Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Uma dramatização de uma obra que foi apresentada há dois meses na EB de Guetim.
Em pouco tempo se fez muito, numa das iniciativas que animaram a Semana da Leitura numa das escolas do AEML. Educadoras, professoras e alunos(as) motivados e animados recriaram um texto que, da tradição, ganhou temáticas novas pela escrita das autoras (um ato I com explicação para o João Ratão ser glutão; um ato II conforme a tradição; um ato III que reforça a lição); se concretizou em ato de representação, dando continuidade à expressão artística e dramática, em sede de inovação.
Nas palavras de uma das autoras, "foi uma manhã muito bonita". E a alegria de todos aconteceu. Isto é escola.
Depois do cansaço do dia, só o café trouxe a energia que já não tinha.
No desconcerto do momento, olhando as ondas e o cinzentão do final de tarde, peguei numa caneta e rabisquei o canto de uma folha impressa, já usada, mas ainda com espaços para rascunhar ideias, soltas, vagas, à espera de um sentido que não tenho de ser eu a dar.
Palavras, imagens e sons com alguma poesia (texto e filme VO)
LIBERDADE E CLARIDADE
Há quem se perca e se prenda na ilha.
Cada porto é chegada a nova terra. Cada ilha se faz terra para novo mar. O céu está além, para as estrelas. Nem sempre se dão a ver; estão lá. Dissipada a névoa, fugidas as nuvens, limpo o céu, aquelas brilham, ainda.
Presença de luz invisível no vazio Da escuridão instalada, cá na terra, Sem sol nem claridade. Só dor.
Há que fugir da ilha. Banhar no mar.
Sem bagagem, lancei-me na viagem. Não sei onde vou dar ou parar.
Hoje, porém, não se trata de outra coisa senão lembrar o café, ainda que a propósito de um pacote de açúcar (não é a primeira vez que recorro a eles para produzir um comentário - entre os positivos e os negativos, há doçuras para vários graus):
Um pacote de açúcar a lembrar café e alguém mais (Foto VO)
À semelhança de muitos outros dias, trago comigo a pequena e doce dose, para não consumir. Simplesmente, ao ler a publicidade nele contida, relembro uma pessoa que hoje parte desta vida. É difícil encontrar alguém que, nestes tempos e na passagem do próprio tempo, seja tão consensual quanto a virtudes, a ponto de o considerarem simples, afável, atento, encantador, sorridente, alegre, humilde, bem sucedido e com forte preocupação social. Difícil juntar todos estes ingredientes num só ser humano.
Comendador da Ordem Infante D. Henrique (2006) e da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial (1995), Rui Nabeiro ficou conhecido como o Senhor Delta Café. Hoje é notícia pelo seu falecimento. Felizmente foi um dos que, em vida, viu reconhecido o importante papel que teve para muitos. Teve prémios, teve agruras e, inteligentemente, conviveu com ambos.
Apoiando-me na mensagem publicitada, apetecia-me mudá-la: "E se o café desafiasse a mortalidade?" As boas pessoas não deveriam nunca deixar este mundo (até para contrariar aquelas outras que, ficando, só fazem e vivem em guerra com tudo e todos).
Engraçado ver que, mal começo, vem uma chuva de exemplos.
É o que acontece sempre que, por aqui, menciono um erro ou outro nos nossos canais televisivos. Dos mais repetitivos na tipologia de erro aos mais originais, lá me vão facultando fotos do que "corre" nalgumas legendas.
Desta feita, chegou-me às mãos / aos olhos o seguinte:
Sem pânico na machadada perpetrada na língua - assim vão as notícias (com agradecimento à AD)
No âmbito comum da ortografia, este é um erro que pode instalar-se pela natureza de alguma irregularidade morfológica do verbo, nomeadamente no contraste 'o/u' de algumas formas (foge, foges, fujo, fugimos, por exemplo). A fonética, contudo, ainda permite distinguir o que alguma convencionalidade gráfica pode fazer perigar (mais no contraste 'j/g' do que nos casos vocálicos em concreto).
Ver este erro em contextos de aprendizagem da língua ou de utilizadores menos esclarecidos poderá (ainda) ser compreensível e uma boa oportunidade para mostrar regularidades no reconhecimento do léxico (como é o caso da família de palavras evidenciada em 'fugir > fujo > fugimos > fuga > fugido > ...'). Nos meios de comunicação social, é impensável ler o que nos é dado a ver.
Até podia ser alguém que não quisesse ouvir detidos.
Só que, para tal, era necessário que estes existissem. E tal não aconteceu! Portanto, "não houve detidos" era o que devia ser lido; porém, o que apareceu escrito...
