sábado, 31 de dezembro de 2022

Um ano perfeito?

       Vamos lá somar os algarismos!

       2023 dá sete! Aí está: 2+0+2+3. Se for 20+23 resulta em 43. Antigamente dizia-se "Noves fora sete".
       Já aqui se tratou da magia do sete. Preferia abordar o ano mágico que está para vir.
       Fica a expectativa. No final, confirma-se ou infirma-se. Faça-se, contudo, para que assim seja: ano de esperança, de perfeição, de magia.
    Segundo as cartas do arcano maior, no Tarot, o sete configura-se com dois cavalos ou dois corpos dianteiros a arrastarem uma espécie de carruagem, montada sobre duas rodas, coberta por um dossel. É como se estivessem fundidos num carro, mas cada um andando para o seu lado (lembrando que, entre o bem e o mal, há o livre arbítrio, a escolha). Vê-se, ainda, um homem coroado, com um cetro na mão direita e a esquerda junto a um cinto dourado, sugerindo um rei ou líder na condução do caminho, do percurso a fazer. Na parte da frente do carro, há um escudo com duas letras, a variar conforme as edições das cartas.
    Designada por "O carro" ou "A carruagem", a carta sete simboliza a contemplação ativa, o repouso, a vitória, o triunfo, a superioridade e a razão. É ainda interpretada como o êxito legítimo, o avanço merecido, talento, dons e capacidade, tato para governar, diplomacia e direção competente, confiança e caminho.
     Há quem se refira às maravilhas do mundo (antigo ou contemporâneo, tanto faz). Independentemente de quais sejam ou de que tempo, são sete - o número entendido como completo e perfeito; o que se define pela totalidade, pela consciência, pelo sagrado e pela espiritualidade. Fechado o ciclo, traz consigo o cenário da renovação. Ao fechar de um ano, abra-se outro, a descobrir, renovado.
      O uso do número sete na Bíblia, por exemplo, aponta para a ideia de plenitude ou a perfeição de algo ou alguém, como se lê: na criação do mundo e o dia de descanso, no Génesis; na persistência do perdão no sete e seus múltiplos, quando, no Novo Testamento (Mateus 18:22), Jesus menciona a Pedro a capacidade de perdoar "até setenta vezes sete”; na plenitude espiritual, representada no livro do Apocalipse (que, representativo do curso de um ciclo, se abre a novas descobertas, tal como o termo o sugere no grego antigo).

       Venha o 2023, mais a magia positiva do sete! Boas saídas, ótimas entradas e o melhor do ano para todos!

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal com alguma cor

     E veio mais um...

     Talvez seja o tempo de (re) nascer
     Talvez seja o tempo de lembrar o que é viver
     Talvez seja o tempo de renunciar ao imediato
     Talvez seja o tempo de dar tempo

Um Postal de Natal à espera do Verde

     Talvez seja o tempo de dar outra vez à vez
     Talvez seja o tempo de outra versão (de ver o que é são)
     Talvez seja o tempo
     Talvez

     Chegou a tal vez: boas festas a todos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

(Outros) Apontamentos natalícios na cidade

    De noite ou de dia, o Natal na cidade traz um pouco de alegria.

   Mesmo quando o cinzento no clima dos dias se impõe, parece haver sempre um apontamento a dar cor e animação:
    
Montagem de fotografias com sinais natalícios de Espinho (VO)

   A semelhança de outros apontamentos, chegou mais este para mostrar como foi decorar a festividade nas ruas e praças, com a magia natalícia. Não vi o Pai Natal, mas pode ser que ainda deixe qualquer coisinha na bota cá de casa.

    Só faltou a paz mundial que a época prenuncia, mas os homens renunciam.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Foi a vez do João Ratão...

      Diz o título que é "Uma história..."

     As autoras dizem que é uma peça de teatro "cheiinha de música e de cor". Eu digo que é um teatriiiiiinho bem sério, pelo que lembra, diverte e ensina.


