sexta-feira, 30 de julho de 2010

Estarei a precisar de açúcar?

    Finalmente as férias: o sal e o açúcar que se impõem.

    Há um pacote de açúcar que já deu muito que falar (dentro e fora das aulas): por Camões, pelo 'canto' relembrado da epopeia, pela 'música' que a voz dá à poesia no acto de ler / recitar.


     Reencontrei-o neste meu primeiro dia de férias.
    Com o cheiro a sal no ar e sem o açúcar (que estraga "a verdade do café"), experimento o primeiro dia de um 'dolce far niente dopo molto lavoro'.

    Hum! Estas palavrinhas em italiano estão a fazer-me viver o verdadeiro sentido das férias.

domingo, 11 de julho de 2010

Ai que é já depois de amanhã!

       Não sei porquê, mas tenho a sensação de que vou fazer exame. Oxalá não reprove!

     No 1º Encontro 'A Linguística na Formação de Professores de Português' estava numa posição mais cómoda: a de espectador!
    Agora, vou ser espectador e comunicador. Espero que o seja com alguma "consciência". Impõe-se.
   Pretendo começar por dar conta de uma conversa que veio ao meu encontro no melhor dos momentos (Uma amiga dirá: nada é por acaso. E tem razão!).
    Aqui vai um pouquinho da comunicação:

    "... começo por partilhar um episódio recentemente experienciado.
    O local é uma feira do livro-outlet em Espinho. Aí captei uma conversa de dois interlocutores que se pronunciavam sobre o interesse da leitura e as vantagens desta para o melhor conhecimento da língua. Disfarçadamente procurei acompanhar o que era dito. Simulei o meu interesse por algumas páginas de livros avulsos, quando eram os ouvidos a deixarem-se levar por uma reflexão que me despertou a atenção pelo tema e pela preparação da comunicação para este encontro (que, então, se avizinhava). Mencionados alguns erros comuns na utilização da língua - como os familiares ‘bem-vindo (adjectivo, interjeição) / benvindo (nome)’, ‘traz (verbo) / trás (preposição)’, ‘comesse / come-se’, ‘adesão / aderência’), evoluiu-se para a discussão de estratégias na resolução de outros casos críticos. Um dos elementos dizia que, na escrita, tendia a substituir a palavra ‘ansioso’ por ‘perturbado’, por não conseguir «conscientemente» distinguir se na primeira devia grafar ‘s’ ou ‘c’; o outro lamentava que muitos dos nossos jovens separassem (cito) “os ‘mos’ dos verbos”, quando ele tinha aprendido uma regra fácil para evitar esse erro tantas vezes cometido: «Olhe, nada mais fácil que colocar o ‘nós’ antes do verbo, para saber que não devo separar o ‘mos’».

     Isto de contar conversas alheias não está a parecer comportamento lá muito virtuoso. Enfim!

    Tenho mais dois dias ...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

E ainda por causa das formas de tratamento...

      Estamos sempre a aprender!

    Depois do 'você', há outro cuidado a ter, com as "senhoras donas". Assim se depreende do texto seguinte.

   Senhoras donas, por favor!

