104 anos depois, mantém-se a questão.
Nome de referência local e nacional, Manuel Laranjeira é hoje lembrado pela morte que escolheu ao final de quase 35 anos de vida.
Nascido no concelho de Vila da Feira (Mozelos) e oriundo de uma família pobre, Manuel Laranjeira teve um percurso de vida a tentar contrariar algum determinismo sociológico. Mais de três décadas de vida singraram-no à condição de médico, de intelectual ligado à escrita, à intervenção artística, social e política de então. Era o tempo entre a Geração de 70 (à data de nascimento) e os anos 20 do século seguinte, num Portugal saído da I Guerra Mundial (marcado pela crise constante em que vinha a sobreviver).
Numa convergência de fatores (desde motivos mais contextuais a razões de carácter mais pessoal), não contrariou um pessimismo tão crítico para o país como fatal para uma visão da vida conjugada num misticismo e numa perspetivação estética, feitos de valores que tanto marcam o seu tempo como estão aquém e além dele.
Disso mesmo trata a letra do "Fado Rezende (Ao morrer os olhos dizem)", recentemente identificada como produção de Manuel (Fernandes) Laranjeira. Investigações de Anjos de Carvalho, realizadas na década de 90 do século XX no âmbito do fado de Coimbra, e a publicação das quadras no livro Comigo. Versos dum Solitário (1912) atestam-no.
Às palavras do escritor espinhense juntou-se a música do compositor Alexandre Rezende:
Nascido no concelho de Vila da Feira (Mozelos) e oriundo de uma família pobre, Manuel Laranjeira teve um percurso de vida a tentar contrariar algum determinismo sociológico. Mais de três décadas de vida singraram-no à condição de médico, de intelectual ligado à escrita, à intervenção artística, social e política de então. Era o tempo entre a Geração de 70 (à data de nascimento) e os anos 20 do século seguinte, num Portugal saído da I Guerra Mundial (marcado pela crise constante em que vinha a sobreviver).
Numa convergência de fatores (desde motivos mais contextuais a razões de carácter mais pessoal), não contrariou um pessimismo tão crítico para o país como fatal para uma visão da vida conjugada num misticismo e numa perspetivação estética, feitos de valores que tanto marcam o seu tempo como estão aquém e além dele.
Disso mesmo trata a letra do "Fado Rezende (Ao morrer os olhos dizem)", recentemente identificada como produção de Manuel (Fernandes) Laranjeira. Investigações de Anjos de Carvalho, realizadas na década de 90 do século XX no âmbito do fado de Coimbra, e a publicação das quadras no livro Comigo. Versos dum Solitário (1912) atestam-no.
Às palavras do escritor espinhense juntou-se a música do compositor Alexandre Rezende:
Vídeo de um espetáculo no Café de Santa Cruz (Coimbra)
Ao morrer, os olhos dizem:
- «Pára, Morte, e espera aí!
Vida não vás tão depressa
Que eu inda te não vivi...»
E a Vida passa e a Morte
É que responde em vez dela:
- «Mas que culpa tem a vida
De que não saibam vivê-la?
Um fado (ao estilo e registo da academia de Coimbra) para uma letra cujo autor ficou por largos anos incógnito. Quase como se fosse o fatum a negar-lhe a existência da obra, e talvez da vida. Ainda assim, esta última acabou por ser determinada pelo próprio ser que, de alguma forma, traçou, por antecipação, o seu fim.
Quem pode avaliar se alguém soube ou não viver a vida? Miguel de Unamuno, no prefácio das Cartas de Manuel Laranjeira, considerou que, ao seu amigo (que via mais como um "sentidor" do que pensador), "Matou-o a vida" e que, "ao matar-se, deu vida à morte!"