Publicitação de Uma história do João Ratão, de Maria Clara Miguel e Maria Dolores Garrido

    Primeiro, porque protagoniza o João Ratão e secundariza a Carochinha (o preconceito do género dominante é de problematizar, mesmo quando se apresenta ao contrário); depois, mostra que nem tudo o que parece é (não é de esquecer que o aumentativo 'Ratão' está mais para a fraqueza, como o diminutivo do 'Quinzinho' está mais para o espertalhão, numa contradição de opostos); também procura mostrar o que faz o João Ratão cair no caldeirão, ou melhor, aponta a razão para este ser tão glutão na tradicional versão da história; por fim, recria, positivamente, um final que não era muito feliz e procura espreitar o "happy end" que a "História da Carochinha" não tem.
     Aprende-se que há sempre um motivo para o que se é (personagem ou pessoa); que temos de dar volta às coisas, para que não persista o "...Triste vida a minha!..."; que não tem de haver um final trágico na vida, desde que façamos por isso; que o passado pode ajudar a explicar o presente e evitar um futuro nefasto.
Breve dramatização de "Uma história do João Ratão" (Clube de Teatro da ESG)

     Há um rio e uma ponte a simbolizar passagem, o desvelamento do(s) mistério(s), um modo de ver as coisas que pode mudar - pois nem tudo é estável, imutável, definitivo. E não há como procurar ter outras perceções e perspetivas, para se poder ver o lado bom das coisas.
      Assim se dá a ler Uma história do João Ratão, que tem ainda um Burrico Tonico bem castiço e um Mocho Julião, um frade conviva e conciliador. Porque "quem canta seus males espanta", também há uns grilos cantantes que nos lembram melodias de infância com letras e ritmos muito contemporâneos, para encantamento do leitor e/ou do espectador.
      Ora, foi esta a receção deste pequeno grande livro, aquando da apresentação da obra nas Escolas Básicas de Anta e de Guetim, bem como na Escola Básica Integrada Sá Couto: momentos para almofadinha no chão, conversinha com a Maria Clara Miguel, um videozinho "fixe", um "ganda rap" e até uma leitura expressiva dramatizada, tal como o texto dramático o sugere / potencia.

     Um teatrinho para grandes e pequenos - já que isto de literatura infantil tem muito que se lhe diga!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Um quiasmo... no muro.

        A prova de que os recursos retóricos andam aí pelas ruas.

       Ou melhor, nos muros. Não se diga, portanto, que as figuras de retórica são para os textos literários, porque é bem redutor tal pensamento.
       Basta uma caminhada para nos cruzarmos com uma delas:

Quiasmo em paredão junto à praia - na Granja (Foto VO)

      Ao estilo vieirino (que tantas vezes recorreu ao quiasmo para expressar um pensamento moralizador nos seus sermões), veja-se uma repetição configurada numa construção reveladora de um paralelismo cruzado (se figurar em linhas prosaicas ou versos distintos) ou de uma ordenação contrária (do tipo AB - BA). Se o Homem come para viver, é bom que não viva para comer. Há como que um efeito de espelho, de reflexo, partindo a frase anterior em duas; um pensamento não deixa de ficar marcado: o da sobrevivência que não deve dar a lugar a excessos ou vícios.
     Há, portanto, uma simetria sintática a traduzir uma máxima ou moralidade significativa - prova de como a forma está de mão dada com o conteúdo para que tudo faça (algum) sentido.
     Com o exemplo fotografado, o primado da sensibilidade firma-se (só não sei se houve a mesma no ato de pintar a pedra de forma algo ousada). Talvez não resulte em vandalismo puro porque a verdade do escrito impõe-se face à frieza da racionalidade ou da pedra.

     Se são figuras retóricas, são da língua - falada ou escrita. Nem que seja no paredão de uma localidade próxima.

sábado, 10 de dezembro de 2022

A propósito de mensagens

     Hoje alguém me escrevia, lembrando-se de mim e da "Carruagem 23".

     Não sei bem por que razão, quando a fonte de tudo é a "Amarguinha". 
    Esta publicidade do conhecido licor tradicional algarvio é do melhor na denúncia de erros que podem comprometer uma relação:

Publicidade inteligente I (com agradecimento à AMT, pela lembrança)

        Ora cá está um bom critério para selecionar quem seja namoradeiro: que fale e escreva bem e não leve ninguém ao inferno (sim, porque o Hades é rio que não leva a mar paradisíaco). 'Hás de' (e sem hífen) leva a melhor caminho.