      Cada país (cada língua, cada cultura) tem a sua maneira específica de se dirigir às pessoas. Mal passamos Vilar Formoso, logo toda a gente se trata por tu, que os espanhóis não são de etiquetas nem de salamaleques.
     Mas nós não somos espanhóis.
    Também não somos mexicanos, que se tratam por "Licenciado" Fulano. Nem alinhamos com os brasileiros, para quem toda a gente é "Doutor", seguido do nome próprio: Doutor Pedro, Doutor António, Doutor Wanderlei, etc..
     Por cá, Doutor é seguido de apelido, e as mulheres, depois de passarem por aqueles brevíssimos segundos em que são tratadas por "Menina", passam de imediato - sejam casadas, solteiras, viúvas ou amigadas, sejam velhas ou novas, gordas ou magras, feias ou bonitas, ricas ou pobres - à categoria de "Senhora Dona".
     Mas parece que uns estranhos ventos sopraram pelas cabeças das gerações mais novas que fizeram o "dona" ir pelos ares ou ficar no tinteiro. Quando recebo daqueles telefonemas que me querem impingir tudo o que se inventou à face da terra - desde "produtos" bancários que me garantem vida farta, até prémios que supostamente ganhei por coisas a que nunca concorri - sou logo tratada por "Senhora Alice." Respondo sempre: " trate-me por tu, se quiser; ou só pelo meu nome, se lhe apetecer; mas nunca por Senhora Alice".
     Mas o cérebro destes pobrezinhos não foi formatado para encontrar resposta a estas coisas, e exclamam logo: "Ah, então não é a Senhora Alice que está ao telefone!"
    Eu sei que isto não é uma coisa importante, mas que é que querem, irrita-me quando oiço este tratamento dado às mulheres.
    Tal como me irrita quando vejo/oiço um jornalista tratar por você alguém com o dobro da idade dele.
    É uma questão de delicadeza. De respeito. E de saber falar português. Três coisas, admito, completamente fora de moda.
    Pois qual não é o meu espanto quando, aqui há dias, na televisão, oiço o Senhor Primeiro Ministro referir-se assim à mulher (também odeio a palavra "esposa"?) do Comendador Manuel Violas. "A Senhora Celeste?" (não sei se é este o nome da senhora, mas adiante).
    Fico parva. Nos cursos todos que tirou, ninguém lhe ensinou que as senhoras são todas "Senhoras Donas"?
    Parafraseando livremente o nosso Augusto Gil, "que quem trabalha num call-center nos faça sofrer tormentos? enfim! Mas o Primeiro-Ministro, Senhor? Por que nos dás esta dor? Por que padecemos assim?

    Assim o escreveu Alice Vieira, numa rubrica do Jornal de Notícias: coluna 'Opinião' , do dia 18 de Setembro de 2008 (pág. 12).

     Não posso esquecer-me disto, para fazer melhor figura que o Senhor Primeiro Ministro (isto porque já não há vento para soprar pela cabeça desta minha 'geração' que já vai nos '-entas') ou para não me equiparar a um trabalhador de call-center (quem sabe se, um dia, não vai ser isto o futuro de um professor: "Estou, sim! Faça o favor de dizer o que deseja aprender!").

terça-feira, 6 de julho de 2010

De alguma deriva nas formas de tratamento

       Alguma da evolução da língua também se faz sentir na dimensão pragmática.

    No capítulo das formas de tratamento, muitos sinais de deriva podem ser perspectivados à luz das diferenças entre o que alguns textos deixam ler e o que as relações interpessoais dão a ver.

    "Este dia [quando Dâmaso fora convidado por Afonso a ir jantar ao Ramalhete] pareceu belo a Dâmaso, como se fosse feito de azul e ouro. Mas melhor ainda foi a manhã em que Carlos, um pouco incomodado e ainda deitado, o recebeu no quarto, como entre rapazes... Daí datava a sua intimidade: começou a tratar Carlos por você. Depois, nessa semana, revelou aptidões úteis (...); e daí por diante passava horas à banca de Carlos (...) Tanta dedicação merecia um tu de familiaridade. Carlos deu-lho."

Os Maias, de Eça de Queirós, cap. VII (pág. 190)

