Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Avisa-se o leitor de que a imagem seguinte pode afetar algumas pessoas mais suscetíveis e/ou causar alguma incredulidade:
Imagem colhida a partir de http://geradormemes.com/meme/drk6hr
Partilho uma forma original, embora pouco convencional, de formular os votos de umas boas entradas e de um bom ano. É o que dá brincar com a metonímia e a homofonia.
A bem do riso, do cómico e da boa disposição que o novo ano possa trazer. Bom 2018!
Pelo que tenha de bom e pelo que faça lembrar do que não é / tem.
Repete-se um tempo que, entre a exceção e os excessos, pouco tem tido do muito que devia mais ser. Daí ser época a conjugar encantamento, magia e luz com tristeza, desilusão e perda. Assim persiste e resiste uma festividade que, no brilho, no regalo e no conforto, muito tem do lúrido real da pobreza, da solidão e do abandono. Entre o canto e o desencanto, o deus menino tudo isto espelha, tanto no nascimento como na morte.
Um presépio em Espinho, com os espinhos da vida (Composição fotográfica VO)
Esteve sempre nas mãos do Homem a hipótese de tudo ser diferente. Assim se manterá para futuro tal condição. Bom seria que neste Natal nascessem sinais da esperança, para que, cada vez mais, a luz permanentemente encandeasse o que de pior o mundo tem.
Ainda assim, como dizem a música de Assis Valente (desde 1933) e a voz de Bethânia (desde 2008, com o CD "Natal Bem Brasileiro") em toada do Brasil, "Anoiteceu".
Vídeo com a versão, cantada por Maria Bethânia, de "Boas Festas"
BOAS FESTAS
Anoiteceu, o Sino Gemeu
A Gente Ficou Feliz a Rezar
Papai Noel, Vê Se Você Tem
A Felicidade Pra Você Me Dar
Eu Pensei Que Todo Mundo
Fosse Filho De Papai Noel
Bem Assim Felicidade Eu Pensei
Que Fosse Uma Brincadeira De Papel
Já Faz Tempo Que Pedi
Mas o Meu Papai Noel Não Vem
Com Certeza Já Morreu Ou Então
Felicidade É Brinquedo Que Não Tem.
Com música, até parece que "Papai Noel" ainda vem (não da Lapónia, mas das terras de Vera Cruz).
Depois de tanto procurar, encontra-se o que não se quer e o que não podia ser melhor.
Procurando Caeiro, circulam pelas redes sociais e no mundo virtual materiais que tanto têm de bom como de péssimo. Já nem falo da ridícula questão de se assumir que Caeiro é um pastor ou camponês, quando se deve tomá-lo como bucólico e pensador, por mais que este, por princípio, procure recusar o pensamento abstrato (por isso, a todo o momento concretizado).
Pior ainda é dizer-se (e fazer-se ouvir) que recusa a metáfora. Se estivesse numa realização cinematográfica, diria "Corta!", para lembrar que "O rebanho é os meus pensamentos" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"), afinal, o que o torna um guardador de rebanhos (diga-se, pensador) ou alguém que tem a alma como a de um pastor (também eu, por vezes, tenho a alma como a de um santo, ainda que, realmente, esteja mais para pecador ou para diabo - isto de ser como ou ter como não é o mesmo que ser ou ter, por certo).
No fundo, mais metáfora não existe do que aquela que faz de Caeiro o mestre, o pensador, o centro da criação pessoana que, quando surge, é encarado como o resultado de um "dia triunfal" (segundo carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro).
Mais: afirmar que Caeiro não recorre ao adjetivo é não o ler, em toda uma produção literária que sublinha que "O que é preciso é ser-se natural e calmo" ou que "o poente é belo e é bela a noite" (inpoema XXI de "O Guardador de Rebanhos"); que "Sou diferente" (in "Dizes-me: tu és mais alguma cousa" de "Poemas Inconjuntos"); que "fecho os olhos quentes" e que "Sei a verdade e sou feliz" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"); que "Aquela senhora tem um piano / Que é agradável..." (in poema XI de "O Guardador de Rebanhos") - alguns versos apenas do heterónimo para contraditar o que nunca deveria ser dito / ouvido. Assim se revê a verdade de tanto material educativo, validado por tanto saber superior que a todo o momento cai. E bastava tão somente falar em "O Pastor amoroso" para duvidar da grande verdade! Quase apetece fazer uma tese com uma tipologia dos adjetivos a que Caeiro recorre, para sustentar, ainda mais, o que já aqui se assume nos sublinhados.
E, assim, cresce o pecador e o criminoso que há em mim: cortando o inútil e combinando o válido com o que é bem feito, chega-se a algo que pode ser visto e ouvido para conhecer melhor. Um material novo, a partir do já feito e que, a bem da verdade literária, tinha de ser expurgado do que não interessa para ninguém.
Como o objetivo não é obter lucro nem comercializar, fica um material para futuro (acompanhado de uma ficha de trabalho / um teste a propósito), sempre que Caeiro for para ensinar:
Composição de materiais relativos ao estudo de Caeiro, o Mestre pessoano
Imagens, pinturas, vídeos, versos, declamação (muito interessante de Pedro Lamares) - uma multiplicidade de suportes para fazer ver e ouvir o Mestre, que tanto adjetiva como metaforiza nessa intermediação que a língua (faz) representa(r) com o pensamento e com a realidade, por mais ou menos literário (ou poético) que seja.
E tudo isto é Caeiro na suposta simplicidade que o caracteriza, num tempo-natureza a todo o instante novo por mais cíclico e repetitivo que possa revelar-se.
A propósito de uma minissérie no canal público de televisão.
