Por mais respostas que se queira dar, há vários pontos de vista analíticos a considerar, alguns dos quais conduziriam à que se revela mais aceitável / adequada / correta.
Q: Olá, Vítor. Quando puderes, diz-me, por favor, como classificas as orações na frase: "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa, que é muito bom." A professora de uma explicanda minha diz que é subordinada adjetiva relativa explicativa. Se não fosse adjetiva relativa, só poderia ser adverbial causal.
R: Viva. Perante a minha divergência face às respostas citadas, direi o seguinte:
ii) o cenário de a segunda oração ser uma adverbial causal levanta-me sérias reservas quanto ao facto de as subordinadas adverbiais tipicamente admitirem inversão dos termos da construção (*"Que é muito bom, ouve o CD do Pedro Abrunhosa" resultaria numa clara construção agramatical);
iii) a expressão lógica da causalidade-explicação do enunciado é admissível, conforme se encontra introduzida na segunda oração, configuradora de uma explicação / justificação para o que se enuncia na primeira oração; porém, não tomaria esta última como subordinante nem aquela como subordinada;
iv) o foco de análise pragmático a colocar no segmento "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa" permite entender este último como um ato diretivo (conselho, sugestão) na interação produzida entre um 'eu' e um 'tu', conforme se depreende do modo verbal imperativo usado em 'ouve'; simultaneamente, a apreciação feita com a segunda oração resulta numa orientação justificativa (assente numa apreciação) / explicativa de um 'eu' para o ato de fala assumido na primeira oração.
Problemáticas de identidade (e classificação) do 'QUE'
Assim, numa perspetiva de análise pragmático-sintática, assumo que a oração inicial é uma coordenada (que não admite troca na ordem sintática com a segunda oração), seguida de uma coordenada explicativa introduzida pelo conector 'que' (a iniciar a oração coordenada explicativa).
Desta forma, concluo o seguinte: um "que" sinónimo de "pois" aponta para construções coordenativas; um "que" sinónimo de "porque" nem sempre corresponde a uma subordinação, a qual, sintaticamente, apresenta propriedades típicas não confirmadas com o enunciado em análise.