quarta-feira, 30 de junho de 2021

Agradecimentos...

      Há quem registe o agradecimento!

     Hoje, a Rádio Comercial mostrou a sua generosidade e um sentido justo para os agradecimentos não terem de ficar condicionados às vitórias.

Um agradecimento à espera da vírgula do vocativo! - (imagem colhida do Facebook)

        Concordo. Há perdas ou derrotas que também merecem agradecimentos. 
      Duas palavrinhas apenas... e a falta de um sinal de pontuação faz sentir-se: a vírgula do vocativo, se faz favor. 
      Quem chama virgula. "Obrigado, rapazes!" É assim que se agradece, com o chamamento devido dos "rapazes".

      Faz sentido a imagem! Contudo, no texto, uma virgulazita faz a diferença.

domingo, 20 de junho de 2021

Céu, mar e vegetação gotejados de chuva

       Em vésperas de entrada no verão, há cores, clima e sentir inverniços.

     Dizem que já nada é como era. Não confirmo nem desminto. Há quem queira pôr a natureza à sua medida e ao seu gosto. Hoje não está radiante para os que assim se tomam, nem dá calor aos que só o querem receber.
      A impressão que tenho é a de que o mar anda gotejado de chuva e  a frescura do dia cinzento se faz sentir no gotejamento do vidro.

Uma impressão de céu, mar e vegetação à chuva (Foto VO)

       Não é a primeira vez que o capto, mas uma coisa é dezembro; outra é a entrada do estio, que não rima com frio na ordem do desejar e do sentir. É tão interessante visitar Portugal que até o inverno vem cá de férias passar o verão.

        Hoje foi dia sensaborão, não fosse a foto um registo de alguma animação, ainda sem o cheiro nem o calor do verão.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Gestos de quem se gosta

      Fecha-se um ciclo, um tempo feito de muitos momentos...

     Para alguns talvez mais do que para outros: há quem tenha vivido um ciclo de três anos; quem se tenha ficado por dois ou, ainda, quem não passou além de um só. Independentemente disso, o dia foi de intensa e comum despedida sentida por e para todos.
     Houve rosa sem espinhos; houve postais escritos a mostrar que, no afeto, há mais do que correção; houve lembrança dedicada a quem quis ensinar a todos, sem exceção; houve recordação de palavras, de vivências, de reações de um antes que deu lugar a um depois tão diferente! Houve ainda a foto para memória futura, aquela que já faz sentir saudades de tudo o que se experienciou aula a aula e fora dela (quando se pôde e quando se quis).
    Num ano particularmente difícil, continuei a ter a felicidade de estar acompanhado daqueles que, dia-a-dia, me souberam respeitar; me tiveram em mente, apesar de algumas ausências; me fizeram sentir grato, ganhar forças e ver que, na medida do possível, colaboravam com o lema do "trabalho, trabalho e mais trabalho". Uns pela qualidade demonstrada, outros pelas descobertas conseguidas, uns mais pelos erros cometidos que também ajudavam a ensinar, outros ainda pelos comentários que (no fundo da sala, em surdina, mas com voz bem reconhecida) permitiam construir cumplicidades e afinidades além do estatuto e do papel devidos, sem esquecer os que reservada e timidamente assistiam ao espetáculo de todos... esta foi a soma construída que nos foi aproximando.
     Ouviu-se "Queremos ficar aqui! Não queremos ir embora!" (Como?!); "Vou ter de ir mais vezes à Carruagem 23!" (O que fazem as saudades!); "Que dia tão triste!" (Não, senhor! É bonito!).
    Circularam T-shirts que deixaram de ser apenas brancas - simples, do clube desportivo da terra ou da junta de freguesia -, para ter dedicatórias que, em jeito de finalistas, revelavam sentimentos, desejos que o tempo (re)fez e fará recordar. 
     Citaram-se alguns versos de uma ode camoniana (Ode IX):

«Porque, enfim, tudo passa;
Não sabe o Tempo ter firmeza em nada;
E nossa vida escassa
Foge tão apressada
Que quando se começa é acabada.»