Estátua de Martinho Lutero frente à
Igreja de Nossa Senhora (Frauenkirche), Dresden
Foto-VO
Quando o rogo feito a Deus não é escutado (nem que seja por causa de um jogo de bola) ou quando os homens da igreja, a troco de indulgências, concedem o perdão, a fé surge necessariamente instrumentalizada. Resta a um homem caminhar no sentido da reforma da igreja, questionando-a e afastando-a das fraudes e dos logros criados. Foi o que Martinho Lutero fez.
A Reforma de Lutero, minissérie em dois episódios hoje transmitida pela RTP1, é uma produção alemã da UFA Fiction - ZDF a ilustrar bem o que há 500 anos (1517) fez um sacerdote agostiniano revolucionário com as suas 95 teses acerca das indulgências: conseguiu que a poderosa Igreja Católica fosse abalada pelo movimento protestante do início do século XVI.
Do título original 'Reformation' e com a realização de Uwe Janson, a estreia televisiva denuncia como a máxima 'Quando o dinheiro cai na caixa, a alma voa para o Céu' se tornou na maior das contribuições dos fiéis para uma instituição que se afastava em muito do espírito cristão que a funda(menta)ra. A fé e a crença de um homem marcaram a diferença, na oposição aos dogmas da igreja a que pertencia; em favor da verdade, da piedade e da misericórdia para todos (nomeadamente na língua que dominavam e não no latim que desconheciam). Afinal de contas, ler permite construir o conhecimento que só alguns controlavam - logo, nada como traduzir as fontes para a língua que todos entendam.
Trailer promocional da série, transmitida pela RTP1
Martinho Lutero (interpretado por Maximilian Brückner) é o professor de Teologia que, na Universidade de Wittenberg e no início do século XVI, assina escritos contra a venda de indulgências, consciencializando os crentes de que nenhum homem deve pagar ou comprar a sua liberdade. Numa primeira conferência de Teologia em alemão, permitiu o acesso direto e generalizado à palavra de Deus, ultrapassando-se o espaço reservado apenas a quem sabia latim. Conquistada a população, enfurecido o Arcebispo, Lutero recebeu uma bula papal que o obrigava a retratar-se com as suas teses, sob pena de excomunhão.
O jogo agora era outro; a bola estava do lado do poder institucional e de um homem - o Papa - que, para Lutero, valia tanto como um porqueiro. Deus continuava a não parecer ouvir o rogo do seu 'pastor'. Daqui à destruição da bula e à afirmação de que "há uma Igreja falsa e uma Igreja real", Lutero faz o caminho, perante o Arcebispo, o Imperador e os príncipes alemães, que o levará a reafirmar as suas teses, a traduzir a Bíblia e a implantar uma nova igreja no seu país.
Para a semana há mais (o segundo episódio), para conhecer melhor um dos religiosos mais influentes na reforma da igreja católica na Europa.
Já que o estudam, bem que os alunos podem receber a referência sobre esse criador de poetas: há 82 anos morreu aquele que agora estudam. Não foram, por certo, para eles estas palavras; porém, a quadra revela-se algo premonitória:
Morto, hei-de estar ao teu lado
Sem o sentir nem saber...
Mesmo assim, isso me basta
P'ra ver um bem em morrer.
in Quadras, Lisboa, ed. Assírio Alvim, 2002, pág. 11
Interpretemo-la como expressão do prazer do autor a ladear o leitor, nessa vontade de aproximação que nem só de morte se faz, para bem de muitos.
No Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, o morto está ao lado da sua criação, quando Pessoa visita Reis (o criador de "mãos dadas" com a figura criada), depois de a morte do primeiro, nos termos romanescos, ter sido razão forte para o heterónimo "atravessar o Atlântico depois de dezasseis anos de ausência" (op. cit. 1984, 6ª ed., pág. 325).
Neste jogo de aproximações, compõe-se o desafio à morte: porque lido e falado, Pessoa vive(u).
Convenhamos que a relação da poesia com a música é mais do que evidente...
... e um nome pode ser a ponte para mais um exemplo dessa evidência: Alexander Search. Podia ser Fernando Pessoa, sim, enquanto um dos seus heterónimos; é-o, de facto, na rádio, não numa simples declamação poética do texto, mas numa cantiga baseada no poema heteronímico.
Trata-se do projeto musical de uma nova banda de rock eletrónico, con-cebida por Júlio Resende e onde figu-ram Salvador Sobral (hoje mais conheci-do enquanto vence-dor do último festi-val da Eurovisão), como o vocalista Benjamin Cymbra, para além de Augustus Search (composição, piano e teclados), Marvel K. (guitarra), Sgt. William Byng (eletrónica) e Mr. Tagus (bateria).
Inspirado na poesia pessoana escrita em inglês aquando da permanência do poeta na África do Sul (Durban) nos tempos de adolescência, Alexander Search do século XXI canta o que Alexandre Search dos inícios do século XX escreveu.
Ainda em tempos de sol, à espera da chuva que teima em não vir (a lembrar Caeiro e os versos "Nem tudo é dias de sol / E a chuva, quando falta muito, pede-se" - in Poema XXI de "O Guardador de Rebanhos"), chegam aos nossos ouvidos as palavras duplamente (re)criadas por Search (sem ter de procurar muito pela escrita):
Vídeo de apresentação de "A Day of Sun", de Alexander Search
A DAY OF SUN
I love the things that children love
Yet with a comprehension deep
That lifts my pining soul above
Those in which life as yet doth sleep.
All things that simple are and bright,
Unnoticed unto keen‑worn wit,
With a child's natural delight
That makes me proudly weep at it.
