Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Recordo uma passagem que fecha o livro Claraboia, de Saramago.
No diálogo entre um sapateiro (Silvestre) e um filósofo (Abel), este último contrapõe algumas das ideias e atitudes do primeiro, seu senhorio, acabando por fazer uma reflexão acerca da linguagem:
"As mesmas palavras (...) anunciam ou escondem objectivos diferentes. (...) Contenta-se em dizer: amo os homens - e isso lhe basta, esquecendo que o seu passado exige alguma coisa mais que uma simples afirmação. Diga-me, por favor, que interessa ao mundo essa frase, ainda que seja proferida por milhões de homens, se faltam a esses milhões de homens todos os meios necessários para fazer dela mais que o resultado de um impulso emocional?"
Ed. Caminho, 2011, p. 396
Lembrei-me da passagem e da reflexão, muito ao encontro do que muitas vezes digo: às vezes podemos estar a dizer as mesmas palavras, mas o sentido que cada um lhes atribui é completamente diferente. Dizer que dói a cabeça é discurso demasiado comum a tantos sofredores, ainda que, por certo, a uns doa mais do que a outros. Também os problemas de uns são tão iguais na palavra, mas tão distintos na sua natureza ou essência. Mais do que o impulso do dizer muito interessam a intenção e a intensidade do fazer, para não falar mesmo da verdade no sentir. Daí que muitas vezes seja necessário passar das palavras aos atos. Quando estes não chegam, aquelas perdem eficácia, valor, sentido(s); ficam gastas num uso vazio de significado, que não implica nem resulta em ação.
Felizmente, ainda há quem cumpra os atos. E as palavras ficam tão mais plenas de significado na comunicação que se estabelece.
Reflexão pragmática, por certo, como todo o final de um romance que discute o que é a vida, as inutilidades e negações que ela tem até ao dia em "que será possível construir sobre o amor". Aqui se afirma a necessidade dos afetos, para que a vida adquira sentido(s).
Quase só para o minuto; porque o mau gosto é total.
Nem quero propriamente acreditar no que vi: a promoção do novo programa "Peso Pesado Teen", no canal de televisão da SIC. Não sei há quanto tempo já está isto a ser difundido, mas era altura mais do que justificada de retirar tal barbaridade.
Aqui está ela:
Anúncio promocional do programa televisivo "Peso Pesado Teen"
Das meninas modelo (bonitinhas, queques, com tiques e afetação no falar) aos sonhos que têm do rapaz com quem querem namorar (tão banal e convencionado, segundo padrões muito discutíveis), a progressão argumentativa publicitária é tão deplorável quanto, primeiro, mostrar a reação dececionada das rapariguinhas ao verem um jovem de 117 quilos a oferecer-lhes uma rosa e, depois, pô-las a sorrir, todas contentinhas, com o anúncio de que ele "vai mudar".
É este o mundo em que tudo vale, ultrapassando-se inclusivamente valores sociais, educativos, éticos - em nada contribuindo para a dignidade e o respeito humanos. Verdadeiramente triste é saber que ninguém da empresa televisiva em causa, nenhum dos produtores publicitários tenha tido a capacidade de vislumbrar o que de ridículo, ofensivo e criticável existe no que é dado a ver; é pensar como foram ignorados todos aqueles que sabem como - para lá da exclusiva aparência física e de preconceitos impositivos de modelos, padrões, convenções limitadas e limitativas da realidade -, há motivos e domínios de personalidade bem mais fortes para a construção real dos sonhos e da felicidade consistente das pessoas, Pena que tenham sido usados jovens - com muito para aprender, por certo -, induzindo-os a reproduzir aquilo que, felizmente, nem todos dizem ou revelam comportamentalmente (a bem das regras de sã convivência social e da boa formação pessoal), mas que alguns adultos mal formados querem, por força, ver transmitidos na boca de outros.
Quase um minuto para esquecer. Quase... só para o tempo; o resto é mesmo para esquecer.
