O momento da caminhada deu para captar uma imagem, tornada fotografia.
No curso do rio,
há um bote sem barqueiro
olhando a margem.
Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Preferível o remendo à exposição ao erro.
Assim o entendeu quem colocou, em plena casa de banho pública de uma cadeia de supermercados reconhecida, um alerta:
Um alerta bem acentuado à espera da vírgula do vocativo (Foto VO)
Ver, ao fundo, aquele quadradinho do 'à', a cor distinta, até chama a atenção para a forma correta da escrita (nem quero imaginar o que, antes, estaria por baixo). De tão vulgar a má escrita, ver um conserto a cor diferente é sempre uma ocorrência mais feliz, mais pedagógica que certas legendas ou títulos televisivos.
Virtuosos o reparo e a mudança de cor (falta a vírgula, depois de 'Estimado(a) cliente,...', mas a correção do erro detetado é sinal de que ainda há quem saiba acentuar).
Entre as mais de quinze aceções dicionarizadas, 'quadro' tem sentido polissémico.
É com esse jogo lexical que se constrói o cartoon seguinte:
Cartoon - Condições de empregabilidade pouco sustentadas
Há o quadro do grupo de trabalhadores de uma empresa; há o da pintura, imagem que se exibe no museu. Ambos decorrem de uma só entrada no dicionário; de uma só origem etimológica.
Não se augura grande futuro no quadro empresarial, a julgar pela Teresinha de "pernas para o ar".
Junto ao Douro, no concelho de Gondomar (Valbom), há uma casa histórica.
É a Casa Branca de Gramido, edifício solarengo do século XVIII (1789) com características de um neoclássico rural. Nela ocorreu, em 29 de junho de 1847, a assinatura da Convenção de Gramido, que assinalou o final de uma época de conflitos entre liberais e absolutistas, nomeadamente os que se sucederam às sublevações populares e burguesas conhecidas, respetivamente, como Maria da Fonte e Patuleia.
Ainda durante o século XIX, o espaço foi armazém de cereais, comercializados pelos proprietários «Cazas Brancas» para a atividade da panificação (de Valongo e Avintes, essencialmente). Os grãos de trigo trazidos rio abaixo pelos barcos rabões (de aspeto mais claro do que aqueles que transportavam carvão) eram desembarcados nesse armazém. Por extensão da designação da família proprietária e pela imagem clara dos barcos, popularmente chegou-se à denominação de "Casa Branca".
Convenção de Gramido (1847)
A projeção e imponência visuais do solar duriense, progressivamente ampliado ao longo do século XIX e restaurado quase século e meio depois, revestem-se da importância histórica de que o local é exemplo, com a afirmação da paz após a Guerra Civil da Patuleia. A Convenção, assinada entre comandantes dos exércitos espanhol e britânico (entrados em Portugal ao abrigo da Quádrupla Aliança), mais os representantes da Junta do Porto e as forças do governo mais conservador, selou a derrota dos setembristas (revoltosos) frente aos cartistas (apoiados pela rainha) numa guerra civil que vinha a assolar o país desde a década de vinte e, mais particularmente, nos anos de 1846-1847. Menos de cinco anos depois, a concórdia viria a sofrer algum revés, com a força governamental apoiada por D. Maria II a retirar aos revoltosos poderes e influências em prol de um maior conservadorismo.
A recuperação da casa, depois de uma fase de crescente degradação e de um incêndio que praticamente a abandonou a um estado de desleixo e decadência inevitáveis no século XX, ocorre no período 2005-2006, sendo a inauguração da sua requalificação datada de 31 de maio de 2008.
Marginal do Douro, em Gondomar (Foto VO)
Na marginal do Douro, a Casa Branca de Gramido vigia o curso do rio.
Quando a natureza se revela inspiradora para as narrativas.
Pela zona de Lavadores, com o olhar na direção do mar, há uma composição rochosa chamada de "Pedra Moura": um bloco granítico sobre outro afim, com fratura visível provocada pela erosão.
"Pedra Moura" e os pedregulhos de Lavadores (Foto VO)
Para quem ache ser explicação ou descrição demasiado científica, pode sempre recorrer à lenda - mais uma entre as muitas que povoam o imaginário nacional, com a típica temática da moura castigada (ou não fosse a terra lusa dominantemente cristã).
Ora, conta a lenda (maneira sempre eficaz de se apagar o narrador e os efeitos que este pudesse introduzir na narrativa) que uma bela e formosa moura (são-no sempre, apesar de punidas, demoníacas e tentadoras) recebeu um grande castigo (lá está - depois dizem que hoje é que somos preconceituosos): trazer pedras das profundezas marítimas até às proximidades do areal (coitada)! Porém, o mar (soberbo) retomava tudo o que lhe pertencia e, com as marés, fazia voltar essas pedras ao fundo marinho (mais fazendo da moura a versão feminina de Sísifo). O esforço persistente da mourisca (afinal, tem alguma virtude) fez que, um dia, de lá trouxesse um penedo, penosa e colossalmente colocado em cima de um outro (uma moura muito hercúlea, portanto). Vencido o mar, lá estão os pedregulhos, desafiando o oceano. É a Pedra Moura de leva...dores ou que lava... dores pelo castigo cumprido (ao que chega o sentido toponímico da história).
Quem quiser saber dos motivos do castigo, talvez tenha que investigar sobre os tempos do rei Ramiro e do filho, D. Ordonho, mais o rei mouro Alboazer Alboçadam que detinha as terras de Gaia. Há de lá encontrar uma moura formosa (mais vítima do que merecedora de castigo).