Publicidade inteligente II (ainda com agradecimento à AMT, pela lembrança)

      Cá está a prova de que a beleza não é tudo! Pelo menos, há que ser giro e escrever bem - e mais vale a beleza do saber, pensando que o final da mensagem é bem revelador de que mais vale ser feio, sólido (e não líquido, a ponto de se beber) e escrever 'bebeste'.

Publicidade inteligente III (desta feita sem agradecimento, porque selecionada por mim)

    Nada contra ser "poli", ou outra coisa qualquer, desde que "o sono" e "a preguiça" sejam acompanhados de "a vontade" (pela regularidade sintática conveniente na coordenação) e o "permanente" (adjetivo) dê lugar, por exemplo, a "permanentemente": 'estar de férias' (quem não quer!) é expressão verbal cuja modificação está mais para um advérbio (com valor de modo, de tempo ou de lugar). 
      Digamos que, neste caso, a estratégia publicitária não resultou em pleno, na sua construção, porque isto de ter vários amores não pode fazer esquecer que a ortografia, a morfologia e a construção sintática são áreas muito exigentes no uso da língua e todas requerem muito cuidado e muita atenção.
      Conclusão: terá sido a lembrança por me acharem amargo (já que, de "Amarguinha", nem vê-la nem cheirá-la)?! Por me pensarem homem com muitas relações (estou mais para as ralações)?!
      Vamos lá levar a "carruagem" no trilho, antes de a fazer parar a meio do percurso ou a imobilizar na estação!

     "Errare humanum est" (errar é humano) já diziam os clássicos latinos. Acrescentaria "Perseverare autem diabolicum" (perseverar no erro é diabólico). Se a "Amarguinha" ajudar, ... (conclua-se o que não vou sequer ajuizar).

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Descubra as diferenças

     Quando se celebra e se faz render uma vitória, tudo acontece.

     Depois do jogo Portugal - Suíça, com a vitória lusa por 6-1, defende-se que a partida irá ficará na história, na memória coletiva dos portugueses. Assim o dizem os comentaristas que falam, e falam, mais falam...
     Ora, por falar em memória, esta anda fraca no programa televisivo "Noites do Mundial" (na RTP3). No acompanhamento da entrevista ao treinador Fernando Santos, as legendas vão passando e repetindo informações, citações...
      Bastam segundos para os leitores descobrirem as diferenças:

Numa televisão segundos antes (com o agradecimento à TJ, que enviou foto)

Na minha televisão segundos depois, e fui eu a tirar a foto (Foto VO)

      Começou mal; acabou bem. Antes assim! 
    A diferença não está nos aparelhos televisivos nem na posição do entrevistado. O Fernando é o mesmo, mas não há santos que impeçam o mal de aparecer: a memória da escrita anda muito volátil, particularmente quando se esquece que o tempo passado, a duração temporal é escrita com "há" (o tempo que passou, que existiu, que deu ou dá lugar a um período com duração) e, de preferência, sem o "atrás", para não ser pleonástico.

      Vale a correção (do erro). A ela se dê a devida atenção (à correção, claro). E viva a seleção (de futebol)!

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Apontamentos da cidade

     Vão chegando os sinais natalícios.

    O brilho da noite faz-se de colorido luminoso, como se o maravilhoso do natal apagasse o tempo de guerra que se vive e a crise sentida dentro e fora de portas.

Montagem de fotografias com sinais natalícios de Espinho (VO)

    APONTAMENTOS DA CIDADE
 
   A cidade está aí, 
   com as estrelas que nos guiam; 
   as renas soltas, livres dos trenós; 
   um presépio em cascata; 
   árvores sobreviventes a brilhar,
   como se fossem pinheiros;
   um banco em jardim de luz,
   à espera de quem nele se sente;
   uma onda iluminada
   em rua que chega a praça;
   quadrados em desalinho
   à espera de quem neles alinhe.

   Está para vir o Pai Natal, 
   em qualquer cor,
   para que neles se vejam todos
   os que são feitos de amor.

   Virá o inverno, depois deste outono chuvoso e frio que se faz sentir nos últimos dias. O ciclo cumprir-se-á em primavera e verão. Veremos como o Homem lidará com o espaço e o tempo sem esquecer as pessoas que o fazem.

   Que a cidade saiba resplandecer no calor da humanidade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Falha nas previsões

     Futebol e política à parte,...