[I love the sun with personal glee,
The air as if I could embrace
Its wideness with my soul and be
A drunkard by expense of gaze.]
I love the heavens with a joy
That makes me wonder at my soul,
It is a pleasure nought can cloy,
A thrilling I cannot control.
So stretched out here let me lie
Before the sun that soaks me up,
And let me gloriously die
Drinking too deep of living's cup;
Be swallowed of the sun and spread
Over the infinite expanse,
Dissolved, like a drop of dew dead
Lost in a super‑normal trance;
[Lost in impersonal consciousness
And mingling in all life become
A selfless part of Force and Stress
And have a universal home;]
And in a strange way undefined
Lose in the one and living Whole
The limit that I call my mind,
The bounded thing I call my soul.
17-03-1908
in Poesia Inglesa, Fernando Pessoa
(organização e tradução de
Luísa Freire, prefácio de Teresa Rita Lopes)
Lisboa, Livros Horizonte, 1995, p. 172
Segundo a biografia criada pelo grupo musical, o novo
Alexander Search é um(a) (P/)pessoa coletiva com muito da mensagem que o autor
de Orpheu propõe nos seus textos:
"Alexander Search é uma banda de língua inglesa
que cresceu na África do Sul, mas que está radicada na Europa, mais
concretamente Portugal, “paraíso à beira mar plantado” como dizia o seu maior
poeta, Fernando Pessoa. A sua música mistura influências da indie-pop, música
electrónica e rock. As letras foram escritas maioritariamente por Alexander
Search, membro da banda que morreu tragicamente ainda jovem, mas que granjeia o
respeito e admiração dos seus pares como “the greatest conquerer of the beauty
of words”, o maior conquistador da beleza das palavras.
Augustus Search é o compositor de serviço da
banda, toca piano e sintetizadores e faz a direcção musical. Benjamin Cymbra é
um cantor extraordinário e traz na sua voz a garra rock n’roll do passado e as
angústias e esperanças do presente. O futuro “é a possibilidade de tudo”, dizia
também Pessoa.
Sgt. William Byng comanda a vertente computacional e
electrónica. Marvel K. tem uma guitarrada cortante e espacial. E Mr. Tagus,
ex-baterista de jazz, ainda tem na música e ‘groove’ de África uma das suas
maiores riquezas.
Alexander Search é uma banda que gosta de ousar,
impaciente, à procura, sempre à procura, da quintessência. Nunca o conseguiu.
Este é o disco de mais uma tentativa falhada."
Nos homónimos, há uma convergência de som e grafia a que Música e Literatura não são estranhas face ao escritor e projeto musical representados no cruzamento interartístico aqui divulgado.
E nesta (re)criação artística estará uma boa forma de lembrar o criador que amanhã será recordado no seu fim terreno.
Não se trata de uma questão de moda nem de querer saber o estado de qualquer coisa!
Pode, aliás, ser o estado ou o evento na situação traduzida num enunciado, atendendo a vários elementos linguísticos neste último presentes.
É precisamente sobre isto que vem a questão seguinte:
Q: Olá, Vítor. Posso dizer que na frase "Os alunos espirraram na aula" o aspeto é perfetivo porque o verbo se encontra no pretérito perfeito? Quando puderes, confirma-me, por favor.
R: Olá. Lamento, mas não posso confirmar. Infirmo, mesmo.
Creio haver um conjunto de pressupostos que precisa de ser reformulado: o da relação pretérito perfeito e valor perfetivo (pois o pretérito perfeito nem sempre configura o aspeto perfetivo nem o aspeto perfetivo se reduz ao uso do pretérito perfeito); o da associação direta entre tempo e aspeto verbal (uma vez que os valores aspetuais não apresentam linearidade ou implicação direta com valores temporais).
A questão do aspeto, enquanto categoria gramatical que fornece informações acerca da estrutura temporal interna de uma dada situação, implica a consideração de uma combinatória de dados lexicais e gramaticais, os quais se revelam interatuantes na construção dos próprios enunciados.
Sistematização proposta em Com Textos 11 - Edições ASA, 2011, pág. 185
Para começar, interessa verificar que o verbo utilizado (espirrar), em termos lexicais e aspetuais, pertence a uma situação eventiva (dinâmica) distinta dos estados (não dinâmicos). Dentro dos eventos, 'espirrar' corresponde a um ponto (ou sucessão deles) que não admite uma situação resultativa final. Neste sentido, já não há razão para se falar de perfetividade.
O facto de o verbo se encontrar no pretérito perfeito permite a localização da situação no tempo (passado face ao momento de fala) e a indicação de que esta terminou. Para apresentar valor aspetual perfetivo teria de esse mesmo enunciado dar lugar à perspetivação de um estado final consequente (verificável com o teste linguístico seguinte: 'Os alunos resolveram um teste' > o teste ficou / está resolvido; 'O atleta português ganhou a prova' > a prova ficou / está ganha). Ora, não é o que sucede com o exemplo proposto na questão ('Os alunos espirraram na aula' > *Os alunos ficaram / estão espirrados na aula).
O pretérito perfeito só tem valor aspetual perfetivo nas frases que admitem a construção de um resultado, ou seja, com verbos associados a culminações (duração muito breve, momentânea ou instantânea) ou a processos culminados (duração mais ou menos longa, com faseamentos intermédios) - a título de exemplo, para as primeiras, 'Os trabalhadores desmaiaram com o calor' (> Os trabalhadores ficaram / estão desmaiados com o calor); para os segundos, 'Pessoa construiu uma obra fantástica' (> a obra fantástica ficou / está construída).
