sábado, 8 de setembro de 2012

Serviço público em canal privado

    Mais uma sexta à noite com tourada na RTP1.

    Continua o serviço público (?!) só para alguns, em número mais do que reduzido. Entre a festa de uns, o esforço de outros, mais a dor e o sangue de um animal, comprazem-se os espectadores no círculo à volta da arena, mais todos os que promovem o "grande" espetáculo.
   Talvez não seja menos atroz o que se vê noutros canais televisivos, mas no caso da série 'Pilares da Terra' (2010), no AXN, para lá da natureza ficcional, fica sempre a representação de uma época (nos seus hábitos, na mentalidade, nas cores, nos cenários e ambientes, nos perfis, nos ideais...) feita de conflitos de poder, de guerras, influências religiosas.
    A série é baseada no romance homó-nimo de Ken Follett, publicado em 1989 e dominado por um registo épico-histórico. A ação localiza-se no contexto histórico da Inglaterra do século XII (período normando), logo após o reinado de Henry I. À morte deste por envenenamento (1135), e depois de o filho varão ter sofrido um naufrágio, resta a filha Matilde (Maud) para suceder ao trono. Todavia, uma forte componente da nobreza prefere Stephen (filho do duque da Normandia, Robert, e descendente direto no direito sucessório pela linha dinástica com origem em William I, o Normando).
    Num clima bélico, de desordem e empobrecimento progressivos, assiste-se aos recuos e avanços no sucesso de ambos os pretendentes; aos ganhos e perdas dos que, na corte, os apoiavam e/ou procuravam deles obter bons ofícios; aos sonhos e pesadelos vividos pelos que, distantes deste jogo de interesses políticos, sobreviviam a um ambiente de fanatismo religioso, de adversidade a vários níveis e de forte insegurança. Entre eles, há um homem que sonha construir uma catedral, diferente do que eram os conventos e edifícios-fortaleza. Era o sonho da exaltação da luz, da elevação esguia de colunas, do colorido dos vitrais, do recurso aos arcos quebrados. Um sonho que ultrapassa o homem e o tempo, como a série o prova pelo enredo.


    A produção, para televisão, é assinada, em qualidade, pelos irmãos Ridley e Tony Scott, contando com a participação de um elenco de atores e atrizes numeroso, dos mais conceituados a outros menos conhecidos do público: desde Ian McSahne (o ambicioso bispo Deadwood), Donald Surtherland (primeiro conde de Shiring) e Rufus Sewell (Tom Builder) a Hayley Atwell (a jovem Aliena) e Eddie Redmayne (o misterioso Jack Jackson, o virtuoso seguidor de Tom Builder).

    Era bom, quando se lembrassem de discutir o que é serviço público, ter em conta exemplos de séries como esta, para que haja menos "touradas" e mais hipóteses de se ganhar luz e conhecimento.

2 comentários:

  1. E, meu caro Vítor,

    Acresce ao que já foi o dito o facto de “estes pilares”, num plural sugestivo de múltiplas leituras, serem viciantes.

    Há umas semanitas atrás, falaste-me da série, que comecei a ver, apesar de já ter falhado alguns episódios! E prontos, como se diz cá pelo Porto, fiquei “agarrada”!

    Para mim, esta dependência só é mesmo comparável à do meu japonês, Haruki Murakami, cujo “SputniK, meu amor”, tenho de lado para começar a ler no fim de semana (espero ter tempo!).

    beijinho
    IA

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    1. Dependências destas fazem bem à alma.
      Excelente série.
      Pena que esteja a terminar.
      Beijinho.

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