Espera . Procura . Encontros, Desencontros e Reencontros . Passagem com muitas Viagens . Angústias e Alegrias . Saberes e Vivências . Partilhas e Confidências . Amizades sem fim
Quando alguém pergunta se é possível haver um "que" a caber na coordenação explicativa, a melhor resposta a dar é um azulejo:
Um azulejo muito gramatical, coordenativo e explicativo
Ora cá está um caso de coordenação explicativa. A possível substituição do "que" por "pois" é a prova maior. Além disso, a permuta das orações com o articulador / conector evidencia uma impossibilidade de construção, dada a agramaticalidade do resultado final (> *Que não a levarás contigo, goza a vida / *Pois não a levarás contigo, goza a vida). Reside aqui um dos indicadores distintivos da natureza coordenativa da composição frásica, conforme já apontado em posts anteriores.
... numa sabedoria (de vida) que se faz acompanhar da devida explicação.
É o que se ouve o dia todo! É a notícia, o tema , o assunto: a morte de Fidel Castro.
Que foi figurante marcante; que era muito cordial e muito inteligente; que foi um líder e uma referência do século XX; que é um exemplo na História e da História; um homem de fé que conseguiu que o mundo estivesse à beira da III Guerra Mundial (grande feito!).
Nem sei que diga, perante tanto dis-curso encomiasta. Pouco falta para ser um herói.
Não sei bem porquê (ou talvez saiba), não o vejo como tal. Como pessoa, à semelhan-ça de qualquer ou-tra, será sempre digno de respeito na hora da última viagem - naquela em que qualquer ser humano se vê confrontado com os seus derradeiros limites. Como político, não tem o meu apreço, por maior que seja a sua capacidade de argumentação (tão elogiada que ela também hoje foi). "Pátria ou Morte" ou "Até à Vitória Sempre" nunca deixaram de me parecer enunciados demasiado definitivos, extremados e pouco consistentes com a consciência da legitimidade da ação política. Não resultam para mim, mesmo em contexto de propaganda, pela imagem que dão de prepotência, de autoritarismo, de atos ditatoriais a justificarem qualquer fim em si mesmo. A ausência de liberdade nunca poderá ser razão ou necessidade para a luta contra desigualdades sociais - o que se revelou propósito mais retórico e seletivo do que prática para um bem coletivo comum - ou para a definição de políticas que até possam vir a tornar um país grande.
Hoje não se ouviu falar de outra coisa. Pouco de Cuba e de como se viveu sob a alçada de alguém que, por mais carismático que fosse, fez do poder força contra os que não pensavam como ele ou como o partido único, nacional (se) impôs - nessa posição típica do orgulhosamente sós e/ou às costas de quem, longe, se faz fria e ameaçadoramente perto.
"El comandante" morreu aos noventa anos; o seu pensamento e o seu regime não - como ele o disse "Os homens passam, os povos ficam; os homens passam, as ideias ficam." O tempo o dirá por quanto tempo perdurará tal regime, depois de muros e regimes terem caído.
É por estas e por outras que me fico pelo passado e estou com as pessoas formosas, pelo menos com as que inteligentemente se riam e vejam o verdadeiro problema, ao lerem um 'post' como o seguinte:
Post em circulação no Facebook
Obviamente, o problema maior está no vírus, que, pelos vistos, não tem formosura suficiente para apresentar o acento gráfico no devido sítio. Além disso, ele é tão infecioso que afeta os 'videos', que deixam de ser 'vídeos', sabe-se lá por que razão.
Não há paciência, mesmo que pela comédia me fique. Às vezes, chego à conclusão de que já não ando a ver ou a ler bem (deve ser do "virús", que não deixa ter "video").
Eu digo que a gordura é um problema menor (talvez provocado por um ´Vírus' mais conforme e que não seja tão comprometedor da visão).
Como estamos de política no mundo? Mal, cada vez pior! Ainda mal!
O problema maior parece ser mesmo o de alguns políticos que, no mundo, não veem nem ouvem o que (algum d)o povo ainda lhes quer mostrar: denúncia do exercício de um poder que só eles pensam ter, a título de controlo de um sentido de democracia a todo o tempo vaiado, sentenciado, sentido como ameaçado.
