sábado, 20 de fevereiro de 2021

O que se passou ontem?

      Estou pasmo (melhor... tenho estado)! Conjugaram-se para me animar! 😉

     Tudo começou ontem de manhã, quando uma mensagem me anunciava um apontamento apreciativo acerca deste blogue. A partir daí, têm aparecido comentários que ainda mais me fazem pasmar:

Registos a apreço a uma "carruagem" que não sai do sítio
(com agradecimento à LDL e a todos os que a acompanha[ra]m na apreciação)

    Primeiro de tudo, agradecer a quem começou o reconhecimento; depois, àqueles que aderiram ao apreço. 
    Por fim, assumir que este meu agradecimento tem também a ver com o espírito de partilha, de aproximação pessoal e de identidade profissional com muitos que aqui "viajam". Há uma teoria psicossociológica que assume que a nossa identidade se constrói conforme os olhos daqueles que nos veem. Felizmente, ainda há quem me veja com bons olhos, para continuar essa construção de mim, também dada aos outros. (Pena eu ser só um para tantos)!
       Nestes tempos, esta é (também) uma forma de estarmos "juntos".

      Que esta seja a "carruagem" que "Faz da palavra a flor, do ato o fruto", sempre a saciar "os que aspiram a mais do que este mundo oferece: realidade em demasia e luz de fantasia". Entre a realidade (demasiada) e a fantasia (por vezes excessivamente iluminada), há muitos pontos de encontro a explorar.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Triangulações gramaticais

      Depois de dois a falar de gramática, interessa lembrar que, segundo expressão idiomática, não há dois sem três.

     O desafio é lançado por uma aluna que, neste contexto de ensino à distância, aproveita a oportunidade para dialogar comigo por mail:

      Q: Olá, professor. Boa noite. Estive a ajudar um amigo com uns exercícios de gramática sobre funções sintáticas e estamos ambos com dúvidas numa alínea. Nesta está escrito "Dói-me a cabeça" e é preciso indicar a função sintática de "me" e "a cabeça". Eu acho que "me" é sujeito e que "a cabeça" é complemento direto, mas o meu amigo diz o contrário. Pode fazer-me o obséquio de me dizer quem está certo? Boa noite, novamente, e obrigada por ler. :)

       R: Olá. Creio que não vou dar razão a nenhum (ai, ai, ai...).
      Nessa frase, 'a cabeça' é o sujeito sintático. Repara que eu poderia substituir esse grupo nominal pelo pronome 'ela' - 'Ela dói-me' > 'A cabeça dói-me'. É o melhor teste de identificação / comprovação.
     Quanto ao 'me' trata-se de um pronome com a função, neste caso, de complemento indireto. A cabeça dói a alguém. "A quem?" - esta seria a pergunta para obter a resposta do elemento que funciona como complemento indireto. Mais: sei que é o complemento indireto porque, no caso da primeira pessoa, é usado o 'me'; no caso da segunda pessoa, seria o 'te' (> Dói-te a cabeça) e, no caso da terceira, seria o 'lhe' (> Dói-lhe a cabeça). Ora, o 'me' aparece na mesma distribuição de um 'lhe' que, na terceira pessoa, é a marca pronominal do complemento indireto. Portanto, 'me' exerce esta função equiparada ao 'lhe'; 'a cabeça' é o sujeito (invertido) da frase.
       Lamento, mas nenhum dos dois está correto!
       Toca a fazer as pazes e façam o favor de ser felizes, com a gramática certa.
       Espero ter ajudado no raciocínio.
       Boa noite.

       Não ficando por aqui, prosseguiu o diálogo assíncrono nestes termos:

        Q: Obrigado pelo esclarecimento, professor.
       Mas ainda tenho uma dúvida: "A cabeça" poderia ser complemento oblíquo? Penso que dizer apenas "Dói-me" não está correto, pois falta algo.

     R: Não, não poderia. Tens razão quando pensas que falta algo. A verdade é que falta o sujeito sintático da frase, enquanto elemento normalmente presente numa oração. Alguma coisa dói; neste caso, a cabeça. Ela (o sujeito da frase, ainda que invertido, pois não se encontra no local típico de início de frase). É este teste de pronominalização que assegura estarmos perante o sujeito sintático.
       O que te deve estar a confundir, a ponto de ainda pensares em complementos, é a posição do sujeito na frase: não é a mais comum (normalmente abre uma frase), mas não te esqueças que há sujeitos invertidos na sintaxe do português. Na verdade, o verbo 'doer' é tipicamente intransitivo. Daí não selecionar obrigatoriamente nenhum complemento. No caso da frase que estás a trabalhar, esse verbo, porém, apresenta uma realização transitiva indireta, ou seja, uma realização na qual se assume um complemento indireto: o 'me' (que aparece no mesmo local de um 'lhe', na terceira pessoa).
       Espero ter satisfeito e esclarecido a tua dúvida.

      E fico-me por aqui, para não ter de explicar que o 'me', noutras frases e com outros verbos, assume também a função de complemento direto. Antes de dar nó, é melhor gerir a informação a transmitir. Não vá isto tornar-se no triângulo das Bermudas e ficar tudo em desgraçada confusão.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Dizem que é dia de Carnaval

      Nestes tempos de Covid-19, já nada é como era.

      Nem o Carnaval.

Estou assim e não fui à festa! (imagem colhida e adaptada do Facebook)
      
      Como?! Onde, quando?!

      Ahhhhh! Não notei nada.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Diz que são 'ecos'

      Haverá, por certo, razões para tal.