Pior do que isto só mesmo uma publicidade da McDonalds que, há anos e a propósito de uma campanha de um produto no valor de um euro, mostrava uma criança a roubar uma moeda colocada no chapéu de um pedinte de rua - tudo para entrar na loja e conseguir comprar o hambúrguer desejado - como se tudo valesse, por mais que a fome (não de hambúrgueres certamente) o justificasse. Lamentável.
Isto de anunciar uma promoção / um desconto até metade do preço requer conhecimentos gramaticais. Vê-se a necessidade disso mesmo na foto seguinte:
Por mais pequeno que seja o acento gráfico (face a letras ou a números substancial e percentualmente convincentes), a bem da qualidade publicitária, tudo deve estar em conformidade com as regras de acentuação gráfica: "Até" é palavra aguda (fonicamente acentuada na última sílaba) e deve ser escrita com acento gráfico agudo (não grave, já que este último é usado em contextos específicos).
Este é o balanço final do "A família Bélier", filme dirigido por Éric Lartigau.
Há uma história tão comum, banal até, que não propõe atrativo nenhum para levar alguém a ver o filme: uma jovem camponesa é incentivada, pelo professor de canto, a apostar no talento e dom que, de repente, revela; a saída de casa e a ida para a capital tornam-se um problema, nomeadamente pelo que significa sair do "ninho" familiar e da vida local.
Há um parzinho amoroso, umas relações de adolescentes em contexto escolar (e não só), um professor entre o desiludido e o (pouco) inspirado ou empático, uns políticos que fazem lembrar os que vemos praticamente todos os dias na televisão (sem se saber muito bem porquê) e uma família com as preocupações do quotidiano, seja no trabalho seja na vida comunitária.
Há um ou outro toque de comédia a permitir alguns sorrisos.
Há alguma música interessante, até pelo espírito revivalista da música francesa e de compositores / cantores das décadas de 60/70 do século XX, como é o caso de Michel Sardou. Ao longo da película, surgem as composições ("La maladie d'amour", "Je vais t'aimer", "En chantant"). Há quem não as reconheça; outros, como eu, sim e acompanham-nas na surdina, de boca fechada e com as ligeiras vibrações na garganta, como se participassem nos ensaios e nos espetáculos dados a ouvir na película. Uma se destaca, naturalmente, por ser a que a protagonista (Louane Emera, no papel de Paula Bélier) canta - "Je Vole" (da década de 80).
"Je vole" (de Michel Sardou), interpretada por Louane Emera
Mes chers parents, je pars
je vous aime mais je pars
vous n'aurez plus d'enfant
ce soir
je n'm'enfuis pas, je vole
comprenez bien: Je vole
sans fumée, sans alcool
je vole. Je vole
elle m'observait hier
soucieuse troublée, ma mère
comme si elle sentait, en fait elle se doutait
entendait
j'ai dit que j'étais bien, tout à fait l'air serien
elle a fait comme de rien, et mon père dèmuni
a souri
ne pas se retourner, s'éloigner un peu plus
il y a la gare, un autre gare et enfim, l'atlantique
je me demande sur ma route
si mes parents se doutent
que mes larmes ont coulé
mes promesses et l'envie
d'avancer
seulement croire en ma vie
tout ce qui m'est promis
pourquoi, où et comment
dans ce train que s'éloigne
chaque instant
c'est bizarre, cette cage
qui me bloque la poitrine
je ne peux plus respirer
ça m'empêche de chanter
Acima de tudo, há uma língua que ganha pelo poder comunicacional que tem - a língua gestual de uma família (pai, mãe, filho) que "fala" na condição de surdez a que está forçosamente votada. Só Paula Bélier (a filha) nasce a ouvir, ainda que tenha sido educada para que vivesse na condição dos progenitores - quase numa espécie de preconceito ao contrário. Ela é a intérprete dos pais e do irmão para o universo verbal.
No jogo de interação e comunicação vividos, no seio da família e dos que com ela convivem, é interessante ver como as diferentes personagens reagem antes de saber da condição dos Bélier. Quase se pode perguntar quem sofre mais por não se fazer entender.