Um ouvir confundido com existir - sensacional! (Foto enviada pela AMT, com o devido agradecimento)
No meio de tanto sensacionalismo, o que não é nada sensacional é haver alguém a confundir o verbo 'ouvir' com 'haver' e, na homofonia de formas verbais distintas graficamente, um canal de comunicação difundir um erro crasso: não distinguindo os verbos, não diferenciando os tempos, não exemplificando o rigor que propaga aos quatro ventos (e mal e parcamente denuncia em quatro letras, que deveriam dar lugar a cinco).
Caso para dizer que, no canal televisivo das desgraças, uma desgraça nunca vem só!
Não bastava o tema (desconcertante) também tinha de vir a forma (errada).
Não, já nem sequer menciono o tema, de tão evidente e noticiado que tem sido. Não fosse essa nódoa social (caída em pano que não pode ser da melhor qualidade), uma outra surge já tão comentada por mim sempre que uso estrategicamente o sinónimo de 'sobre':
Confusões... da Igreja e da Televisão: Onde está a salvação?
(Foto VO a partir da emissão do Telejornal da RTP1, com agradecimento à ARS pela leitura atenta)
Muitos ouviram-me dizer "E toca a escrever bem, porque, nos sinónimos, de uma só palavra se trata, seja 'sobre' seja 'acerca'.
Precisa a Igreja de salvação e de perdão; a ortografia, de correção (Valha-nos Deus ou um santinho qualquer)!
Quem redige os rodapés televisivos na RTP anda a precisar de umas aulas de Português, mais propriamente de ortografia, para não se deixar enganar ora por paronímias (acerca / a cerca / à cerca) ora por homofonias (há cerca / à cerca / acerca) que a língua tem.
Diz o jornalista que o Sr. primeiro ministro afirmou que só na poesia é que basta Deus querer para a obra nascer.
A citação, feita por José Rodrigues dos Santos, evocando o discurso de António Costa, é redutora e incompleta. Basta ouvir o restante apontamento noticioso televisivo (Telejornal da RTP1, pelas 20:40-20:42) para confirmar como o governante foi bem mais completo na tradução do pensamento pessoano: "Só na poesia é que basta Deus querer, o homem sonhar e a obra aparecer".
Pessoa-Poesia-PRR: relações que a (ir)realidade tece no Telejornal da RTP 1 (Foto VO)
Sem necessidade de precisar arquitetos e empreiteiros implicados na obra (faltaram os trolhas, sem cujas mãos nada passa a existir), diria que o discurso ministerial foi mais feliz na tríade plasmada em verso famoso. Embora "aparecer" esteja mais para "nascer" (tal como o jornalista apresentou e o poeta modernista o concebeu - "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"), a obra talvez não seja tão concreta como o governante a quer fazer passar, ao referir-se à construção de uma estrutura residencial para idosos (a Unidade Social Da Cruz Vermelha da Portela). Pessoa estava mais para algo da ordem do espiritual, do imaterial, do idealizado, do inconsciente. A materialidade e o real eram enleio para o poeta que nos deixou uma "Mensagem": a de que "falta cumprir-se Portugal!" (cumprido o Mar e desfeito que foi o Império geográfico, histórico, material) e, por isso, indiretamente se subentende o convite ao "Cumpra-se!".
Entre jornalismo e governação, fico-me pela literatura, pela poesia, por ser libertadora de enredos e enleios de uma realidade que vai deixando a desejar, não obstante a pluralidade de cores esbatidas, pálidas para o bem humano.
Isto de misturar poesia com obras concretas (de cimento, mesmo), PRR e reações a discursos políticos tem muito pouco que se lhe diga. E do jornalismo redutor, incompleto e condicionador mais vale nem falar.
Não sei se é pela língua, se pela musicalidade, se pela interpretação, se por versos que traduzem muito de uma realidade que gostaria de ver contrariada.
Do ritmo embalatório inicial ao crescendo poderoso do ritmo e da voz, Marco Mengoni vence o festival de San Remo, fazendo caminho para a Eurovisão. Fá-lo pela segunda vez, depois da passagem de uma década, quando representou a Itália com "L'Essenziale". Regressa com "Due Vite":
Representante da Itália no Festival da Eurovisão (2023)
Duas vidas: a real e a da inconsciência (a lembrar muitos tópicos pessoanos, diria). Letra e melodia numa conjugação perfeita.
DUE VITE
Siamo i soli svegli in tutto l'universo
E non conosco ancora bene il tuo deserto
Forse è in un posto del mio cuore dove il sole è sempre spento
Dove a volte ti perdo, ma se voglio ti prendo
Siamo fermi in un tempo così, che solleva le strade
Con il cielo ad un passo da qui, siamo i mostri e le fate
Dovrei telefonarti, dirti le cose che sento
Ma ho finito le scuse e non ho più difese
Siamo un libro sul pavimento in una casa vuota chе sembra la nostra
Il caffè col limone contro l'hangover, sеmbri una foto mossa
E ci siamo fottuti ancora una notte fuori un locale
E meno male
Se questa è l'ultima canzone e poi la luna esploderà
Sarò lì a dirti che sbagli, ti sbagli e lo sai
Qui non arriva la musica
E tu non dormi
E dove sarai?
