente. E ainda bem.

      Talvez assim a leitura fosse mais consistente e conclusiva, menos redutora e imperfeita. Quase apetece dizer que é mais um caso de uma notícia para "o povo ler" (e eu sou do povo; por isso, li).

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