Trailer do filme de Éric Lartigau
Por fim, há três momentos fundamentais do filme: quando os pais e o irmão de Paula a vão ver ao espetáculo da escola, impondo-se o silêncio que os Bélier vivem e deixando os espectadores apenas ver os gestos, os movimentos, as reações das personagens como as únicas linguagens do mundo; quando o pai se aproxima ao mundo da filha, pedindo-lhe que cante e, ele, vai sentindo as vibrações da melodia (que não ouve, mas sente, a ponto de reconhecer o dom da filha e de a apoiar no sonho a seguir); quando a jovem canta para o júri do concurso de canto e traduz, em língua gestual, a letra para os familiares. "Je vole" é simultaneamente o voo da protagonista e uma declaração de amor aos pais.
Vale a pena ver o filme nesta última perspetiva - numa relação entre língua e afetos; nas limitações físicas que a comunicação parece não ter ou procura efetivamente ultrapassar, quando se faz na base e na partilha das emoções. Uma possível defesa ou contribuição para uma língua emocional ou para a importância da emoção da/na língua.
Assim se pode dizer dos títulos de canção que mais têm popularizado o cantor e compositor neerlandês Mr. Probz (Dennis Princewell Stehr). Por ora, fico-me por "Nothing really matters", na sua versão original (não no afrojack remix que circula aí pelas rádios, mais recentemente), já com cerca de um ano:
Vídeo de "Nothing Really Matters" (2014), interpretada pelo neerlandês Mr. Probz
When she's O.K.
Then I'm alright
When she's awake
I'm up all night
Nothing really matters
Nothing really matters
I see her face
And in my mind
I seize the day
Whenever she's nearby
It's like nothing really matters, no
Nothing really matters
She completes me
How she reads me
Right or wrong
It's so clear she's
All that I need
All I need, yeah
I know what it feels like
I know what it feels like
Swimming through the stars when I see her
And I don't need air 'cause I breathe her
I know what it feels like
I know what it feels like
I breathe her
I breathe her
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
When I'm lost
And need a sign
She leads the way
And I'll be fine
Nothing really matters
Nothing really matters
She completes me
How she reads me
Right or wrong
It's so clear she's
All that I need
All I need, yeah
I know what it feels like
I know what it feels like
Swimming through the stars when I see her
And I don't need air 'cause I breathe her
I know what it feels like
I know what it feels like
I breathe her
I breathe her
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
Every time I see her, oh- oh-oh-oh
Well she's O.K.
And I'm all right
When she's awake
I'm up all night
Nothing really matters
Nothing really matters
Neste tempo de férias, passam na rádio muitas canções cujas letras, sons e vídeos se revelam muito acidentados ("When all is lost" lê-se no início do vídeo), muito pouco abonatórios para a felicidade; porém, as melodias ficam, fixam-se e, por vezes, anda-se o dia todo com elas. Transmitem alguma alegria, quando a mensagem é triste. Talvez porque houve "ondas" a mais.
Uma voz interessante para uma música intensa, inspirada no lado mais dramático da vida. Nem sempre o que é belo se compõe do que há de bonito neste mundo.
A novidade não é nenhuma, mas há quem nasça para morrer mais cedo.
Escultura de Manuel Laranjeira (foto VO)
Assim foi com Manuel Laranjeira.
Hoje evoca-se a data de nascimento, ocorrida há 139 anos (no mesmo ano em Teixeira de Pascoaes também nasceu), em Mozelos, no concelho de Santa Maria da Feira.
É, contudo, em Espinho que, a partir dos 21 anos, cumpre um percurso de vida que o aproxima da medicina; da intervenção cívica, social e artística local; da criação literária e da escrita que o fazem produzir crónicas, cartas, poemas, textos dramáticos.
Na busca da idealização, da luz, da possibilidade da realização e da criação, aspira à obtenção de um sentido de vida que continuamente colide com uma realidade que o atrofia, o enleia numa vivência de profunda tristeza e tédio.
Da arte, na ânsia e na expectativa de atingir o nível do criação e do criador, diz-se cultor ou semeador, numa espécie de parábola para o que acha ser o seu papel na vida e no que o mundo pode deixar germinar:
Montagem de foto com pensamentos do autor
Entre as ideias e os ideais de um homem, dão-se a ver as primeiras no mundo; dos segundos nem sempre é fácil falar, particularmente quando estão além do que realmente circunda um ser que a muito aspirou, nos mistérios libertos de um caminho que quis desvelar e (re)criar, sem condições de caminhar.