Dove vai quando la vita poi esagera
Tutte le corse, gli schiaffi, gli sbagli che fai
Quando qualcosa ti agita
Tanto lo so che tu non dormi, dormi, dormi, dormi, dormi mai
Che giri fanno due vite
Siamo i soli svegli in tutto l'universo
A gridare un po' di rabbia sopra un tetto
Che nessuno si sente così
Che nessuno li guarda più i film
I fiori nella tua camera
La mia maglia metallica
Siamo un libro sul pavimento in una casa vuota che sembra la nostra
Persi tra le persone, quante parole senza mai una risposta
E ci siamo fottuti ancora una notte fuori un locale
E meno male
Se questa è l'ultima canzone e poi la luna esploderà
Sarò lì a dirti che sbagli, ti sbagli e lo sai
Qui non arriva la musica
E tu non dormi
E dove sarai?
Dove vai quando la vita poi esagera
Tutte le corse, gli schiaffi, gli sbagli che fai
Quando qualcosa ti agita
Tanto lo so che tu non dormi
Spegni la luce anche se non ti va
Restiamo al buio avvolti, solo dal suono della voce
Al di là della follia che balla in tutte le cose
Due vite guarda che disordine
Se questa è l'ultima canzone
(Canzone e poi la luna esploderà)
Sarò lì a dirti che sbagli, ti sbagli e lo sai
Qui non arriva la musica
Tanto lo so che tu non dormi, dormi, dormi, dormi, dormi mai
Che giri fanno due vite
Perdidos entre as pessoas... quando a vida exagera... quando a música não chega... as voltas que duas vidas dão.
Escolher bem ou mal as palavras ou expressões pode condicionar qualquer avaliação.
Pense-se num(a) aluno(a) a quem se avalia comportamentos na base do que ele(a) aprecia fazer, quando, onde e com quem. Leia-se a lista das ações / atividades identificadas e...
Um registo avaliativo no mínimo duvidoso, a bem do respeito e cuidado a ter com os livros
..., no sexto cenário (a contar de cima), encontra-se o que, incompreensivelmente, possa ser feito "sempre que possível", seja em casa seja lá em que sítio for, muito menos em família: "desfolhar livros". Só numa cultura educativa de defesa da destruição do livro!
É por isso que, quando alguém diz que desfolhou o jornal, imagino este último em cima da mesa, com as folhas soltas, rasgadas, destruídas (não havia necessidade para tal, por pior que fosse a imagem ou o texto noticioso)! Uma desgraça!
Não distinguir "folhear" (passar de uma folha a outra, no sucessivo virar de páginas) de "desfolhar" (arrancar, tirar as folhas) é desconhecer que não se trata um livro como uma espiga de milho.
Um dia, que é o de hoje, devendo ser igual a todos os outros.
Entre tantos assuntos importantes no mundo e na vida, um outro - a condição da mulher - se marca no presente, essa instância de tempo que, mais do que o agora e o hoje, se deve traduzir pela intemporalidade.
A esse propósito, ficam aqui as palavras de um poeta que, entre muitos temas, versou a mulher na sua plenitude. Por ele ser homem, não deixou de a ver no que tem de humanidade em busca de igualdade, equidade, liberdade, justiça, alma mater dedicada aos seus, independentemente de os ter carregado no ventre ou os ter acolhido no seu seio familiar, sem olhar ao género que lhes coube.
Tantos a falar do mesmo que acabo por cair nele. Nada tenho contra (melhor, ... até posso ter alguma coisa, sem o diabolizar), muito menos a quem se mostra muito entusiasmado com a questão.
E do que falo? Do Chat-GPT... de que mais podia ser?!
Inteligência Artificial, para que te quero?! Para muita coisa, mas mando eu! Combinado?
Depois de várias tentativas, pouco me agradou ou surpreendeu.
Não sei se perdi o meu tempo, mas espero que definitivamente não faça perder o de mais ninguém. Partilho a reflexão, sem qualquer pretensão, senão a de sublinhar que prefiro centrar o foco da discussão nas implicações pedagógico-didáticas que dele decorrem e com ele se deparam / confrontam. Artificial ou não, o "inteligente" é o que se consegue reconhecer como tal, numa avaliação que necessita de consistência, fundamentação (o mais criteriosas possível).
Nesta medida, prefiro manter-me no controlo e não deixar-me controlar.
O certo é que ela vai ter muito de aprender para poder ser eficiente, eficaz e um auxílio fundamental para o professor. Dizem mesmo que não tem hipótese e, por isso, há quem já nos apresente um concorrente: o Bard (da Google).