     Lá vem o desconhecimento do Acordo Ortográfico (AO), a vigorar desde 2009.
     O acento circunflexo aparecia na grafia do plural com duplo 'e', no acordo de 1945; após 2009, lê-se o seguinte na Base IX, intitulada "Da Acentuação Gráfica das Palavras Paroxítonas", no seu ponto 5:

     «c) As formas verbais têm e vêm, 3.ª­s pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respetivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /têêj/, /vêêj/ ou ainda /têjêj/, /vêjêj/; cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem), a fim de se distinguirem de tem e vem, 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretêm (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

          Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc.»

        Sendo "preteridas", diria que não são as preferidas. Ou seja, a distinção gráfica vem / vêm motiva a manutenção da acentuação com o circunflexo; o mesmo não se justifica em vê / veem (ou prevê / preveem e afins), dado que a dupla grafia de 'e', no plural, já constitui distintividade suficiente quanto à pessoa e número nas respetivas formas verbais.
        Portanto, o que se lê na legenda da SIC Notícias não acompanha a orientação que o AO prevê ou que as orientações preveem que se faça:

Um acento a mais a falhar na previsão (Foto VO)

        Corrija-se, portanto, a legenda e leia-se a forma "preveem" (sem confusão com qualquer outra), para que a previsão resulte mais correta.
       
          ... é necessário maior acordo com o... ACORDO!

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

E assim se falou dela...

     Terminou a semana com as palavras do patrono.

     Adjetivada de "outoniça", a semana culminou com as palavras do patrono (Manuel Laranjeira).
   Na obra Comigo (1912), entre vários poemas reveladores de uma atitude de ensimesmamento e introspeção, busca-se um incessante sentido da existência. Numa visão que busca a ilusão e se confronta com a consciência trágica e definitiva da existência, resta a jornada, o percurso, o caminho, a viagem - palavras que marcaram a mensagem transmitida, na qual se cruzaram conhecidos e alguns ainda por conhecer, todos unidos num momento e numa iniciativa singulares.
    No dialogismo das cartas, assistiu-se à encenação de um Laranjeira e de um Unamuno, numa prova de amizade (pessoal, intercultural e interlinguística). Foi uma oportunidade de encontro e um momento de partilha de leituras, de reflexões e de versos para a vida.
      Falou-se dela... dessa jornada...

Montagem com poema de Manuel Laranjeira e música de Debussy (Filme VO)

     Foi uma atividade para (re)lembrar, na Biblioteca Escolar, com trabalhos produzidos pelos alunos, uma exposição sobre o autor de Às Feras (1905), com e para lá dos textos.
    A vida é uma jornada, uma lição composta de bons e maus instantes, mas, acima de tudo, de caminho, de jornada.

     Em dia de nuvem, sombra, chuva e trovejo, não se deixou de falar de sol e de como neste há calor, há esperança (porque tudo é passagem) e deve ser dado tempo a que estes últimos se (nos) revelem.

domingo, 23 de outubro de 2022

Negócios da China?

      Uma coisa é certa: não traz lucro para ninguém.

    Não me refiro ao assunto noticiado, apesar de dizer respeito à China e a um comportamento, pelos vistos, inusitado. Aludo, em concreto, a essa confusão que, por um lado, parece existir entre a 'ESpera' e a 'EXpectativa' (ou não fosse esta última palavra oriunda do francês - "expectative"), mas que nunca deve dar lugar à desordem ortográfica que grassa pela televisão; por outro lado, entre tirar e colocar 'c' nalgumas sílabas com som vocálico aberto e que o Acordo Ortográfico (1990) acabou por motivar alguma deriva (legitimando que a representação gráfica se justificasse, nalguns casos, pela realização fonética):

Da China ou não, o negócio é muito dúbio na escrita do Jornal das 8, na TVI (Foto TJ)

      Estranho a escrita de 'EXpectativa' (além de mal escrita na primeira sílaba) sem 'c', porque o digo / o leio no som [k] (tanto em francês como nas 'EXpeCtations' do inglês), tal como em 'faCto' (muito bem escrito, por sinal). Não reconheço o 'c' de 'afecta', por não o ler nem o dizer; logo, não o escrevo.