Qual Sísifo (e)levando a "pedra" ao cume do altar artístico, Laranjeira revelou-se um permanente insatisfeito, um idealista sempre à espera de atingir os mistérios da luz da criação (que alimenta a alma e a liberta da vida breve).
Preciso de mais.
3,50 não me chega, decididamente. Continuo a ver mal... muito mal.
Por mais óculos que ponha na cara, os olhos continuam a não ver bem. Mais perto, mais longe, de frente, de lado, de pernas para o ar... Nada! Vejo mal.
É terrível quando nos dizem que a solução do problema está nas nossas mãos (por mais que este seja o da visão); que basta escolher bem e passamos a ver como queremos! Por mais que escolha, nada resulta.
Tudo falsidade! Tudo falsa publicidade!
Eis a prova:
Fotografia do texto dado a ler a quem pretende comprar uns óculos de leitura
(os sublinhados e notas a vermelho são meus, pois claro)
Quando é que vou voltar a ler 'os seus óculos'? Quando é que antes de 'coloque-se' vou ver, no mínimo, uma vírgula? E "apróximadamente" sem acento gráfico? E aquela vírgula depois de 'satisfação'... quando vai desaparecer?
Não consigo "obter satisfação"!
Estou feito.
Desiludido, regresso a casa. Não compro óculos de leitura nenhuns, seja lá com que armação ou dioptria for! Vou optar por uns óculos de sol.
Há um ano, a notícia chegava: Robin Williams punha fim ao papel da vida.
Porque ontem, num canal da TVCine (TVC3) foi exibido o filme da Walt Disney Aladdin (na sua versão original de 1992), realizado por Ron Clements e John Musker, reencontrei-me com a voz de Robin Williams. É ela que se faz notar na personagem do narrador-vendedor-viajante do mundo que abre o musical animado; é também ela que, na sequência fílmica, verbaliza os pensamentos e as desconcertantes réplicas cómicas do próprio Génio da Lâmpada.
Mais do que a tradicional história inspirada no conto árabe "Aladim e a Lâmpada Maravilhosa", inserido em As Mil e uma Noites, foi a memória de um ator de eleição que me fez produzir esta nota.
Os amores do jovem de rua Aladdin e da princesa Jasmine, as artimanhas e intrigas do poderoso e maléfico grão-vizir Jafar (coadjuvado pelo papagaio Iago) podem constituir-se como núcleos fundamentais da ação narrativa; contudo, é o Génio que acaba por se impor em toda a trama por variadas razões. Primeiro, porque é ele que tem o poder de satisfazer os desejos (tanto os de Aladdin como os de Jafar); segundo, porque é um dos mais produtivos fatores de cómico na película, nomeadamente com a apresentação de uma versatilidade de tons e de vozes fora de série; terceiro, porque mantém com Aladdin uma relação de cumplicidade e amizade, salvando este último de diversos perigos; quarto, porque é o benfeitor que sai recompensado com o que é ficcionalmente assumido como o maior dom da vida - a liberdade.
O Génio de "Aladdin" (1992), a cantar o tema "Friend like me"
Se o tratamento temático da ambição desmedida (protagonizada por Jafar e o papagaio Iago), da satisfação dos desejos (de Aladdin, de Jafar e do próprio Génio), da diferenciação social no cruzamento com o amor se evidencia num filme que ainda coloca em discussão o facto de se poder ser alguém que se não é (quer Aladdin quer Jasmine vivenciam situações perigosas, fingindo ser pessoas distintas do que à partida são), não menos relevante é o tópico da prisão ou da falta de liberdade da maioria das personagens: o par amoroso diz-se preso aos seus estilos de vida e, por razões / vivências diferentes, ambos se sentem encurralados (ele, por nada ter; ela, por não poder escolher à vontade); o sultão de Agrabah age em conformidade com a tradição ou a força hipnótica de Jafar, até se libertar de ambos; este último está dominado pela contínua e ameaçadora sede de poder; o Génio lamenta-se por viver no interior da minúscula lâmpada, até que o amo / dono o faça sair para cumprir os três desejos a que tem direito.
