E importa acrescentar que quem mais ralha não é porque não tenha o pão que (já) vai faltando.
Esta reflexão surge na sequência de uma notícia hoje comentada no
Jornal da Noite da SIC, num diálogo pouco ou nada esclarecedor do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho e o comentador Miguel Sousa Tavares.
Cartoon do cubano Angel Boligan, "El Universal".
O facto diz respeito à tomada de decisão do juiz Rui Teixeira relativamente à utilização do
Acordo Ortográfico (AO) nos documentos processuais do Tribunal de Torres Vedras. Segundo a notícia, o magistrado obrigou os serviços do Ministério da Justiça a reescreverem o relatório social de um detido, expurgando o texto das alterações introduzidas pelo
AO. Na defesa de que os tribunais não estão obrigados ao cumprimento da resolução do Conselho de Ministros (acerca da adopção das novas regras em todos os serviços da administração pública), Rui Teixeira terá escrito que "Nos tribunais, pelo menos neste [de Torres Vedras], os 'factos' não são 'fatos', as 'actas' não são uma forma do verbo atar, os 'cágados' continuam a ser animais e não algo malcheiroso e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário".
Deste último registo, é absurdo fazer menção a situações completamente despropositadas: 'facto' mantém-se como sempre foi (dado que o 'c' é pronunciado na variedade portuguesa do continente europeu); a acentuação das palavras esdrúxulas não sofre qualquer mudança, pelo que é ridículo o exemplo adiantado do 'cágado'. Certeira é apenas a homonímia resultante entre o nome 'ata' e a forma verbal do verbo 'atar' (cf. "Ele ata").
Não menos inconsistente é a orientação dos comentários: por um lado, a sapiência de Sousa Tavares a referir-se ao deputado "Mitchel Seufert" (que deve ser 'Michaele', a bem da sua ascendência paterna alemã) e à redação de um relatório que, entre outros pontos críticos, assume a falta de consenso social alargado sobre o
AO; por outro, o jornalista e apresentador a despedir-se até à próxima segunda-feira, cito, "com maiúscula". É, portanto, do desconhecimento deste último (também escritor) que os dias da semana sempre se redigiram com minúscula (
por razões de História da Língua) - à exceção dos contextos de abertura de frase / período -, e que não é o
Acordo a mudar o 'statu quo'.
Perante tão desinformadas e desacreditadas fontes jornalísticas e comentaristas, apetece continuar com um registo mais cómico e brincalhão que se lê no circuito das redes virtuais. Se Michael Seufert tem no seu blogue ("À vontade do freguês") escritos "sem acordos horrográficos", há outros jogos de palavras que se mostram mais coloridos pela sugestão - é o caso do que circula pelo Facebook, num apontamento intitulado
«A cor do horto gráfico
já aprovado pelo novo Ministro do Saber
Última actualização do dicionário de língua portuguesa - novas entradas:
Arbusto: Busto com um certo ar
Testículo: Texto pequeno (embora, ache que devesse mais ser um teste pequeno)
Abismado: Sujeito que caiu de um abismo
Pressupor: Colocar preço em alguma coisa
Biscoito: Fazer sexo duas vezes
Bigode: Duplo Deus britânico
Coitado: Pessoa vítima de coito (por desconhecimento do que é a 'coita de amor')
Padrão: Padre muito alto
Estouro: Boi que sofreu operação de mudança de sexo
Democracia: Sistema de governo do inferno (cada vez mais verdadeiro!)
Barracão: Proibição de entrada de caninos
Homossexual: Sabão em pó para lavar as partes íntimas
Ministério: Aparelho de som de dimensões muito reduzidas
Detergente: Acto de prender seres humanos
Eficiência: Estudo das propriedades da letra F
Conversão: Conversa prolongada
Halogéneo: Forma de cumprimentar pessoas muito inteligentes
Piano: Ano Internacional da descoberta de Pi (3,1416)
Expedidor: Mendigo que mudou de classe social
Luz solar: Sapato que emite luz por baixo
Cleptomaníaco: Mania por Eric Clapton
Tripulante: Especialista em salto triplo
Contribuir: Ir para algum lugar com várias tribos (índias)
Aspirado: Carta de baralho completamente maluca
Assaltante: Um 'A' que salta
Determine: Prender a namorada do Mickey Mouse
Vidente: O que o dentista diz ao paciente
Barbicha: Bar frequentado por gays
Ortográfico: Horta feita com letras
Destilado: do lado contrário a esse
Pornográfico: Sinónimo de colocar no desenho
Coordenada: Que não tem cor
Presidiário: Aquele que é preso diariamente
Ratificar: Tornar-se um rato
Violentamente: Viu com lentidão
E
Língua "perteguesa"... PORQUE O SABER NÃO OCUPA LUGAR!
Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um 'prontus'! Fica sempre bem.
Númaro
Também com a vertente 'númbaro'. Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso. Por mim, acho um bom númaro!
Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.
Aspergic
Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina.
Alevantar
O acto de levantar com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.
Amandar
O acto de atirar com força: 'O guarda-redes amandou a bola para bem longe'
Assentar
O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.
Capom
Tampa de motor de carros que quando se fecha faz POM!
Destrocar
Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.
Disvorciada
Mulher que diz por aí que se vai divorciar.
É assim...
Talvez a maior evolução da língua portuguesa. Expressão que não quer dizer nada e não serve para nada. Deve ser colocada no início de qualquer frase.
Entropeçar
Tropeçar duas vezes seguidas.
Êros
Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.
Também conhecida por "aéreos"
Falastes, dissestes...
Plural de 'tu falaste', como dois em um. Ex.: eu falei, tu falaste, TU FALASTES, ele falou
Fracturação
O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. Casa que não fractura... não predura.
Há-des
Verbo 'haver' na 2ª pessoa do singular: 'Eu hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia...'
Inclusiver
Forma de expressar que percebemos bem um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira. Também existe a variante 'Inclusivel'
Mô
A forma mais prática de articular a palavra MEU e dar um ar afro à língua portuguesa, como 'bué' ou 'maning'. Ex.: Atão mô, tudo bem?
Nha
Assim como Mô, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA. Para quê perder tempo, não é? Fica sempre bem dizer 'Nha Mãe' e é uma poupança extraordinária.
Parteleira
Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.
Perssunal
O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex: 'Sou perssunal de futebol'. Dica: deve ser articulada de forma rápida.
Prutugal
País ao lado da Espanha. Não é a Francia.
Quaise
Também é uma palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais... Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.
Stander
Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis. O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...
Tipo
Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. É assim... tipo, tás a ver?
Treuze
Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.»
Apetece mesmo dizer que mais vale ler uma brincadeira com a língua do que tomar a sério o que querem dela fazer: caso televisivo sério sem nenhumas evidências de confiança no que é dito. Como diria Jorge Palma, "Deixa-me rir! Essa história não é tua!"