      Quando tudo parecia chegar ao fim, veio o "Sabe, eu queria um abraço!"
      À distância, foram-se abrindo os braços, como se fosse possível sentir toque apenas com o que se vê. Um íman parecia estar em cada um de nós. Por maior que a sala fosse, o campo magnético fez-se de vontades humanas (se Blimunda soubesse, vinha colhê-las para o seu frasco, a fim de que a Passarola voltasse a voar).
    Chegado a casa, pouso os livros, um ou outro caderno (com quadrículas, números, nomes, notas, apreciações, registos), a pasta, um romance... Releio um pequeno texto que me foi entregue a medo, não houvesse alguma falha: "Esperamos ter marcado tanto a sua vida como o professor marcou a nossa". Ficaram felizes quando lhes disse que não havia nenhum erro. Não podia, simplesmente. Era uma pequena grande frase.

       É tão clara a certeza do que é esperado! Obrigado, por terem estado comigo. (E mais não digo, porque sabem bem quem são).

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Novo conceito de rua

       Começa a antever-se a animação em Espinho!

       No que toca ao arruamento, há quem já fale na rua cobra ou ziguezague. Tanto faz!
       Eu já serpenteei a primeira camada de asfalto da rua 19:

A "corrida da serpente" - ou a nova forma de chegar a Espinho 
(fotografia postada no Facebook)

   Convenhamos que, antes de chegar ao fundo da foto, à rotunda, já os condutores tiveram oportunidade de experimentar, de treinar curvas e contracurvas, para que o redondo final seja mais perfeito.
    Qualquer semelhança com as pistas dos carrinhos de choque das festas talvez não seja mera coincidência.

        Que a Nossa Senhora da Ajuda nos proteja!

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Do melhor e do pior que a mulher tem

       A realidade será a mesma? A forma de ler é bem distinta.

       No dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, partilho um texto daquele que é hoje celebrado - poeta com feriado no calendário, reconhecido como um dos três universais, homem de armas e das letras (conforme o ideal renascentista). Trata-se de uma trova que admite leitura dupla: 

Trova camoniana "[Vós] sois ũa dama" - entre o horrível e o perfeito.

      Da negação para a negatividade do retrato (leitura vertical) à negação para a afirmação da beleza (numa espécie de lítotes, na leitura horizontal), parece que a base de inspiração é bem contrastiva. Dama é por tratamento, por mais ficcionada que seja. 
    Seja na linha do jogo poético trovadoresco do "Ai, dona fea, foste-vos queixar" (Joam Garcia de Guilhade) seja no da construção da imagem perfeita da mulher, compôs o poeta texto aberto a leitura duplicada, conforme arranjo gráfico em colunas (e sem os sinais de pontuação) o permite.

        Perdoe Camões este abuso nas suas rimas, mas são tempos em que o jogo poético se desconstrói na redescoberta de leituras dos versos, em interação com outros poemas - uma forma de lembrar o escritor numa rede de aproximações com a escrita criativa (do próprio e de outros que nele se revejam).

quarta-feira, 9 de junho de 2021

A um dia de Camões...

     Na véspera do dia que dizem ter sido o da sua morte,...

     Relembra-se "Descalça vai para a fonte" e essa Leanor retratada como exemplo de beleza - aquela que vai formosa e (mas / por isso) não segura.
     Num retrato predominantemente físico, há um cromatismo bem colorido na figura dessa mulher que um filme a preto e branco (com mais alguns cinzentos) não traduz:

Interpretação de António Vilar e Leonor Maia, nos papéis do poeta e de Leanor 
"Camões" (1946), de Leitão de Barros

     Os efeitos inspiradores da musa feminina no poeta, lendariamente caracterizado como um pinga-amor, são mais para a construção poética dos versos (para os louros) do que para as paixões da vida concreta (as louras). 
      Reconheça-se a escrita marcada pela escola / corrente tradicional, ou da medida velha, e pense-se que o resto é o que menos interessa: a vida do escritor.
      Fica a obra para lá do tempo da vida; fica a voz lírica que nos "canta" um poema "em verso humilde celebrado", com "agreste avena ou frauta ruda" (para não confundir com o "som alto e sublimado", o "estilo grandíloco e corrente", com "tuba canora e belicosa" no jeito épico).