     Cláudio Basto, no artigo "Formas de tratamento, em Português" publicado na Revista Lusitana (nº 29, pp. 183-202) regista 'você' como um derivação de 'vossa mercê' (tratamento nominal outrora dirigido ao rei), que o tempo fez registar com as variantes e reduções fonéticas de 'vossemecê', 'voss'mecê', 'vossancê', 'vomecê', võcê'. A par destas evoluções sonoras, chegou-se ao desprestígio social do tratamento (na zona do Minho e dos Açores há quem reaja, dizendo "você é estrebaria").
     Actualmente, a simplificação que a forma de tratamento permite - pela adopção e redução das marcas morfológicas de flexão verbal à terceira pessoa -; a vulgarização de um discurso de 'moda, de bom tom, de chic'; a exposição ao registo do Português do Brasil acabam por a converter a um sinal de crescente democratização, ainda que socialmente marcado na diferenciação do que é uma pessoa saber avaliar a adequação da sua utilização.
    Por isso, quando um aluno me trata por 'você' e eu o corrijo (explicando a inadequação desse tratamento face a alguém que nos é superior na idade, na experiência, no estatuto), a velha questão do respeito, da adequação, da importância ou mesmo da familiaridade é evocada, por um tratamento que me é contra-argumentado de forma afectiva, comparada à de um pai ou um avô. Em tempos diria, à de um rei!

      E a minha vontade, no meio de tanta deriva, é quase esquecer a questão e dizer: obrigado (mas, para o bem da integração social deles, não o posso fazer).

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Porque dá a sensação de que isto (nos) é familiar...

    Em tempos de Educação atravessada pelos princípios neo-liberais que a sociedade, em geral, idolatra, faz bem lembrar alguns testemunhos e algumas perspectivas.

    Este vem de alguém que, na actualidade, há muito reflecte sobre a formação de professores:

   "Profissão que deixou de ser compreendida como arte, mas como técnica baseada na aplicação da ciência ao ensino e à escola. Esta deverá organizar-se de uma forma racional, aplicando princípios organizacionais das empresas eficazes. Trata-se, portanto, de formar professores eficazes para uma escola eficaz, procurando a investigação científica isolar as características que distinguem as escolas eficazes das não eficazes. Alunos, professores e escolas ligam-se pela mesma preocupação de racionalidade, eficácia e controlo. Por isso, a formação é isomórfica do ensino".

Maria Teresa Estrela (2002: 21) - "Modelos de Formação de Professores e seus Pressupostos Conceptuais"
in Revista de Educação, vol. XI, nº 1, Lisboa, Departamento de Educação da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

     Assim se caracteriza o programa de formação baseado no Competency-Based Teacher Education (em voga nos anos 70, nos EUA). Tudo muito a aproximar-se de um neo-behaviourismo e de uma lógica tyleriana das organizações. É bom que os partidários do discurso dos "clientes" na escola e os promotores de formação formatada, padronizada para todos (como se os problemas, as questões de educação fossem de uma só natureza e do mais literalmente tecnológico), certificadora pela frequência - e não tanto pelas aquisições demonstradas - reflictam sobre esta visão, nem formativa nem formadora para ninguém (o tempo o dirá, se é que já não o está a dizer). Basta ver, com atenção, a crise em que a economia neoliberal nos lançou.
    É o que faz ver a escola, e o que em torno dela gravita, na lógica dominante das empresas e dos resultados.

sábado, 3 de julho de 2010

Chegou o que havia sido anunciado

    Primeiro o prometido ou anunciado... depois o devido. Em tempo de verão, há uma "Bola de Neve" que gela mesmo quem acha que o bullying não é uma das questões quentes nas relações humanas.

    A ideia de um trio (R3 Produções) que, de R, tem o espírito do que é realizável, reanimador; do reconforto, do reconhecimento e da recreação. E também da reflexão.

   
    A 'bola de neve' sugere todo um processo que sai do nosso controlo, o acumular que pode conduzir ao perigo dos extremos (a ser consciencializado, para poder ser evitado).
   E 'bullyings' há muitos nesta vida (nas ruas, nas escolas, nos espaços domésticos, nas pessoas, nos media, nos actos e nas palavras). Nada como nos despedirmos deles todos, para que ela se torne mais salutar, dando lugar ao que se possa construir sem violências, sem medos, sem perseguições.
  
    Uma realização que não deixa de lembrar a primeira experiência que visionei, há cerca de um ano: "Um Programa Sucinto", feito de contratos de leitura. Já nessa altura se marcou pela diferença. Parabéns ao grupo da produção, da realização e da representação.