É nesta precisa condição que se destaca o terceiro desejo de Aladdin: depois de desejar ser príncipe (para conquistar Jasmine) e de querer ser salvo da morte no mar (a que Jafar o votara, para poder casar com a princesa), cumpre-se a promessa feita ao Génio - a de o libertar da sua limitação (o que, curiosamente, sucede quando Jafar é feito prisioneiro na própria lâmpada que sempre quis possuir).
O final feliz da história acaba por ser a concretização de "a whole new world" - título musical principal do filme - para os bons da fita. E, entre eles, está o Génio. Para além do virtuoso e generoso Aladdin, é ele o louco bom; o cómico que traduz alguma da seriedade da mensagem; o pateta alegre que reflete sobre a condição triste em que vive e sai recompensado por se colocar do lado dos justos.
Na genialidade da personagem encontra-se o génio vocal de um ator que se destacou em vários filmes, particularmente Good Morning, Vietnam (1987), O Clube dos Poetas Mortos (1989),Despertares (1990), O Bom Rebelde (1997), entre muitos outros. Também ele procurou libertar-se de um drama (bem mais real) que o limitava. Pena que o tenha feito da forma mais extrema, sofrida e contrária à própria existência.
Mudados os canteiros da varanda, deu-se lugar às oliveiras. Chegaram a Espinho e, em vez do "oliveirinha da serra" da cantiga tradicional, passam a ser as oliveirinhas do mar. Ficam ambas à varanda, do outro lado das ondas, viradas ao sol da manhã, de costas para o horizonte.
Por ora, o vento não lhes leva a flor, porque, no lugar desta, há já umas pequenas azeitonas nascidas, num verde de esperança para a sobrevivência desejada.
Ficam as árvores a marcar o território de quem nele mora. Vejamos o que o tempo lhes trará.
É o que se pode dizer do primeiro, pensando na trilogia que vai surgir.
Vem o título a propósito da nova versão (ou remake, na linguagem cinéfila mais internacional) de O Pátio das Cantigas, realizado por Leonel Vieira. Depois de mais de setenta anos do original, dirigido por Francisco Ribeiro (Ribeirinho), a popularidade de atores como António Silva, Vasco Santana e Maria das Neves talvez venha a refletir-se em nomes como Miguel Guilherme, César Mourão, Dânia Neto - só para, respetivamente, mencionar os protagonistas correspondentes às duas produções. O tempo o dirá. Para já, o projeto de 'atualização' terá continuidade com mais duas iniciativas: uma já anunciada para o sucesso de 1947, "O Leão da Estrela", realizado por Arthur Duarte; outra para o de 1933, "A Canção de Lisboa", de Cotinelli Telmo.
Em O Pátio das Cantigas, a comparação entre o ponto de partida e o de chegada é inevitável, particularmente para quem está habituado a ver e a rever múltiplas vezes o primeiro (de modo a já citar instintivamente réplicas inteiras do Evaristo, do Narciso ou até da Dona Rosa - personagens marcantes de um tempo e de um regime bem diferentes dos de hoje). Ainda assim, é de convir que a linguagem, a situação, os tipos sociais e as personagens individualmente consideradas precisavam de uma outra roupagem, para dar ao cómico de outrora um sentido e um riso outros, adaptados a circunstâncias mais familiares e contemporâneas. Não deixa de ser uma estratégia para fazer chegar, do próximo, ao mais distante e desconhecido. "Compreendi-te!" (como diria o Narciso-Vasco Santana)
A comédia acontece. O reconhecimento de elementos originais também (pontos de ancoragem como o ambiente bairrista e popular lisboeta, os amores e as querelas entre as personagens de maior relevo, a fidelidade ou a sugestiva aproximação a expressões / réplicas do século passado), por mais que haja um distanciamento imposto pelo realizador e pela realidade face ao clássico português. Do operador de rádio ao DJ, da leitaria à empresa turística dos tuk-tuk, das marchas populares à chamada música pimba, do merceeiro tradicional ao dono de uma loja gourmet com empregados a falar francês, dos princípios da rádio ao tempo da internet e do hifi, da Dona Rosa vendedora de flores à Linda Rosa balconista num hostel, da Maria da Graça cantora à artista de novela, muitos são os motivos e/ou desvios para deixar algum público "dessincronizado" (ou também... "turbinado", numa versão mais à Malhoa).