     Fica a credibilidade televisiva afetada e não sei se tenho muita expectativa quanto ao futuro da escrita do português correto (também já sem 'c').

sábado, 22 de outubro de 2022

Pomba negra

         Pelo que não se alcança e tanto se deseja.

      Os tempos estão difíceis, por mais que se tematize o ano como sendo de paz e de harmonia globais (como, por exemplo, o faz a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias [IFLA], organismo internacional que representa os interesses dos serviços de biblioteca e informação e dos seus utilizadores ou usuários). Tudo parece ficar pela intenção, pelas palavras, sem os atos.

POMBA NEGRA
À falta de pomba branca ou do que ela representa
Queria pintar-se da brancura que,
negada na cor, dá sempre espaço
a todas as outras - qual solitário braço
ansiando por abraço; por toque
feito de Amor, lembrando regaço.

Queria o voo azul, livre, solto,
sem a ameaça de opacas nuvens
ou sombria noite; sem as passagens
de ruidosos e bélicos aviões velozes
ou de impulsionados mísseis algozes.

Queria planar sem pressa, ao vento,
esperando pelo ritmado bater de asas
a cumprir distâncias, viagens rasas
às copas, aos telhados, à humanidade.
Seria esta a sua instintiva felicidade!

Passado o espaço, cumprido o tempo,
chegaria ao pouso, ao ninho sedento
de paz, conforto, cuidado, alimento.
Cega à nascença, teve a visão capaz
de que nem todo o Homem se vê sagaz.

Seria assim menor o negrume,
maior a tonalidade da esperança:
ter no céu pássaros em volante dança.
Porém, há dor, ferida, fogo, lume
a arder, a queimar quem, na terra,
brinca com o poder e deste faz guerra.

Espinho, 22-10-2022

         Estranha esta pomba, que mais parece humana, nos desejos e nas vontades, relativamente àqueles que, na terra, se dizem feitos de poder e de razão.

         Bom seria que a pomba (branca, negra ou de qualquer outra cor) em paz volteasse, de novo, os céus da humanidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Politicamente correto, boas maneiras e sentido(s) das palavras

    Dando continuidade a apontamento anterior.

    No mesmo contexto de um encontro a propósito do Clube de Leitura, Ricardo Araújo Pereira discute o conceito de 'politicamente correto', de 'boas maneiras' e dos sentido(s) das palavras.

Novo excerto com novas lições sobre o correto, as boas maneiras e a linguagem

    Um excerto muito significativo pela problematização levantada quanto às fronteiras do que é correto / incorreto e ao entendimento dessa zona que o 'politicamente correto' possa representar.
    Como alguns exemplos remetem para o(s) sentido(s) das palavras, volta-se a um pequeno capítulo de uma teoria da linguagem, assente no(s) uso(s) do comum dos falantes.


domingo, 16 de outubro de 2022

Citando Agustina, a propósito de ontem

     Muito se tem falado de Agustina Bessa-Luís e do centenário do seu nascimento.

   Quando em 1995 lia Os Meninos de Ouro, fazia-o na descoberta não da exemplaridade de uma personagem masculina, mas de um menino do Douro cujo percurso servia para traçar não o papel forte que poderia (ou, em certa medida, viria a) ter, mas a limitação, a fraqueza, a raiz arrancada à força da natureza, da terra, do Norte e das grandes famílias rurais nortenhas.
     Publicado em 1983, o foco romanesco começa por estar depositado em José Matildes, um político do período pós-revolucionário, evocando semelhanças com a figura de Francisco Sá-Carneiro; com o sentido messiânico de que a figura se viria a revestir; com uma vida a espelhar dificuldades relacionais e sentimentais. Contudo, é a afirmação do feminino que se virá a assumir no romance, roubando-se ao (anti)herói o protagonismo narrativo. Assim se salienta Rosamaria, figura duriense trocada no casamento, por não ser prefigurada como a grande mulher que se diz estar por trás de um grande homem. A força desta última vinga e assenta num orgulho firmado na seriedade e na luta enquanto razões de existência e de identidade construídas na interioridade humana.
     Este lado matricial da obra de agustina traduz o sublinhar de uma energia, de uma força, de uma fonte, de uma geografia e de uma terra (todas femininas) que veem na Natureza (genesíaca e venusiana) valor maior. Residem aqui a importância e a coerência da epígrafe a abrir a obra: "A Natureza, ela mesma é a doença, e só ela sabe o que é a doença" (Paracelso), recuperando-se com ela o princípio decisivo de toda a cura, encontrada no interior da própria Natureza.
     Neste arrazoado, lembro-me de ter sublinhado, logo nas primeiras páginas, o seguinte:

