Estas as palavras de quem fisicamente poucas vezes fez de viajante, com exceção desse percurso que o levou de Lisboa até Durban e o fez regressar à cidade que disse ser de Ulisses.
Deste dia já se fez nota neste blogue, por várias vezes.
O dia fecha o mês e, há setenta e seis anos, assistiu ao fim de uma vida (ou várias, para alguém que dizia que não sabia quantas almas tinha).
No drama de gente que representou e nas palavras de Bernardo Soares, foi a "cena viva onde passam vários actores representando várias peças". Aí fez muitas viagens, sempre na procura da ideia, do ideal, da verdade suprema que o libertava, que o fazia sentir-se um aspirante, solto face a um mundo real, sensível que o limitava, o enleava.
Nascido no dia de Santo António (que fora Fernando de Bolhões) e no ano em que Eça de Queirós via publicado o romance Os Maias, Fernando António Pessoa Nogueira viajou para lá desta vida ao fim de quarenta e sete anos.
Tornou-nos herdeiros de uma obra imensa, na qualidade e na quantidade; no conhecido e no desconhecido. Foi articulista, ensaísta, poeta, dramaturgo, publicitário, homem de sensibilidade múltipla, interventiva e comprometida com o avanço cultural de um país, capaz de dar sinais de modernidade, de fragmentação e desassossego naquilo que ainda era pautado pela tradição.
"Minha pátria é a língua portuguesa", dizia, no que de mais inteligível e espiritual isso possa representar.
"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem."
Livro do desassossego, de Bernardo Soares
(semi-heterónimo de Pessoa)
(semi-heterónimo de Pessoa)
Cumpriu-se a etapa de uma viagem, aquela que se vê sempre repetida com a descoberta dos percursos pessoanos (re)construidos aos olhos de novos leitores.
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