Para os que preferem o filme a preto e branco e o querem encontrar na cor de 2015, talvez fosse de relembrar as palavras de Narciso de 1942, assim que fala com o candeeiro (que o "guia" até casa, graças ao elevador cúmplice de um amigo do bairro):
" - Onde estás tu? Fugiste? - Ah! Estás aí! Apareces e desapareces... (Ri-se) Também és um ilusionista! Já vi tudo! Queres ir para cama. Assim como assim, vamos lá embora! (Assobia à medida que sobe os degraus da escada)"
Semelhanças com o antigo também aparecem e desaparecem, num ilusionismo que não deixou de me manter atento. Sem a magia do antigo (que só o tempo vai alimentando), a novidade mantém algum interesse.
Se antes era assim...
Cena fílmica de O Pátio das Cantigas original (1942)
... agora a cor é outra - seja local seja epocal, para não falar a das impressões e dos efeitos de luz e tonalidades coloridas bem distintos, mais a dos retratos humanos que vemos na tela / na rua a qualquer instante.
Um dos trailers oficiais da nova versão de O Pátio das Cantigas (2015)
Como não fui propriamente à procura do antigo, estava de espírito aberto, disponível para o pudesse surgir na tela. É verdade que a expectativa também não era muito grande, até por saber que iria encontrar atores que não estão entre os meus preferidos (por mais fama que tenham - ou se achem ter - na comédia da atualidade). O certo é que não dei o dinheiro por mal empregue, não deixando de rir particularmente com algumas situações e piadas bem construídas (tanto pelo nonsense como pelos jogos, pelas recriações e pelos contrastes de registo e de linguagem conseguidos).
É música portuguesa, de um jovem cantor em ascensão.
Diogo Piçarra é nome, pelos vistos, conhecido para quem assiste a programas televisivos portugueses daqueles que pretendem fazer estrelas à pressão. Felizmente, alguns conseguem vingar e o caso do Diogo é um bom exemplo. Ouço uma música dele na rádio e passo a conhecê-lo, pelo que me agradou ouvir - "Só tu e eu".
Vídeo de 'Só tu e eu'
Se o amor nos deixar
A terra desabar
E o tempo nos mudar
Irei estar sempre aqui
A chama se apagar
Se a idade não perdoar
Quando não me ouvires cantar
Eu não sairei daqui
Se tu pensas em mim
Como eu penso em ti
Temos tudo então
Para poder voltar ao sonho outra vez
Se tu dizes que sim
Sei por onde seguir
Que esperamos para querer voltar a ser só tu e eu
Se o brilho acabar
E um dia for demais para dar
E o nosso olhar não se cruzar
Ficarei por aqui
Mas o amor já nos deixou
E o mundo desabou
Mas o tempo não mudou
O que foste para mim
Se tu pensas em mim
Como eu penso em ti
Temos tudo então
Para poder voltar ao sonho outra vez
Se tu dizes que sim
Sei por onde seguir
Que esperamos para querer voltar a ser só tu e eu
Só tu e eu
E mostramos depois
Que nada se constrói
Sem que antes tenhas
Errado ao tentar
Se tu pensas em mim
Como penso em ti
Temos tudo então
Para poder voltar ao sonho outra vez
Se tu dizes que sim
Sei por onde seguir
Que esperamos para querer voltar a ser só tu e eu
Só tu e eu
Vencedor da quinta edição do Ídolos (soube-o há pouco), este cantor e compositor algarvio (de Faro) promete.
O vídeo contextualiza a letra da canção numa situação triste, de partida, de um "se" que se impôs numa história para sempre a dois, apesar das muitas "interrupções" ou do "desligar" final e fatal.
Gosto. Um caso que confirma que "o que é nacional é bom" (passo a publicidade).