Não, não é a questão entre nortenhos e sulistas. É formação de palavras.
De facto, a formação de palavras não é matéria fácil, ao contrário do que muitos julgam pensar. E eu continuo a dizer que é preciso bem selecionar (os exemplos) para o assunto (melhor) tratar.
Tudo isto por causa da questão acabadinha de chegar (isto está a ficar com muita rima):
Tudo isto por causa da questão acabadinha de chegar (isto está a ficar com muita rima):
Q: Gostava de saber a tua opinião sobre a formação da palavra 'norte-americano'. É um caso de composição ou de derivação? A mim, parece-me um composto morfossintático, mas faz sentido que seja uma palavra derivada, também. Diz-me qualquer coisa, por favor. Obrigada.
R: A dúvida é pertinente e o caso / exemplo não é dos mais fáceis. Por isso, vamos por partes.
Primeiro, é evidente a consciência de 'norte-americano' como um exemplo de composição, pela constituição do termo (composto) por duas bases ou palavras ('norte' + 'americano'). Contudo, não deixa de estar associado a este composto um processo derivacional típico da construção de adjetivos relacionais (no caso, os gentílicos ou pátrios).
Primeiro, é evidente a consciência de 'norte-americano' como um exemplo de composição, pela constituição do termo (composto) por duas bases ou palavras ('norte' + 'americano'). Contudo, não deixa de estar associado a este composto um processo derivacional típico da construção de adjetivos relacionais (no caso, os gentílicos ou pátrios).
A questão mais crítica, ainda assim, é a classificação quanto ao processo da composição. 'Norte-americano' - tal como 'sul-americano', 'norte / sul-africano', 'norte / sul-coreano' ou afins - evidencia um caso de composição morfológica. Tal explica-se por se estar perante um radical composto ([norte-americ-]) formado a partir de uma configuração básica que não é diretamente uma expressão sintática ('*Norte América'), mas. sim, indiretamente uma reconstrução (por reordenação) da sequência 'América do Norte'. O mesmo sucede com [sul-afric-] (< não *Sul África, mas África do Sul) ou [norte-core-] (< não *Norte Coreia, mas Coreia do Norte), todos a integrar também sufixos derivacionais.
Portanto, atendendo aos adjetivos relacionais 'norte-americano', 'sul-africano' ou 'norte-coreano', estes são obtidos por um processo de derivação sufixada adicionado a um composto morfológico (com radical composto) relacionado com um composto sintático reconfigurado ('América do Norte', 'África do sul' ou 'Coreia do Norte'), e deste último independente em termos formais. Resulta daqui a classificação do composto morfológico, conforme o propõe Alina Villalva no seu estudo Estruturas Morfológicas - Unidades e Hierarquias nas palavras do Português (cap. 6 - Estruturas de Composição, pp. 345-389).
Caso para dizer que se está perante um exemplo sintomático de relação entre composição e afixação, numa complexificação e ampliação das palavras (e sua recursividade na formação), numa integração de processos a que a língua não é seguramente estranha.
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