      Isto de ver os heterónimos pessoanos como diferentes do ortónimo só em certa medida faz sentido. De resto, é natural que nos primeiros haja ecos do último e vice-versa (quanto mais não seja, porque Caeiro é assumido por Pessoa como o Mestre).
      A ilustração de João Viegas é sintomática destas relações entre criador e seres criados:

Ilustr. João Viegas, in: Um outro lado de Fernando Pessoa (2016)

    Entre o que um pensa e o(s) outro(s) recupera(m), compõem-se as duas faces de uma moeda: na diferença e na diversidade não deixa de se sentir a unidade.

      As pessoas que o autor tem são tantas que qualquer ser humano nelas se reconhece bem.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O voo da gaivota

       A sucessão dos dias húmidos, chuvosos...

      Basta um raiozinho de sol para germinar alguma alegria.
     Um pequeno espetro de luz, no céu, faz-se notar entre as pesadas nuvens cinza. O horizonte lá está, mais distante do que brilhante.

O voo da gaivota (Foto VO)

     Por cá me fico, vendo e ouvindo as ondas, trazendo maresia; salgando a pele com gotículas tão mínimas que apenas se sentem lançadas pelo vento; rumorejando viagens marinhas; assistindo ao espraiado voo da gaivota. Tão só, tão iludida da sua liberdade, tão esvoaçante, como em fuga do céu pesado e do mar agitado (nem Tchékhov a veria tão desencantada num lago, não estivesse ela a sobrevoar o oceano).

       Chega um fim de tarde que salga e robustece a alma, à espera de melhores dias.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Regresso às aulas

        O título faz lembrar campanha publicitária,...

        É tempo de recomeçar um período letivo que ficou suspenso.
     Ainda assim, houve quem trabalhasse para que a retoma se faça em condições que, não sendo as desejáveis, são as possíveis, para bem de muitos.
    Algumas orientações de partida podem ser a base para que todos se esforcem e tudo se faça para ultrapassar problemas.
       Colaboração e compromisso de todos, exploração de possibilidades, adaptação à situação e não fazer das falhas e faltas a impossibilidade de aprender - eis as palavras e as expressões de ordem destes tempos.
       Estas são algumas orientações essenciais:

(Produção dos Cursos Técnico-Profissionais da ESML)

       A partir de amanhã, volta-se a estar on e com a esperança de que vamos ficar bem.

      ..., mas não se trata disso. Há mais vida para além de redes e grandes empresas comerciais. A rede de educação tem (outros) valores que também interessa partilhar.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Que arrepio!

       É o que dá ler o feed de notícias de algumas páginas do mundo virtual.

     Acontece que nem sempre o virtual anda de mãos dadas com a virtude. É o que se verifica no seguinte caso:

Citação de arrepiar (colhido do feed de notícias na página da Microsoft Edge)

       Dá mesmo para arrepiar! Não saber colocar o pronome (clítico) na posição devida dá para ficar com cara, no mínimo, como a da imagem.
        Tipicamente, ele é colocado à esquerda do verbo (cl-V) nas seguintes situações:

i) frases com predicação negativa 
   (ex.: Faz-se > Não se faz / Disse-se > Nunca se disse);

ii) frases em que o sujeito antecede o verbo e é configurado por um sintagma nominal existencial ou com quantificação universal 
    (ex.: Alguém a avisou / Tudo o incomoda / Nenhum colega me ajudou);

iii) frases em que o sujeito antecede o verbo e se configura com palavras como apenas, até, mesmo, , também.
    (ex.: Os colegas ajudaram-no > os colegas o ajudaram / Os amigos criticaram-no > Mesmo os amigos o criticaram);

iv) frases onde compareça uma conjunção a abrir uma subordinada
     (ex.: Os alunos fizeram o trabalho > Os alunos fizeram-no > Quando os alunos o fizeram / O jovem viveu a situação > O jovem viveu-a > Ele disse que a viveu / Fazes o favor? > Faze-lo? > Ela perguntou se o fazes.);

v) frases com uma sequência relativa deslocada (antecipada face ao pronome)
     (ex.: Dirigi-me a quem me apoiou > A quem me dirigi? /  O João disse-te que não havia aulas > Quem te disse que não havia aulas? / Apresentaste-me uma pessoa > A pessoa que me apresentaste; A pessoa a quem me apresentaste);

vi) Frases com uma sequência inicial tomada como foco
     (ex. Sabe-se pouca coisa dele > Dele se sabe pouca coisa / Convenceram-no a desistir por essa razão > Por essa razão o convenceram a desistir).

      Já  me basta corrigir os alunos que cometem o erro (que o cometem, sublinho). Porque o faço é razão que me assiste profissionalmente. Ler publicidade ou feeds noticiosos, como o apresentado, até me arrepia.

     A bem da colocação dos pronomes, tanto na escrita como na oralidade (embora esta última se apresente como mais "libertina" e não menos libertadora - concessões de imediatismos indesejados).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Vícios...

        Começa-se bem cedo!

        É o que dá para concluir com o seguinte filme:

Assim começam os vícios (vídeo colhido do Facebook)

        Ao que gosto de café, deve ter sido esta a cara mostrada quando se falava de café, mesmo quando se pudesse oferecer uva (que não sei se ficaria apenas pela fruta, com o avançar da idade)!
     Caso para dizer que "De pequenino se torce o pepino" (e não tem nada a ver com prática de agricultor que cultiva os pepinos e precisa de lhe dar a melhor forma, retirando uns "olhinhos" para que eles se desenvolvam e ganhem bom sabor). Que o diga a criança tão interessada num "pouquinho" de café.

         A bem do consumo do dito (logo eu, que até já tive alunos simpaticamente a trazerem-me um à sala de aula - para não falar da prenda de uma bela chávena de café). Do melhor!