A propósito de, por um lado, o pretérito perfeito não estar associado exclusivamente ao valor perfetivo e, por outro, não ser o único tempo a representar o valor perfetivo, considerem-se os seguintes enunciados (na combinatória das formas verbais e das expressões adverbiais utilizadas):
* "Os alunos leram os textos todos durante duas horas"
(pretérito perfeito com valor imperfetivo, dado que, durante duas horas, os livros não estiveram / ficaram lidos)
* "Os alunos irão ler os textos todos na próxima semana"
(futuro com valor perfetivo, dado que, na próxima semana, todos os livros irão estar lidos)
Enquanto valores aspetuais básicos, o perfetivo e o imperfetivo são perspetivações internas de situações que estão independentes do valor temporal nela representados - o primeiro admitindo resultado consequente; o segundo, não.
Hoje uma colega dizia-me que estava a falar com outra sobre o Português.
Isto de falar (em) Português é para todos os que o têm como língua materna e instrumento de discurso e pensamento; falar sobre ele não é só para alguns, mas, convenhamos, há uns que estão mais apetrechados do que outros para o efeito.
Q: Agora, todos os 'ói' deixaram de ter acento, não é? Por exemplo, em 'celulóide' (> celuloide), 'asteróide' (> asteroide)? Este novo Acordo Ortográfico...
R: Não é correta a generalização; estão certos os exemplos.
'Ói' continua a ser grafado, por exemplo, em 'herói', dada a acentuação (fónica e gráfica) aguda da palavra. Já a palavra 'heroico(a)' perde o acento gráfico, por se tratar de uma palavra grave. Genericamente, as palavras graves não são acentuadas graficamente na língua portuguesa, pelo que o acordo ortográfico segue essa orientação geral para este caso, em concreto, bem como para os exemplos dados e afins.
Digamos que a terminação 'óide', proveniente do grego 'eîdos' e designativo de forma ou semelhança, perde o acento gráfico, uma vez que está presente na formação de termos fonicamente graves - ex.: fungoide / intelectualoide / lipoide / ovoide / ulceroide).
Lá que seja bom falarmos sobre o Português, nada a obstar. Devíamos mesmo fazê-lo todos (fosse pela grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990 fosse por razões mais comuns ao comum dos falantes, se me permitirem a repetição, para frisar alguma transversalidade que se impõe na questão).
Podia ser jogo de palavras, mas é mais do que isso. É constatação de vocabulário a dominar.
Quando dizia hoje, numa aula, que "Grassa nos nossos dias o discurso da desgraça", uma aluna comentava que não percebia a frase; perguntava mesmo qual era a piada. Pedi esclarecimento para a questão formulada e a reação foi imediata: "Não há graça nenhuma na desgraça, pois não?"
A oralidade tem destas coisas: representar uma palavra a partir do que se ouve e se (re)conhece, mesmo que tal não seja o que alguém diz. Confundir "grassa" com "graça" não é nada engraçado, mas, por vezes, até pode dar para rir. Contudo, o silêncio na turma era geral (fosse pelo reparo ao professor fosse porque ninguém percebia a "piada"). A forma verbal do verbo 'grassar' (alastrar, desenvolver, propagar) não foi sequer entendida, por ser frequentemente desconhecida por quem reduz ao máximo o léxico que usa (tão restrito quanto o verbo 'meter' dar para tudo, mesmo quando tal não é possível).
Na homofonia dos termos, tornou-se previsível a reação discente, além de se constituir como uma oportunidade para se explicar a diferença das palavras, repondo uma coerência no enunciado dito que não foi (re)construída por quem o escutou.
A escrita é bem mais facilitadora na distinção; a oralidade convoca uma semelhança sonora a todo o tempo causadora de problemas ortográficos. A falha na leitura é fator impeditivo de boas práticas de escrita e, também, na aquisição de vocabulário, é certo, embora muitos outros possam ser acrescentados. Grassa por aí uma multiplicidade de razões que, não tendo graça, muito tem a ver com a limitação lexical dos nossos jovens.
Mais vale cair em graça do que ser engraçado, diz o povo! Talvez o diga porque grassa por aí muita coisa sem graça nenhuma ou sem interesse absolutamente nenhum, mas que muitos julgam mais engraçada ou interessante do que o que realmente é (nada se aprendendo com ela).
O fim de semana permanece como tempo de trabalho para muitos professores.
Porque há testes ou trabalhos para corrigir, matérias para preparar, fichas para produzir, leituras a fazer,... quando o ritmo da semana é alucinante e insuficiente: não dá para tudo o que cumpre ser feito junto dos alunos (e não só).
Vale o facto de este também ser o tempo de reencontro(s) com propósitos formativos.
Q: Vítor, qual o mecanismo de coesão presente no enunciado "Poesia 2, de J. Sena, estende-se por 900 pp. (...) cuja escrita corresponde ao tempo de publicação dos seus LIVROS, desde "Peregrinação" até "Exorcismos"? O nome "livros", relativamente aos títulos enumerados, é um elemento que garante a coesão lexical - interfrásica - temporal - referencial? Eu digo lexical; porém, há quem aponte para a referencial. Serão as duas? Quando puderes, diz-me o que achas.
R: Olá. Viva.
A propósito das questões de coesão, tive já oportunidade de me pronunciar nesta "carruagem", particularmente acerca da noção de coesão referencial e de coesão lexical. Estas últimas concorrem para a construção de uma cadeia de referência num texto / segmento textual, mas só se pode falar de coesão lexical quando o foco do mecanismo linguístico utilizado se circunscreve ao uso do léxico / vocabulário.