    "Diferente do que pensam os economistas, uma área produtiva não se destina apenas a ser rentável; sobretudo é uma área onde a vida se condensa e se transmite. Representa uma condi-ção histórica que se reflecte e se repercute, pondo a tónica principal não no lucro, mas sobretudo na circulação da energia, que implica o lucro também, mas que acentua a persuasão da inteligência, do investimento moral."

      Numa espécie de hino à terra e à natureza, finda o romance com uma referência a 

   "... um lírio azul, planta endémica e maravilhosa. (...) Penso nela como sendo um olhar que a terra ergue das suas profundezas e que nos empresta para que os segredos novos nos sejam apontados. Pois é a terra quem nos persuade aos caminhos que ela tem ainda invioláveis. Um lírio azul que parece perdido nas alturas roqueiras é talvez mais do que a Iris boissieri; é um olhar que nos vigia, passe a candura poética."

    Hoje cito-a, porque há pensamentos que, entre os valores ecológicos, telúricos e panteístas (com algum paganismo genesíaco e venusiano) da escrita literária, deviam ser relembrados na vida de todos nós, para que à nobre "raça humana" não falte a "Velha amiga que é a terra" nem a interioridade que nos define - a natureza humana ou da humanidade.

sábado, 15 de outubro de 2022

Passear pelo jardim

       Depois do dever (com prazer) o prazer (sem dever).

      A manhã mantém o registo do trabalho, apesar de ser fim de semana. É tempo para lembrar o já cumprido, encarar novos desafios e alguns princípios que valem para qualquer ação educativa:

Apresentação do Projeto 'Geração+' na LIPOR - I (Foto VO)

Pensamento aristotélico na apresentação do Projeto 'Geração+' na LIPOR - II (Foto VO)

     Após uma deslocação até à LIPOR (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, entidade responsável pela gestão, valorização e tratamento dos Resíduos Urbanos produzidos pelos oito municípios que a integram: Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde), em Valongo, e a propósito do projeto "Geração +" e do "Coração Verde", mal se pode, procura-se que o dever dê lugar ao prazer de...
... respirar,
... alongar o olhar,
... passear,
... estar com quem se quer,
... (re)encontrar antigo(s) aluno(s) e vê-lo(s) bem e com vontade de futuro,
... recuperar vivências passadas na presente  lembrança,
... tomar um pequeno-almoço decente.

Montagem fotográfica - I (Foto VO)

Montagem fotográfica - II (Foto VO)

Montagem fotográfica - III (Foto VO)

Montagem fotográfica - IV (Foto VO)

      No meio da cidade, há um encontro de natureza e humanidade, lembrando que a naturalidade humana ou a humanidade naturais são possíveis, nesse cruzamento em que a expressão natureza humana pode ir do sentido mais literal ao mais metafórico, algures entre o paisagístico e a essência ou a existência do ser.

      Ver coisas bonitas ajuda a "limpar" a alma e o cérebro, mesmo que o cinzento de dia traga um sol matutino feito da luz que as nuvens e o nevoeiro escondem.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Escrita de latrina, melhor, de mictório

     Qualquer uma não é das melhores, garantidamente (por mais que não se saiba o que é).

     Quando menos se espera, encontra-se o erro em local que, não sendo dos mais agradáveis, não deixa de ser necessário frequentar pela condição humana que nos aproxima. Entrando num WC público (restaurante), é possível ler o seguinte aviso:

Isso, isso... não reparem (n)o serviço! (Foto VO)

     Cumprido o alerta, apetece dizer que o escrito não anda longe da natureza excrementícia do local, não fosse este último mais para mictório ou urinol. Caso para dizer que se assemelha a cloaca atirada aos olhos, embora o sítio se identificasse mais com o popularmente designado mijarete (do que com a retrete, só para manter alguma rima).
     Para quem escreveu o texto, parece ser difícil reconhecer a típica regra de que a letra 's' entre vogais se lê como [z]. Para quem lê, não obstante o entendimento da mensagem, não há contemplação possível com um serviÇO mal cumprido, em espaÇO que não afasta o embaraÇO, e algum cansaÇO, por ver aquilo por que não tenho nenhum apreÇO.