Vaidosamente, e depois do golpe levado a cabo para a destituição da presidente Dilma Roussef, os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos 2016, no Brasil, são declarados abertos pelo presidente em exercício, Michel Temer, entre alguns aplausos e intensas, ruidosas vaias olímpicas:
Políticos apupados no contexto do Desporto (montagem)
Arrogantemente, o recém-eleito Donald Trump exige desculpas ao elenco de "Hamilton” -musical da Broadway a representar a aspiração dos colonos à construção de um país -, depois de os atores, em palco, se terem dirigido ao próximo vice-presidente, Mike Pence (que assistia ao espetáculo), apelando a que a recentemente eleita presidência republicana trabalhe para o bem de todos os americanos, na sua diversidade e totalidade de cores e de crenças. O apelo é inspirador (antecedido do agradecimento pela presença e orientado para as expectativas de quem pretende ver consolidados os valores, nomeadamente fundacionais, e os direitos inalienáveis do povo da América); Trump sente-se incomodado. Assim aconteceu, com os aplausos do público espectador:
Um musical com um apelo final, para o bem da democracia
Quando a arte (teatro) e o desporto (jogos olímpicos) denunciam os desgovernos de dois grandes do mundo (Brasil e Estados Unidos da América), talvez fosse de equacionar quais os perigos gerados por aqueles que dão ou são a cara da (suposta) democracia, para não se cair nas malhas de um crescente populismo (também decorrente do descrédito que grassa no mundo).
Quando se trata de organizar a coesão, nem sempre os manuais têm razão.
A questão coloca-se em termos de coesão frásica:
Q: Olá, Vítor. No caderno de atividades do manual adotado na minha escola, há um exercício colocado na ficha da 'Coesão Frásica', que consiste em detetar erros de conexão. A frase dada é "Esqueci-me da chave dentro do automóvel, mas estava com pressa" e assume-se que há nela um erro por o conector não ser adequado. É um bom exemplo para coesão frásica? Não sei porquê, mas considerá-lo-ia mais na interfrásica.
R: Viva. Concordo plenamente. O foco da coesão frásica orienta-se para mecanismos verificáveis ao nível da frase simples, nomeadamente, questões de concordância (no interior dos grupos de palavras ou entre sujeito e predicado, por exemplo), de ordenação sintagmática das palavras e de seleção de complementos pelos núcleos.
Efetivamente, o que se encontra destacado nesse exemplo é o conector / articulador, na ligação de orações distintas - daí o âmbito interfrásico - e a lógica implicada nessa conexão de frase complexa.
Acrescento, ainda, que só uma contextualização muito circunscrita desse exemplo inviabiliza ou torna inadequado o conector. Em termos pragmáticos, admitiria sempre a produção de um discurso que aponta para uma primeira oração de tipo constativo ('Esqueci-me da chave dentro do carro') seguida do articulador 'mas' a introduzir uma reação ou um comentário do falante relativizando / minimizando uma conclusão associada ao anteriormente proferido - isto é, 'esquecer a chave dentro do carro' aponta para a conclusão de uma situação impensável; 'ter pressa' admite uma desculpa, um cenário para uma conclusão de algo que não é (tão) impensável. Daí a lógica de contraste ou, melhor, de refutação poder ganhar algum sentido - nesta medida, o erro de conexão não existe perante um enunciado que combina dois atos de fala, a remeter para conclusões distintas, interligados por um conector com uma orientação argumentativa ajustada à contestação, objeção, refutação, .
Face à tipologia de coesão há, portanto, um exemplo mal concebido e face ao erro indicado tenho algumas reservas, por não conhecer o contexto em que o enunciado foi / está produzido (a ponto de assumir a impossibilidade de um sentido potencial).
Em síntese, um caso a evitar, tanto pela classificação do tipo de coesão como pela solução apontada.
Anunciada a morte de Leonard Cohen, fica o registo para memória de mais um cantautor que poderia ter sido Nobel da Literatura.
Muitos disseram preferi-lo ao recentemente galardoado Dylan. Para além da composição de letras de canção, alguns livros de poemas figuram na produção escrita de Cohen desde os anos cinquenta do século XX (Let Us Compare Mythologies, de 1956; The Spice-Box of Earth, de 1961; Flowers for Hitler, de 1964; Parasites of Heaven, de 1966; Book of Mercy, de 1984; The Book of Longing, de 2006), além de algumas narrativas de pequena dimensão (The Favourite Game, de 1963; Beautiful Losers, de 1966). Entre vários galardões que o distinguiram em vida, conta-se o 'Prémio Príncipe das Astúrias', datado de 2011, no âmbito da Literatura.
Aos 82 anos, desaparece a presença física deste canadiano, não só projetado na música mas também reconhecido na literatura e no desenho. Um artista que priorizou a primeira das artes (música) a partir dos seus 33 anos e nos deixou sonoridades folk, baladas melódicas e um 'soft rock' em voz arrastada, rouca e sussurrada tão marcantes para a história da música do continente americano, em particular, e do mundo, em geral.