Ora, no caso em concreto, há coerência referencial entre 'livros' e os títulos mencionados, sendo todos estes termos constituintes de uma cadeia de referência, com anáforas de natureza nominal. Que esta última se constrói com base no léxico também não há dúvidas (até pela relação hiperonímica de 'livros' face aos hipónimos assumidos pelos títulos dos livros referidos), por mais que se trate de um caso de correferência não anafórica.
Portanto, conjuga-se aqui a existência de uma cadeia referencial (coesão referencial) apoiada em léxico (coesão lexical). Só quando a primeira se faz em termos estritamente mais gramaticais (pronomes, determinantes, advérbios, entre outros) é que se fica pela designação de coesão referencial (onde cabe falar de anáforas, catáforas, deíticos, construções elípticas, por exemplo).
Pensando num exercício de escolha múltipla, não colocaria como hipóteses a selecionar as duas atrás mencionadas, pois ambas são validáveis pelo enunciado em análise, com a segunda (a lexical) a poder estar também implicada na primeira (referencial).
Neste sentido, pode dizer-se que a coesão referencial é uma das propriedades textuais mais genérica, pela sua natureza léxico-gramatical; a coesão lexical foca- -se, mais especificamente, nas relações lexicais textualmente representadas.
Agora que se anuncia o fim do verão em pleno outono...
... há um fogo no céu que não cheira ao queimado da terra nem faz arder mais o pouco que esta já tem. É o calor a cobrir o oceano, num pôr-do-sol que o céu vai enegrecendo em pinceladas de noite esfumada ao final de uma tarde.
Fogo de verão outoniço - (Foto VO)
Tudo acaba para que tudo recomece, cedo ou tarde (para não dizer 'assim que anoitece').
Lá, na linha do horizonte, está a fronteira: nem o fogo tem o azul do mar nem as ondas se deixam queimar. Só as estações (dos tempos) se (con)fundem.
Isto de fonética e fonologia tem tudo a ver com SONS.
Não com letras!
Os grafemas estão para a escrita. Os sons estão para a oralidade. E se uma letra admite vários sons (veja-se a letra 's' que admite quatro realizações sonoras: [s] em 'sapato', [z] em 'rosa', [ʃ] em 'espinho' ou [Ʒ] em 'as batatas'), quando se faz o estudo da fonética e da fonologia é ao nível sonoro que tudo interessa. Portanto, há que distanciar da escrita e da tirania que esta apresenta quando se fonética e fonologia se trata.
Q: A passagem de 'assi' para 'assim' pode ser um exemplo de paragoge?
R: Claramente não. Trata-se de um exemplo perfeito de nasalização.
Ninguém lê 'assim' como [ɐ'sim], mas sim como [ɐ'sĩ]. Ou seja, não é o som [m] que está em causa, mas sim a nasalização da vogal 'i' (que deixa de ser apenas oral para passar a oral nasal). É a aparência da grafia que parece apontar para o adição final de um som; contudo, não é isso o que acontece. É a vogal final que adquire um traço diferencial (de ressonância nasal) na sua produção.
A letra 'm' pode ser lida como o som [m] em 'mesa' ou 'acima'. Por sua vez, em 'assim', 'fim' ou 'importar', a escrita não pode confundir o som transmitido - e que é sonora ou foneticamente a representação feita por um til ([ɐ'sĩ], ['fĩ], [ĩpur'tar]), a marcar o traço da nasalidade.
Mais um caso que mostra que nem tudo o que parece é (não é processo fonológico de adição, mas sim de alteração na natureza da vogal oral que já lá está /estava e que passa / passou a ter um traço novo - o da nasalidade).
Assim o escreveu Cesário Verde no seu "Num bairro moderno", onde encontrou uma vendedeira toda regateira em pleno ambiente burguês citadino. A partir daí, o poeta transfigurador viu numa giga pedaços de vida humana como extensão da que decorre da natureza vegetal.
Mal ele sabia que esse mesmo sol também dourava o mar, cobrindo-o das cores de um areal que o espera, num ir e vir a todo o tempo repetido.
Sol: esse intenso dourador (Foto VO)
Um fim de tarde que pouco tem de outono, por mais que a ele pertença, fez lembrar o verão que se foi apenas como estação. É ainda este que se faz sentir no calor que nos aquece ou na luz que nos acompanha até ao adiantado da hora do pôr do sol.
Bem razão tinham os alquimistas, que viam o dourado como símbolo de acesso ao coração de um ser. Com uma imagem destas, ao vivo, revitalizam-se a mente, as energias e a noite acaba menos escura, menos melancólica.
Tudo porque 'ingerir' precisa de contextualização.
A pergunta surge na sequência de uma resolução de exercícios sobre formação de palavras e a constatação de que algo não batia certo com o ato de comer / ingerir (caso para se dizer que nem sempre se deve "comer" a papinha que nos dão):
Q: Posso considerar 'ingerir' um verbo formado por prefixação (in+gerir)? Estou a trabalhar uma narrativa sobre o que um leão come e 'ingerir' é aproveitado para exemplificar um caso de derivação por prefixação.
R: Na verdade, segundo o contexto facultado, não se trata de um bom exemplo.
A forma etimológica (latina) ingerĕre assim o dita, pelo que se trata de uma base, uma palavra que evidencia a pertença do português ao ramo das línguas provenientes do latim. Não se pode considerar, o 'in' como prefixo, por, já na origem latina, tal segmento estar incluso na palavra etimológica - daí não se poder falar propriamente de formação de palavra no português.
