sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A fuga das... sílabas e dos sons (e outras coisas mais)

     Não se trata de um título de filme, mas foi um filme!

    Passada na televisão, uma nota da Presidência da República dava a ler uma fuga de informação de dados - nada que não possa a acontecer ao comum mortal que lida com dados sensíveis e os tenha armazenados numa base de dados que, inadvertida e inconscientemente, acabe "nas bocas do mundo" (lamentavelmente naquelas que mais berram aos quatro ventos).
      Pelos vistos, muito mais coisas há a fugir. Até sons e sílabas:

Uma nota de alguém que preside e, no caso, é o Presidente (foto VO)

    Verdade que o Presidente da República preside (verbo); presidente (nome), porém, tem mais sons graficamente representados (a nasalidade) e sílabas. Não é pelo tamanho que se define a qualidade do cargo, mas quem tem direito às sílabas e aos sons todos, assim seja. 
    Sei que muitas vezes já lemos o que não escrevemos; que a pressa é inimiga da perfeição. O imediato é tantas vezes vendido como fácil e eficaz que chega a assustar a facilidade que não resulta. Restam, portanto, a comunicação e a atenção como ingredientes necessários à correção. 
    E, já agora, além dos sons e das sílabas, repare-se a construção "devida a", mais a falta de uma vírgulazita aqui ou ali nos locais devidos (por ali depois do segundo travessão, por exemplo). Esta nota, por todas as razões, merecia outro(s) cuidado(s).

      No caso, talvez fosse suficiente a informação oral, para que a nota da presidência não fosse objeto de uma visibilidade pública com tanta confusão. São fugas, senhores!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acerca do outono

    Perguntavam há dias de onde vinha o outono.

    Não se trata do 'onde' locativo, mas da origem etimológica. O latino 'autumnus, -i' dita a formação do adjetivo 'autunal', também proveniente do 'autumnalis, -e', como tudo o que é relativo ao outono.
    E então: é autunal, outonal ou outoniço? 
    Valem os três. O primeiro mais próximo do étimo latino; o segundo com algumas evoluções fonéticas assimilativas em pontos articulatórios vocálicos [+ altos]; o terceiro decorrente de um processo morfológico cuja base derivante nominal ('outono') é acrescida de um sufixo que, no português, tem a produtividade significativa de referir aquilo 'que nasce em' (outoniço < nasce no outono); aquilo que indica facilidade ou tendência para (fronteiriço < próximo ou tendente para a fronteira; esquicidiço < tendência para ser esquecido; inverniço < tendência para inverno; reboliço < facilidade para rebolar; gadiço < facilidade para ser domado como gado).

Colorido outoniço com o "intenso colorista"

  Em termos de significado, o outono é polivalente: refere-se à estação do ano, à transição / transitoriedade / mudança / viagem dos ciclos, à época das colheitas, ao tempo da gratidão, ao equilíbrio e descanso terrenos, à reflexão e introspeção, à despedida, à aproximação da velhice, à decadência.

    Viva-se o outono, cumpra-se o ciclo e enriqueça-se o tempo com a variedade dourada das cores outoniças.