Por altura dos 25 anos da sua morte, fica o registo de uma música, de uma voz, de um tempo que se impõe relembrar.
Os tempos não andam fáceis.
A descrença é evidente; o desalento impõe-se; os sinais de revolta,... latentes.
E, assim, as palavras de Zeca Afonso e o seu sentido de intervenção se revelam inspiradores, atuais, reinventados com o significado vivo do que são as lembranças de um tempo de larga e crescente preocupação, insatisfação, injustiça, perseguição, condicionamento e vontade de mudança.
Vieram cedo
Mortos de cansaçoAdeus amigos
Não voltamos cá
O mar é tão grande
E o mundo é tão largo
Maria Bonita
Onde vamos morar
Na barcarola
Canta a Marujada
- O mar que eu vi
Não é como o de lá
E a roda do leme
E a proa molhada
Maria Bonita
Onde vamos parar
Nem uma nuvem
Sobre a maré cheia
O sete-estrelo
Sabe bem onde ir
E a velha teimava
E a velha dizia
Maria Bonita
Onde vamos cair
À beira de àgua
Me criei um dia
- Remos e velas
Lá deixei a arder
Ao sol e ao vento
Na areia da praia
Maria Bonita
Onde vamos viver
Ganho a camisa
Tenho uma fortuna
Em terra alheia
Sei onde ficar
Eu sou como o vento
Que foi e não veio
Maria Bonita
Onde vamos morar
Sino de bronze
Lá na minha aldeia
Toca por mim
Que estou para abalar
E a fala da velha
Da velha matreira
Maria Bonita
Onde vamos penar
Vinham de longe
Todos o sabiam
Não se importavam
Quem os vinha ver
E a velha teimava
E a velha dizia
Maria Bonita
Onde vamos morrer
De tudo isto se compõe o presente, num ritmo cíclico de eterno retorno ao que não se quer (ver) repetido.
Num incómodo 23 de fevereiro de 1987, uma voz passou a habitar a memória dos que a recuperam neste momento em que há notas (tão dissonantes) para uma nova "Canção do Desterro".
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