Fosse o contexto outro (o de se estar a falar de má gestão) e o raciocínio seria completamente diferente. Usar o termo 'ingerir' como sinónimo de gerir mal representaria um bom exemplo de derivação por prefixação, com o prefixo de negação 'in-' a traduzir a gestão mal conseguida (a ingerência).
Ingerir, no sentido de comer, engolir, consumir alimentos, quanto à formação da palavra, nada tem a ver com ingerir como sinónimo de administrar mal (esta última, sim, a marcar-se pela prefixação). São dois bons exemplos de palavras homónimas (base e formação bem distintas) e que têm de ser equacionadas no seu contexto significativo, sem hipótese de a formação de uma se poder explicar pela de outra.
Ingerir tem muito que se lhe diga: se comermos mal, a indigestão pode surgir; se gerirmos mal, a ingerência instala-se. A bem da morfologia, espero ter contribuído para que não haja ingerência (nem indigestão).
Em dia de aniversário de uma amiga, nada é igual ao litro.
O dia começou com uma colega a perguntar a origem da expressão - sabia o sentido pragmático, mas queria conhecer como tudo começou (isto de regressar às origens tem muito que se lhe diga, quando à língua diz respeito).
Com alguma pesquisa, deu para concluir que, em tempos idos, o litro servia como medida para quase tudo (dado ser uma medida de volume e não de líquidos propriamente ditos). Assim lembrei, por exemplo, de ir à feira e ouvir alguém pedir um litro de feijão. Além disso, cabe também aqui referir o valor de um salário (palavra que veio de 'sal'), fazendo-se a distinção entre o valor do salário bruto (ilíquido) e o do líquido (na verdade, a diferença não é igual ao litro, por certo). Isto para não deixar de considerar também que o líquido deu para medir o tempo - as clepsidras, ou relógios de água, foram exemplo disso. Estou aqui estou a recuperar o pensamento de Heráclito de Éfeso, quando este pré-socrático dizia que o homem não se banhava duas vezes na mesma água de um rio. De novo a água (líquido), em passagem, tal como o homem se revela diferente, em mudança. O tempo passa (conta) e tudo muda.
É verdade que a amiga aniversariante também vê o tempo passar; também ela muda (até mudou de escola). E a colega curiosa vive a mesma condição de existência, no que à fluidez do tempo diz respeito. Também eu. Todos contamos o tempo - já não com clepsidras - e, nesse aspeto, custa a acreditar que tudo seja igual ao litro!
Depois disto tudo, apetece-me concluir que 'dei o litro' (também para medir / quantificar o esforço) neste objetivo de explicar uma expressão idiomática e no de retomar o curso desta "carruagem".
Duas outras amigas queixavam-se de esta "Carruagem 23" andar muito parada (que paradoxo, isto de 'andar parado!). Hoje, vai "circular" um pouco, porque a reclamação não me foi igual ao litro. O problema é que há também muitas outras coisas que não mo são. Talvez algumas delas até sejam (mesmo muito) importantes, mas, por momentos, vão ter de ser iguais ao litro. Dei-lhes peso (ou medida) relativo(a), porque há quem me mereça a consideração de também ser ouvido / escutado.
Chamamento, vocativo, apóstrofe... na pontuação dá no mesmo.
É mesmo isto!
Cansado de ler "boa tarde / boa noite professor" - quando devia encontrar "boa tarde / boa noite, professor" -, nem me apetece responder quando não sou nem me sinto chamado.
Do assunto ao destinatário / recetor - uma questão de vírgula
E se dizem "é só uma vírgula", "esqueci-me", apetece-me responder "OK! Tens sete. Era dezassete, mas só falta um '1'. Esqueci-me".
É tão mais fácil não ser escravo da ignorância! Claro que não acredito que alguém possa acabar com o trabalho (soa a promessa política que ninguém pode / deve concretizar). Aposto mais na colocação da vírgula para verdadeiramente perceber que o patrão / o político / o responsável ou chefe nos vê como autêntico escravo do trabalho.
Mais se diga: a diferença entre o assunto (falar ou escrever sobre algo) e o destinatário (falar com alguém / escrever a alguém) é frequentemente assinalada pela simples vírgula, no segundo cenário. Sim, porque uma coisa é falar sobre escravos; outra bem distinta é falar com eles. Percebido, minha gente?
Ao longo do caminho, há um muro de pedra onde muitos se sentam para ver o mar, respirar a maresia, olhar o céu pintalgado de várias cores e ver o sol esconder-se lá para a linha do horizonte.
Ao nível dos tornozelos e dos pés, ficam uns mirantes tão baixos que alguns olhos não veem, de tão altivos e sobranceiros que estão para o que o chão lhes oferece.
Baixo-me, deito-me e capto a paisagem:
Um retângulo de horizonte, céu e mar (Foto VO)
Parece um quadro, uma moldura de pedra envolvendo um leito oceânico ondulante, que vem a terra e deixa o céu entregue às cores quentes de um sol que ninguém já vê.
A pedra encaixilha os sulcos do mar, o céu alilazado e um horizonte dourado pelo sol posto.
Assim pode ser resumida a apresentação de Madre Paula.
Iniciou-se hoje a exibição de uma série televisiva de produção nacional inspirada no livro de Patrícia Müller e dedicada àquela que ficou conhecida como a amante mais conhecida do rei D. João V: Madre Paula de Odivelas (Paula Teresa da Silva).
Trailer da série televisiva (RTP1)
No erotismo das cenas de abertura está lançado o mote para o profano e o sagrado conviverem em plena ambiência de época barroca, quando os contrastes se afirmavam pela conciliação. Nesta ordem de raciocínio, também se explica como Paula acaba por estar livre na prisão que o convento representa.