Talvez não tenha sido sua vontade (para retomar um dos temas: 'If it be your will') fazer esta despedida (a lembrar um 'So long, Marianne'). A nós, por ora, resta-nos repetir 'Hey, That's No Way to Say Goodbye' (ainda que o tema da despedida seja por motivos mais definitivos do que a letra dá a ler):
Montagem vídeo-som (a partir de imagens da internet e do áudio "Hey that's no Way to Say Goodbye")
HEY, THAT'S NO WAY TO SAY GOODBYE
I loved you in the morning, our kisses deep and warm, your hair upon the pillow like a sleepy golden storm, yes, many loved before us, I know that we are not new, in city and in forest they smiled like me and you, but now it's come to distances and both of us must try, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye.
I'm not looking for another as I wander in my time, walk me to the corner, our steps will always rhyme you know my love goes with you as your love stays with me, it's just the way it changes, like the shoreline and the sea, but let's not talk of love or chains and things we can't untie, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye.
I loved you in the morning, our kisses deep and warm, your hair upon the pillow like a sleepy golden storm, yes many loved before us, I know that we are not new, in city and in forest they smiled like me and you, but let's not talk of love or chains and things we can't untie, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye.
Um tempo para relembrar Leonard Cohen, para que a memória perdure nos sons e nas letras que nos criou.
Já foi slogan publicitário para as bolachas "Nacional". Agora, é mais para escrever sobre uma música.
Há já algum tempo que tenho vindo a ouvir, na rádio, uma canção que aprecio. Há dias, descobri que é uma jovem voz portuguesa portuense a cantar em inglês. Já não é a primeira vez que me espanto com o facto, mas isto de esperar que só o estrangeiro tem qualidade é falácia e das maiores. Particularmente quando a pessoa está mesmo próxima de nós.
Tudo a propósito de Kika - abreviatura de Francisca Osório de Castro -, uma das mais recentes revelações da música portuguesa, ainda que conte já com cerca de três anos de reconhecimento nas playlists das rádios nacionais.
Por ora, a coincidência do meu gosto com os tops está certeira. Nem sempre foi assim, mas é-o com Colorblind:
Vídeo oficial do single de Kika - Colorblind (2016)
It's already time to go it breaks my heart Once again we didn't say things I know the answer to the question in your eyes If I could only dare to tell you Won't you be my baby Please stay make me whole Cause I Never knew The colour blue Until I was losing you I've been colorblind I don't know what to do Cause baby I believe that I'll be broken Until you're mine, Till you're mine (no, no, no) If I gathered up my courage with a kiss Would you welcome the affection Is it wrong is it right to feel like this? Are you feeling the connection? Maybe I've had enough And you know I'm not that tough Thinking about a future without you in it I've never felt something like this I can't take it anymore Don't you understand? Won't you be mine Be mine.
Quem não desejaria ser cego à cor, quando esta é portadora das tonalidades da tristeza e da dor? Talvez ninguém o devesse desejar, porque na alegria e na dor há que (vi)ver.
Um belíssimo instrumental de guitarra, bateria e piano, com uma interpretação vocal interessante para uma letra típica para apaixonados.
Não se ouve falar de outra coisa; por isso, eu escrevo, para ser diferente.
Hillary Clinton e Donald Trump sem cor
O dia abre com a notícia do dito: Trump venceu as presidenciais norte-americanas. Alguém comentava há dias que a escolha entre Donald Trump e Hillary Clinton era sinónima de consi-deração do mal menor. Reconheço que, ainda assim, a opção não é fácil, pois entre o mal de ambos não sei o que seja menor: se a cara de pau e a presunção extremista, populista, autocrática de um ou o sorriso estratégico e pretensamente consensual da outra. Há razões, para qualquer um dos lados, que não dão confiança nem vontade de os ver à frente de um dos países que comandam o mundo.
Fazer história e colocar uma mulher na presidência dos EUA não são razões suficientes para ignorar aquele que foi todo um percurso feito em nome de uma constante sede - quase exclusiva e, por vezes, incompreensível - de poder (desde os tempos de juventude aos de primeira dama, ou mesmo aos de democrata que enfrentou Obama). Ver um self made man a ascender ruidosamente ao topo e lembrar os ditos e feitos que lhe mancham a imagem pública são motivos de descrença no que possa existir de bom.
O mediatismo dos Obama não chegou para que os americanos entendessem oito anos de uma promissed land que não foi vislumbrada e que Hillary não deu a (re)ver nos debates em que participou. A alternância democrática regressou, ironicamente para os republicanos e em todas as frentes (por mais divididos que estejam face à figura que os lidera).
