Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
É (foi e esperemos que continue a ser) abril, tempo de mudanças.
Em tempos de democracia (de cravo), interessa ver o que abril nos trouxe, por mais cinzentos e pardos que andem os dias. O que se conquistou não se pode perder. Importa da flor não perder a cor.
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Certo é que ditadura rima com escravatura. Talvez tenhamos saído de uma e entrado noutra(s); talvez por isso algum tempo de amargura.
"Always" (do álbum Only Ticket Home, 2018) é uma cantiga sobre perda numa relação, marcada por arrependimento e a consciência de que não será possível voltar atrás.
Ao vivo, num programa de rádio (FM 104), sem arranjos técnicos
ALWAYS
What am I supposed to do without you? Is it too late to pick the pieces up? Too soon to let them go? Do you feel damaged just like I do? Your face, it makes my body ache It won't leave me alone
And this feels like drowning Trouble sleeping Restless dreaming
You're in my head Always, always I just got scared Always, always I'd rather choke on my bad decisions Then just carry them to my grave You're in my head Always, always, always
Cracks won't fix and the scars won't fade away I guess I should get used to this The left side of my bed's an empty space I remember we were strangers So tell me what's the difference Between then and now
And why does this feel like drowning? Trouble sleeping Restless dreaming ...
Porque há muito tipo de relações, as que mantemos com a vida não deixam de cá estar representadas na letra de canção. Entre os passos que se dão e o balanço que deles se faz, pode muitas vezes o arrependimento surgir. Perante a incontornável passagem do tempo e a consciência de que nada mais há a fazer (senão ir em frente), resta a música.
Se quem canta seus males espanta, pode a música suavizar a dor, o arrependimento; exorcizar o que não tem mais volta. Sempre (always)!
A fronteira do fictício e do real é como a linha do horizonte: ilusão de ótica a todo o tempo renovada, procurando a terra da utopia.
Tudo a propósito da poesia de Miguel Torga, ainda que Maria Lionça seja nome para uma personagem de um conto com título homónimo publicado em Contos da Montanha (1941). O próprio autor apresenta-a como criação, invenção, imaginação que se torna verdadeira. É como a obra do escritor: quanto mais ficcionada, criada ou mais imaginada, mais real.
Como força materna, ela resulta numa espécie de caleidoscópio, nas múltiplas variações de luz que uma figura feminina é capaz de dar ao mundo. Neste sentido, Maria Lionça é universal(ista), fonte de energia, e (por isso) encontra-se na origem e nos ciclos renovados da vida. Fiando e tecendo, assim vai compondo a meia, com a linha ou o fio que, dedilhados, a mão já susteve entre a roca e o fuso, numa imagem de continuidade de vida.
Entrevista de Miguel Torga ("Viagem às Terras de Portugal" - Rede Manchete, 1987)
Na vida literária, a obra também se compõe de energia, luta, força da palavra, da linguagem que traduz a própria criação e invenção. Assim a verdade interior do criador é partilhada com o seu leitor, tal como a mãe dá ao filho o que de melhor tem.
No feminino da terra, na força telúrica que o poeta dá a ler, também se revela uma Maria Lionça. Mesmo o masculino a reflete, nomeadamente nesse negrilho plasmado em verso (não deixa de ser árvore de grande porte na expressão da criação poética). Qual Anteu, o poeta alimenta-se da força da terra e, dessa forma, dá voz à Poesia. Nesta apresentam-se marcadamente quatro linhas orientadoras: um desespero humanista, configurado no inconformismo, na luta e na revolta de um Orfeu Rebelde face ao(s) poder(es) que transcende(m) o Homem e o deixa(m) preso a uma realidade que não dá nem traz esperança, utopia ou felicidade; o telurismo como expressão da força e da energia que decorrem da vivência e da proximidade à terra; a problemática religiosa, na questionação de um Deus que, não sendo negado, é acusado de não ser humano nem próximo da racionalidade que o poeta quer sublinhada na vida humana; o drama da criação poética, associado ao esforço, ao trabalho extenuante e contínuo dos que desejam a superação das limitações (nomeadamente os da escrita poética).
No cruzamento destas linhas temáticas cabe também falar de Pátria, de Nação, de Alma e Cultura de um povo - e aqui Maria Lionça também é traço de alma de um país e da sua cultura; de terra e de mar abertos ao mundo, na descoberta de caminhos que têm como destino último a Universalidade, esse princípio que nos aproxima de todos os outros, na busca infindável do que nos leva à felicidade, à utopia.
No reconhecimento do poeta, sigam-se-lhe os trilhos da terra:
Documentário televisivo (Porto Canal) sobre o escritor Miguel Torga
Nas quelhas da vida, também composta de múltiplas ruas, há caminhos a descobrir para lá da aparência e da superficialidade. É na busca do que há de mais profundo, e verdadeiro, que a aproximação ao ideal se constrói. Com esforço e com trabalho.