Tendo entrado como noviça no Mosteiro de S. Dinis de Odivelas (à semelhança da irmã mais velha e em conformidade com decisão paternal, pelos fracos recursos familiares de que dispunha), Paula viria a professar a fé católica, em 1718, já com o pensamento no rei. Dos amores vividos com o Conde de Vimioso à predileção real, foi um exemplo das sóror que o soberano absolutista visitou na sua aproximação às esposas de Deus (privilégio que o representante divino na terra concedia a si próprio). Dela, teve o Magnânimo vários filhos, entre os quais D. José de Bragança (nascido em 1720) - um dos conhecidos "meninos de Palhavã", que viria a tornar-se inquisidor-mor. Bela e jovem, passou a ser a amante favorita do rei e tornou-se Madre do Convento, usufruindo de todas as atenções do monarca, que lhe deu condições de vida muito luxuosas, típicas dos devaneios extraconjugais do "rei do ouro" (também conhecido na História como o "freirático").
A vida sumptuosa que levou, mesmo após a morte de D. João V, afastam esta figura feminina do percurso religioso e devoto a que apenas parece ter-se dedicado no final da vida, não sem os luxos nem os aposentos ofertados pelo rei. Falecida aos 67 anos, acabou por ser sepultada na Casa do Capítulo do Convento de Odivelas.
Representação de Madre Paula de Odivelas,
numa teatralização da figura da "Madre de Deus" (Escola Portuguesa, séc. XVIII)
José Saramago, em Memorial do Convento, refere-se a Madre Paula como a "…flor de claustro perfumada de incenso, carne gloriosa…", numa imagem clara a essa condição típica a que as mulheres menos abastadas do séc. XVIII acabavam por se entregar como forma de sobrevivência natural na sociedade.
Não são famosos, por certo. Falo dos tempos... e não só.
Falo também de música, daquela que me tem acompanhado o gosto nos últimos tempos e que me faz lembrar batalhas, guerras com "balas", por vezes a fazer perder algum do sentido da vida.
Assim ouço a composição na voz de alguém que, pelos vistos, fez parte de um grupo que não apreciei particularmente, mas que evoluiu para sonoridades que hoje me chamam a atenção. Harry Styles (antigo membro dos 'One Direction') dá voz a uma balada intitulada "Sign of the times", primeira canção a solo para este músico britânico; grito musical para ir em busca de outros dias, de maior felicidade:
Vídeo de "Sign of the times", canção interpretada por Harry Styles (difundida na rádio desde abril de 2017)
SIGN OF THE TIMES
Just stop your crying
It’s a sign of the times
Welcome to the final show
I hope you’re wearing your best clothes
You can’t bribe the door on your way to the sky
You look pretty good down here
But you ain’t really good
We never learn
We’ve been here before
Why are we always stuck and running from
The bullets, the bullets
We never learn
We’ve been here before
Why are we always stuck and running from
The bullets, the bullets
Just stop your crying
It’s a sign of the times
We gotta get away from here
We gotta get away from here
Just stop your crying
It’ll be alright
They told me that the end is near
We gotta get away from here
Just stop your crying
Have the time of your life
Breaking though the atmosphere,
And things look pretty good from here
Remember everything will be alright
We can meet again somewhere
Somewhere far away from here
Just stop your crying
It’s a sign of the times
We gotta get away from here
We gotta get away from here
Stop your crying, baby
It’ll be alright
They told me that the end is near
We gotta get away from here
We don’t talk enough
We should open up
Before it’s all too much
Will we ever learn
We’ve been here before
It’s just what we know
Stop your crying, baby
It’s a sign of the times
We gotta get away
We gotta get away
A lembrar uns "The Verve" ou "Oasis", esta canção instalou-se na minha mente; contudo, o pedido de que o choro não continue traz qualquer coisa de repetitivo, de cíclico (na melodia como na vida); também de derradeiro, até de fatídico - o que não me agrada na letra, mas que toca, por certo, com a melodia dada a ouvir. Mesmo que "We we don't talk enough" e que "We should open up", a fuga impõe-se, mas convém que seja neste mundo, com os pés assentes no chão, para que também nele se retire alguma lição.
Se alguma coisa está prestes a findar, que seja este "dar o peito às balas" (porque já cansa e não faz de ninguém herói). À espera, portanto, de dias melhores.
Na subida ao palco e na presença do Senhor Presidente da Câmara Municipal (Dr. Pinto Moreira), da Senhora Vereadora da Cultura (Drª. Leonor Fonseca), do Responsável pelos Serviços de Cultura e de Museologia (Dr. Armando Bouçon) e da Senhora Diretora do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (Drª. Ana Gabriela Moreira), a agraciada com um prémio de cinco mil euros (Sandra Inês Cruz) dirigiu algumas palavras ao público presente no Multimeios.
Cerimónia da entrega do Prémio Literário Manuel Laranjeira,
no Multimeios de Espinho (premiada à direita)
Da nota de agradecimento às breves palavras que explicitaram um pouco da criação da obra premiada (Viagens por histórias mais ou menos naturais), fica o registo fotográfico do momento em que a autora é presencialmente dada a conhecer ao público e recebe os merecidos aplausos.
Assim se concluem dois anos de ação, numa equipa que, nos termos do protocolo estabelecido entre a Câmara Municipal de Espinho e a Escola Secundária com 2º e 3º Ciclo Dr. Manuel Laranjeira, fez relançar uma prática cultural por alguns anos abandonada no concelho, mas que teve neste 2017 a sua primeira edição, com a seguinte a ter lugar em 2019.
Cumpriu-se o trabalho, partilharam-se os agradecimentos e pode dizer-se que tudo foi feito para bom nome do homenageado que dá nome ao prémio. Daqui a dois anos há mais.