As sondagens falham (e há quem teimosamente insista em as validar, de alguma forma); os humanos também e ainda mais quando as hipóteses com que deparam não representam bom exemplo para ninguém.
Parece restar a firme vontade de mudança, por mais irracional que esta possa parecer ou por maior que seja o pesadelo de quem a possa trazer.
Assim, no dia em que se celebra a queda do muro de Berlim, um outro pode vir a crescer (já lá se encontrando na fronteira com o México, entre Tijuana e San Diego) nas alturas, a julgar pelo que Trump anunciou, depois negou e talvez esteja para reeditar lá para os lados do México.
Cantada no original pela escocesa Emeli Sandé (do álbum "Our Version of Events", de 2012), esta cantiga é apontada como o reflexo de uma situação vivida pela cantora, quando estava para ser contratada por uma empresa e, nesse contexto, teve de participar em alguns encontros, algumas receções e se sentiu julgada / avaliada por tudo e todos. É um grito de revolta, para que não se seja mero objeto de julgamento dos outros; para que se afirme a crença nos valores próprios e para que ninguém faça do ser humano um simples palhaço:
Vídeoclip da interpretação de "Clown",
de Emeli Sandé
CLOWN
I guess it's funnier from where you're standing 'Cause from over here I miss the joke Clear the way for my crash landing I've done it again Another number for your notes
I'd be smiling if I wasn't so desperate I'd be patient if I had the time I could stop and answer all of your questions As soon as I find out How I can move from the back of the line
I'll be your clown Behind the glass Go 'head and laugh 'Cause it's funny I would do too if I saw me I'll be your clown On your favorite channel My life's a circus, circus Round in circles I'm selling out tonight
I'd be less angry if it was my decision
And the money was just rolling in
If I had more than my ambition
I'll have time for please
I'll have time for thank you
As soon as I win
From a distance my choice is simple
From a distance I can entertain
So you can see me
I put makeup on my face
But there's no way you can feel it
From so far away
Vídeo do "The Voice Portugal", emitido hoje à noite na RTP1
Depois da original, vem a interpretação produzida no programa televisivo "The Voice Portugal" (no canal público da RTP1), numa versão com um trio de vozes muito sonante e harmonioso (Francisco, Márcia e Daniel), ao qual se juntou outro concorrente (Sérgio Alves), para uma batalha em que não podia haver vencedor (a qualidade de ambos - o grupo e o solista - era evidente). Acabaram os dois participantes por continuar no concurso musical, em equipas tuteladas por mentores musicais distintos. Mais do que merecido!
Qualquer um dos registos (o primeiro mais intimista; o segundo mais projetado) é tocante, para uma mensagem que, por certo, ganhou a espetacularidade e a força merecidas para um valor humano cada vez mais premente - o de não se ser um palhaço social.
Há vozes que merecem ser ouvidas, por maior ou menor fama que tenham, já que nos cantam a própria dignidade humana.
Citando as palavras do Marquês do Pombal, cumprem-se os tempos.
O sentido pragmático associado à produção do enunciado setecentista justificava-se pela emergência de medidas a tomar / aplicar, para dar resposta a uma hecatombe que a História faz lembrar e o feriado evoca.
Passados mais de 250 anos, o Terramoto de 1755 parece um filme trágico, de que alguns documentários mostram evidências relativas ao que ninguém, por certo, gostaria de reviver:
Montagem de dois documentários televisivos (Canal 'Odisseia' e 'História') alusivos à efeméride histórica do Terramoto de 1755 (Lisboa)
A sequência do terramoto-maremoto-incêndio foi demasiado dantesca para uma capital europeia e orgulhosa de sinais de protagonismo vivenciado desde os tempos dos Descobrimentos até à magnanimidade áurea de D. João V e do seu sucessor D. José I. O colapso deu-se e só não foi maior pela presença estadista - ainda que autocrática, despótica - de Sebastião José de Carvalho e Melo, que fez reconstruir a baixa lisboeta à luz do espírito racionalista do tempo. Da ira de Deus à catástrofe natural foi um longo caminho para uma argumentação que hodiernamente tem nesta última o motivo credível e a todo o tempo repetível.
Em pleno século XXI, a lembrança dos mortos é mais afetiva e próxima de cada um do que da necessidade e do pragmatismo que se impunham ao bem (sanitário) de todos em meados do século XVIII. Cuidar dos vivos mantém-se um imperativo que, atualmente, outras tragédias fazem (re)viver - mais parecendo que, por vezes, se quer enterrar os vivos.
Um dia para lembrar pelo que foi e pelo que é - até porque há tsunamis na vida que estão bem mais para cá e para lá de Lisboa ou dos tempos (já) vividos.