Numa intemporalidade que se impõe, com mais semelhanças do que coincidências.
Hoje fala-se da emancipação da mulher, de jogos de interesse, de violência doméstica, de máscaras sociais - um tempo contemporâneo que não deixa de viver as heranças de outros séculos, e que Gil Vicente também experienciou no seu.
Representação do texto dramático quinhentista vicentino pela Spotlight Produções
(encenação de João Ascenso)
Persiste a deceção, quando se opta por ideais, ilusões que, a todo o tempo, caem. Descobrem-se os pretensiosos. Denunciam-se os desajustados, os ingénuos e os inocentes que não veem o mal que está à frente. Fazem-se também aprendizagens, mas o que de mais criticável existe (não se olhar a meios para atingir os fins) não deixa de alimentar a farsa que o comportamento social e humano ainda tem.
Lida ou visionada a representação da obra, cedo se descobre quem representa o quê, para não referir outras linhas temáticas tão comuns no dramaturgo quinhentista: a crítica ao clero, o casamento como negócio, os subalternos oprimidos, o confronto do profano e do sagrado, o preconceito para com os judeus.
Além do "Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube", a prova de que as aparências enganam faz sentido para quem se deixa viver nelas, nos ideais ou nas ilusões com que se engana; ou, então, para quem mascara uma vivência que só um "cego" não consegue ver. De tudo isto é feita a Farsa de Inês Pereira (1523), um texto a chegar aos 500 anos com um sentido bem presente.
Lida ou visionada a representação da obra, cedo se descobre quem representa o quê, para não referir outras linhas temáticas tão comuns no dramaturgo quinhentista: a crítica ao clero, o casamento como negócio, os subalternos oprimidos, o confronto do profano e do sagrado, o preconceito para com os judeus.
Além do "Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube", a prova de que as aparências enganam faz sentido para quem se deixa viver nelas, nos ideais ou nas ilusões com que se engana; ou, então, para quem mascara uma vivência que só um "cego" não consegue ver. De tudo isto é feita a Farsa de Inês Pereira (1523), um texto a chegar aos 500 anos com um sentido bem presente.
Assim se revê a obra vicentina tão atual que chega a parecer que nada mudou na metade de um milénio.