No meio de tanta escrita, leitura e correcção, houve que parar.
Pessoa(s) e Girassóis
À beira-rio
Estavam os dois sentados:
Lídia e Ricardo Reis.
As mãos desenlaçadas,
No meio, um girassol.
Caeiro, de pé, cajado na mão, ausente do rebanho
Seguia o curso do rio,
Evitando assim o papel constrangedor do tradicional pau-de-cabeleira.
Perto, um cordeiro balia…
Balido tangido nos girassóis que,
Por entre faias altas,
Amareleciam as margens.
Pessoa dormia à sombra de uma faia.
Sonhava com Álvaro de Campos perdido no labirinto da cidade,
Numa mansarda, donde via, também em sonhos,
Crianças brincarem em sacadas altas,
Por entre vasos de flores…
(Seriam também elas girassóis?)
E o sonho de Pessoa impregnava-se do sonho de Campos,
De tal modo que já não se percebia onde começava um
e onde terminava o outro…
Os sonhos e os homens!
Todos se confundiam…
E eu, que não fazia parte do quadro irreal e bucólico,
Saltei para dentro do poema
E roubei três girassóis!
E assim a fantasia ensolarou a realidade entediante de 55 provas
Cheias de uma literatura mal percebida
E muito pouco sentida!
IDEIAS para o DIA de um PASTOR
Foi à soleira da porta,
entre o vim e o vou
(no anunciar de um vaivém repetido),
que um Caeiro, sem cajado e sem rebanho,
se abrigou do sol e das nuvens que simplesmente não estavam no céu
- tinham fugido, como as ovelhas, à procura de um verde desterrado pelo azul.
Na madeira de um chão que já fora empedrado de uma varanda
(aberta ao calor de uma tarde que se punha, ainda quente),
cumpria-se o instante de um homem que se quis junto das ideias,
para que a invenção fluísse na cadência de um momento
composto da eterna novidade das coisas.
..........................................................................
O tempo só o foi porque o homem encontrou as ideias e as perdeu...
E nesse vivido instante, por mais que as nuvens não estivessem no céu,
(também não estavam com o rebanho que, na imaginação do pastor, em campo seu
nunca pastara - Ai! Como poderia!), ameaçavam elas, em lugar de escarcéu,
um girassol colhido na poesia, mas que Caeiro, sem demora, esqueceu.
Em carreirinha, quais árvores de fruto em plantio ou letras escritas em linha,
lá estavam elas, uma nuvem atrás da outra, fazendo pensar quem olhos tinha
(duas janelas para uma mente que evitava o pensamento; ele, porém, teimoso vinha).
Quebrada a harmonia, nessa tarde em que o azul se mantinha,
o girassol reinava junto às nuvens que ensombravam uma ribeirinha...
... aquela que, não existindo, podia matar a sede de tanta ovelhinha!
Assim, a amarelejada flor trazia o verde que o rebanho não comera;
que o céu, na sua cerúlea e límpida cor, também não dera.
Mesmo o mar, sem norte, sem rosas, em pleno Sul... também não o fizera!
Foi então que Caeiro olhou o capítulo e se fixou na riqueza das grandes pétalas.
Céu e girassol são o verde de um rebanho que sobreviveu...
Não é deles, vosso, nosso, seu, teu, meu...
De ninguém! Nem de Caeiro, que, ao fim desse dia, se fez esquecido das nuvens e se
[recolheu.
Vigilante, toda a noite, ficou o girassol (que à escuridão um toque de ouro deu).
No enjoo, no desespero e na agonia por muitos partilhada, e como forma de minimizar tanto mal-estar, houve encontro, partilha, convívio, trabalho, oferendas e ainda houve quem avançasse com uns versos inspirados em Pessoa(s) e Flor(es).
À beira-rio
Estavam os dois sentados:
Lídia e Ricardo Reis.
As mãos desenlaçadas,
No meio, um girassol.
Caeiro, de pé, cajado na mão, ausente do rebanho
Seguia o curso do rio,
Evitando assim o papel constrangedor do tradicional pau-de-cabeleira.
Perto, um cordeiro balia…
Balido tangido nos girassóis que,
Por entre faias altas,
Amareleciam as margens.
Pessoa dormia à sombra de uma faia.
Sonhava com Álvaro de Campos perdido no labirinto da cidade,
Numa mansarda, donde via, também em sonhos,
Crianças brincarem em sacadas altas,
Por entre vasos de flores…
(Seriam também elas girassóis?)
E o sonho de Pessoa impregnava-se do sonho de Campos,
De tal modo que já não se percebia onde começava um
e onde terminava o outro…
Os sonhos e os homens!
Todos se confundiam…
E eu, que não fazia parte do quadro irreal e bucólico,
Saltei para dentro do poema
E roubei três girassóis!
E assim a fantasia ensolarou a realidade entediante de 55 provas
Cheias de uma literatura mal percebida
E muito pouco sentida!
IA, Gondomar e Porto, 30 de Junho 2011
Porque nos entendemos mais neste universo criativo ou porque buscamos nele o bem que a realidade não está a dar, o diálogo surgiu, depois da oferta de três girassóis que deram alegria e cor a um dia soalheiro, de calor e com muitas provas para corrigir.
Foto de Vinicius Weide
Foi à soleira da porta,
entre o vim e o vou
(no anunciar de um vaivém repetido),
que um Caeiro, sem cajado e sem rebanho,
se abrigou do sol e das nuvens que simplesmente não estavam no céu
- tinham fugido, como as ovelhas, à procura de um verde desterrado pelo azul.
Na madeira de um chão que já fora empedrado de uma varanda
(aberta ao calor de uma tarde que se punha, ainda quente),
cumpria-se o instante de um homem que se quis junto das ideias,
para que a invenção fluísse na cadência de um momento
composto da eterna novidade das coisas.
..........................................................................
O tempo só o foi porque o homem encontrou as ideias e as perdeu...
E nesse vivido instante, por mais que as nuvens não estivessem no céu,
(também não estavam com o rebanho que, na imaginação do pastor, em campo seu
nunca pastara - Ai! Como poderia!), ameaçavam elas, em lugar de escarcéu,
um girassol colhido na poesia, mas que Caeiro, sem demora, esqueceu.
Em carreirinha, quais árvores de fruto em plantio ou letras escritas em linha,
lá estavam elas, uma nuvem atrás da outra, fazendo pensar quem olhos tinha
(duas janelas para uma mente que evitava o pensamento; ele, porém, teimoso vinha).
Quebrada a harmonia, nessa tarde em que o azul se mantinha,
o girassol reinava junto às nuvens que ensombravam uma ribeirinha...
... aquela que, não existindo, podia matar a sede de tanta ovelhinha!
Assim, a amarelejada flor trazia o verde que o rebanho não comera;
que o céu, na sua cerúlea e límpida cor, também não dera.
Mesmo o mar, sem norte, sem rosas, em pleno Sul... também não o fizera!
Foi então que Caeiro olhou o capítulo e se fixou na riqueza das grandes pétalas.
Céu e girassol são o verde de um rebanho que sobreviveu...
Não é deles, vosso, nosso, seu, teu, meu...
De ninguém! Nem de Caeiro, que, ao fim desse dia, se fez esquecido das nuvens e se
[recolheu.
Vigilante, toda a noite, ficou o girassol (que à escuridão um toque de ouro deu).
(Rua da Zorra,
no último dia de um junho
de muita leitura e muito pouca literatura)
E, assim, por momentos, a alternativa surgiu, pelo menos até que o virtual deu, de novo, lugar ao triste real.
Amanhã é dia para continuar.