Mote: Descalça vai para a fonte 

          Leanor pela verdura;

          Vai fermosa e não segura.

 

Glosas ou voltas:


Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata.

Sainho de chamalote;

Traz a vasquinha de cote.

Mais branca que a neve pura;

Vai fermosa e não segura.

 

Descobre a touca a garganta,

Cabelos d' ouro o trançado,

Fita de cor d' encarnado,

Tão linda que o mundo espanta;

Chove nela graça tanta

Que dá graça à fermosura;

Vai fermosa e não segura.


     ... fica o registo fílmico a ilustrar uma das suas redondilhas (maiores, no caso) mais conhecidas - um vilancete, a julgar pelo mote de três versos e as glosas com sétimas.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Para lá da simpatia...

      Há que contentar com o gesto simpático!

      De resto, nada mais se pode pedir, quando se escreve mal.

   Certo é que 'pôr' tem acento gráfico (circun-flexo) na sua grafia. O mesmo não sucede com os com ele formados ou a ele fonicamente asso-ciados na sílaba final de verbo, na forma do in-finitivo -  como 'ante-por', 'compor', 'contra-por', 'descompor', 'dis-por', 'expor', 'impor', 'propor', 'repor', 'supor' e afins -, conforme já o indiquei em aponta-mento anterior.

    Se o contraste 'por' (preposição simples) / 'pôr' motiva a distinção gráfica, o mesmo não sucede com os restantes termos atrás mencionados. Sublinhe-se o facto de estar a considerar-se formas verbais no infinitivo (o que nada tem a ver com as formas conjugadas, como 'antepôs', 'compôs', 'contrapôs',...).

    Tipicamente as palavras terminadas em 'r' são agudas e não requerem acentuação gráfica - eis a razão para o infinitivo dos verbos e, por conversão, as formas nominais / nominalizadas não apresentarem acentos.

       Agradeço o gesto, portanto, mas ficaria mais grato pela ausência de acento.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Não é "d'oiro", mas é "doirado"

     Tudo em busca da base da palavra (embora eu preferisse o "oiro").

     Siga-se o raciocínio de onde uma palavra vem, e lá chegaremos ao resultado final.

      Q: Olá, Vítor. Qual é o processo de formação da palavra "doirado"?

O doirado da paisagem, com o doirador responsável ao centro.

    R: Olá. A palavra "doirado" é o particípio passado do verbo "doirar", sendo esta última a palavra base. Embora se trate mais de um caso de flexão do que propriamente de formação, a passagem "doira(r) > 'doirado" ilustra a consideração de afixos gramaticais no final da palavra (sufixos), de modo a construir, a partir da forma do infinitivo, a que surgirá como forma verbal de particípio passado e/ou adjetivo.
     Pelo raciocínio exposto no primeiro parágrafo, fica identi-ficada a base (verbal), a partir da qual se processa a sufixação. Trata-se de sufixos de natureza estritamente gramatical (para as categorias da forma parti-cipial verbal e do contraste de género).
      Não se veja, portanto, o oiro como a origem de tudo na nossa língua, mas o que permite "doirar" e, por sua vez, esta palavra ver o doirado, nomeadamente o que a talha da natureza por momentos ganha (sem ouro; com sol).

     Ou seja, "nem tudo o que doira vem de oiro", pelo menos em termos da natureza. "Doirar" entrou historicamente na língua portuguesa pela forma latina "deauro, -are", estando já aqui assumida a palavra base (doirar), a qual virá a dar lugar a 'doirado'.