quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Gramido: a casa branca

       Junto ao Douro, no concelho de Gondomar (Valbom), há uma casa histórica.

     É a Casa Branca de Gramido, edifício solarengo do século XVIII (1789) com características de um neoclássico rural. Nela ocorreu, em 29 de junho de 1847, a assinatura da Convenção de Gramido, que assinalou o final de uma época de conflitos entre liberais e absolutistas, nomeadamente os que se sucederam às sublevações populares e burguesas conhecidas, respetivamente, como Maria da Fonte e Patuleia. 

Casa Branca de Gramido I, após requalificação com o programa POLIS (Foto VO)

Casa Branca de Gramido II, após requalificação com o programa POLIS (Foto VO)

     Ainda durante o século XIX, o espaço foi armazém de cereais, comercializados pelos proprietários «Cazas Brancas» para a atividade da panificação (de Valongo e Avintes, essencialmente). Os grãos de trigo trazidos rio abaixo pelos barcos rabões (de aspeto mais claro do que aqueles que transportavam carvão) eram desembarcados nesse armazém. Por extensão da designação da família proprietária e pela imagem clara dos barcos, popularmente chegou-se à denominação de "Casa Branca".

Convenção de Gramido (1847)

  A projeção e imponência visuais do solar duriense, progressivamente ampliado ao longo do século XIX e restaurado quase século e meio depois, revestem-se da importância histórica de que o local é exemplo, com a afirmação da paz após a Guerra Civil da Patuleia. A Convenção, assinada entre comandantes dos exércitos espanhol e britânico (entrados em Portugal ao abrigo da Quádrupla Aliança), mais os representantes da Junta do Porto e as forças do governo mais conservador, selou a derrota dos setembristas (revoltosos) frente aos cartistas (apoiados pela rainha) numa guerra civil que vinha a assolar o país desde a década de vinte e, mais particularmente, nos anos de 1846-1847. Menos de cinco anos depois, a concórdia viria a sofrer algum revés, com a força governamental apoiada por D. Maria II a retirar aos revoltosos poderes e influências em prol de um maior conservadorismo.

   A recuperação da casa, depois de uma fase de crescente degradação e de um incêndio que praticamente a abandonou a um estado de desleixo e decadência inevitáveis no século XX, ocorre no período 2005-2006, sendo a inauguração da sua requalificação datada de 31 de maio de 2008.

Marginal do Douro, em Gondomar (Foto VO)

      Enquadrada num espaço reabilitado, a Casa Branca de Gramido faz relembrar o romance Uma Família Inglesa ([1867] 1868), de Júlio Dinis, quando Manoel Quintino, guarda-livros da família Whitestone, se refere à zona da marginal como não havendo "outro passeio assim nos arredores do Porto". Desse passeio, em manhã mais soalheira, se faz aqui registo, em tempos mais contemporâneos.

       Na marginal do Douro, a Casa Branca de Gramido vigia o curso do rio.    

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