Nem Freud! (Não é argumento de autoridade. É crença, mesmo!)
Quando procuro descomprimir, está visto que não dá para ir ao Facebook. Não é por nada, mas quando se lê isto (um catafórico, por anunciar o que ainda não é explicitamente textual, só pairando na minha mente) não é possível ficar indiferente, incólume ou corroborar o impensável.
Cá vai:
A circular no Facebook
e a haver quem ache, pelo lamento crescente, que não devemos ser de ferro...
mas de aço!
Perigoso! Nem Freud o aceitaria, seja no dever seja na resposta a dar à vida!
A acreditar nisto, e a aceitá-lo, pouco falta (espantemo-nos!) para crer em fundamentalismos e extremismos... É tão medieval o pensamento quanto o ferro humano que, na imagem, me sugere a armadura ou a malha dos que faziam da vida luta, duelo ou morte.
Máquinas, com avarias anunciadas no final, já Álvaro de Campos propôs na "Ode Triunfal": "Ah não poder ser eu toda a gente em toda a parte!" Popularmente, dir-se-ia "Quem tudo quer tudo perde".
Cedo ou tarde, por mais que se ache que os telhados de vidro não existem, a pedra cairá (não sei se na cabeça de alguém, mas que seja, no mínimo, na consciência). Talvez a vida venha a ensinar muita gente que não somos nem aço nem ferro. Humanos, sim, com falhas e nem sempre porque as queremos, mas porque elas existem connosco ou vêm ao nosso encontro e nos derrubam. Pensar o contrário só no discurso do lamento ou negando que, na vida, há pequenas coisas que fazem os dias diferentes.
Na realidade, a verdade não é a do pensamento citado; é muito outra e é pena que muitos humanos dela se esqueçam. Só se lembram dela nos momentos de choque, e talvez aí já seja um pouco tarde. É pena que da história não se faça da memória! E a história muitas vezes é a nossa!
Felizmente, quero acreditar que há quem a ajude a (re)escrever e a (re)viver de outra forma.
Mais não digo - melhor: não escrevo, para não repetir o exemplo de alguns alunos que, ao escrever num teste escrito. dizem que fala(ra)m. Oh, vã ilusão!
Não gosto, não aceito, não acredito e só o entendo quando tudo corre bem (e não será, certamente, para todos o que procuram sobreviver nas situações ou nos tempos mais críticos). Pena é quem haja que ainda subscreva o pensamento, tal como apresentado na imagem! E há! Oh se há!
Não há milagre ou santo nem poesia ou poeta que resistam. É tão mau que nem ao Diabo (vá de retro, Satanás!) lembra. Tudo num só dia. É obra (ingrata)!
Para começar, logo pela manhãzinha, não há luz ao fundo do túnel para quem escreve as legendas na RTP:
As legendas da RTP no seu pior (I)
Coitadas das vítimas (nome), que deixaram de o ser (até porque nem na notícia o foram) por passarem a forma verbal (vitimas). Lá se foi a palavra esdrúxula, porque a quiseram tornar grave. É grave... muito grave!
E por falar em esdrúxulas (ou proparoxítonas), três minutos depois, mais duas pérolas:
As legendas da RTP no seu pior (II)
Não é bom falar de dívidas, é certo; porém, confundi-las com a forma do verbo dividir no presente do conjuntivo (segunda pessoa do singular: dividas)...! Quer-se o nome; não o verbo. Para terminar, e ainda no mesmo rodapé, último (adjetivo) a ser confundido com a forma verbal de 'ultimar' (eu ultimo, tu ultimas, ele ultima...). É a sílaba tónica distinta (em termos fónicos) e a acentuação gráfica (em termos ortográficos) que fazem a diferença.
Um minutinho depois, é a vez de novo caso crítico:
As legendas da RTP no seu pior (III)
Nova esdrúxula que o devia ser enquanto nome (tráfico), e sai nova forma verbal grave (eu trafico, tu traficas, ele trafica,...). Isto de traficar nunca deu bom resultado!
Quando tudo parecia crer que havia alguma coisa contra a acentuação gráfica das esdrúxulas (tão elementar quanto obrigatória no português), surgem, duas horas depois, duas falsas esdrúxulas com o mesmo problema (o da ausência de acentos):
As legendas da RTP no seu pior (IV)
As legendas da RTP no seu pior (V)
'Queda às' em vez de 'Queda nas' é questão menos problemática, quando, por comparação, se conclui que não há queda nenhuma, efetiva, para a acentuação gráfica - inclusive das palavras terminadas com encontros vocálicos habitualmente proferidos em ditongo crescente (casos de lítio e de água, ou as chamadas "falsas esdrúxulas").
Não fosse isto suficiente, falta o momento de "Última hora". Na festa, tudo se passa e muito se consente; mas no que toca à sua notícia, para além da falha / troca de letra ou grafema (se > de), a discordância sintática é evidentemente contraproducente:
As legendas da RTP no seu pior (VI)
As comemorações, na justa medida, sempre animaram e não há santo que tal mude: a concordância no plural é processo de coesão frásica tipicamente verificado e normalizado na língua. Contudo, na cabeça de alguns nem sempre tal se verifica, para mal dos pecados de quem tem que os ler, quando escrevem (MAL).
Nem Fernando nem António nos livram, por mais santos ou poetas que tenham sido. É muito mau receber isto tudo num só dia. Dizem que à dúzia é mais barato, mas, definitivamente, já à meia a imagem do canal do "Bom Português" sai bastante comprometedora. Mais uma imagem que não dá para comprar.