      Até gostava de, à sexta-feira, dizer que estava "Fora de serviÇo". Todavia, não me deixam!

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Constatações linguísticas

      A verdade de algumas produções comuns da língua em uso.

     Há pequenas chamadas de atenção que são tão verdadeiras que chegam a assustar olhos e ouvidos:


Apontamentos entre o empréstimo anglófilo e o português desvirtuado (Imagem colhida do Facebook)

     Poderia acrescentar-se, no princípio, muitos outros casos, oriundos de outras línguas (da 'lingerie', do 'divan' e da 'toilette' franceses ao '¡Gracias!', 'cartilha' e 'muchacho' espanhóis); no final, o indiferenciado 'obrigada', os *'friados', os *'príncepes' e o *'femenino', mais o *'líder' para a marca 'Lidl' ou o interjetivo 'prontos' (para não mencionar outras deformações morfológicas).
   A defesa e a utilização do empréstimo (também conhecido como estrangeirismo pelos comuns falantes) são evidências de uma língua viva, por norma, moderna (por mais antiga que seja a sua origem). Bem mais crítica é a deturpação que esta tenha na escrita e na oralidade do seu uso. Os casos apontados são apenas alguns, de realizações que, entre o popular e o familiar, o informal e o formal, ainda se reveem no dia-a-dia sem fronteiras conscientes do que deva ser dito ou escrito.

     Um processo natural em todas as línguas, que distingue tipicamente quem dela sabe e usa dos que só a usam. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Esperteza... nem saloia nem sintática

       Se a necessidade faz os homens espertos, o desconhecimento torna-os ineptos.

    Digamos que o sentido proverbial da primeira parte (subordinada) do pensamento anterior sai combinado, no fim, com o valor intencional crítico da sequência principal (subordinante). 
     Subordinado ao pagamento das compras feitas, impôs-se o registo fotográfico perante a leitura do inadmissível. Entre tanto sítio nas frases onde possa aparecer uma vírgula, há quem insista em colocá-la onde não deve: entre o sujeito da frase e o predicado. 
       Eis a prova do desconhecimento e da inépcia:

Publicidade enganosa? No mínimo, errada na escrita da pontuação (Foto VO)

         Só quem ainda é herdeiro de métodos errados no ensino da pontuação (os que generalizadamente dizem, por exemplo, que a vírgula marca uma pausa) é causador deste erro. 
      Além de uma representação fonética e/com algumas implicações semânticas, a verdade é que a pontuação é eminentemente uma representação gráfica da linearização de enunciados, ou seja, da natureza sintática que os carateriza. As vírgulas, nesta medida, marcam a presença de vocativos (chamamentos), de enumerações, de anteposições de elementos na ordem sintática, de modificadores não restritivos / explicativos / apositivos (com ou sem encaixe nas frases). Não podem é nunca separar sujeitos de predicados nem os verbos dos elementos que contribuem para a sua complementação (sejam complementos sejam predicativos).
      "Quem compra no sítio certo" é o sujeito (oracional, frásico) do predicado "parece logo mais esperto". Uma vírgula não pode separar estas duas sequências. Duas até poderiam, com a introdução de um encaixe (cf. "Quem compra no sítio certo, sem sombra de dúvida, parece logo mais esperto).

     Podendo eu estar no sítio certo, a verdade é que quem publicita tem, no mínimo, esperteza duvidosa.

domingo, 9 de outubro de 2022

Em jeito de balanço e de lembrança

      Publicado na Newsletter do Jornal Plural, eis o meu testemunho.

      Não sendo novo, porque advém do final do ano letivo anterior, segue-se o registo do que foi viver sob a égide de um projeto intitulado "Mar Pedagógico - Inclusão é a Condição", que marcou o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira:

Registo da Newsletter do Jornal Plural do AEML
      
Transcrito da Newsletter do Jornal Plural (outubro 2022)

     Passado o tempo, fica a lembrança de muitos momentos que permitiram fechar 2021-22 em festa e no sonho de que é possível viver o mundo com todos, assim nos deem a oportunidade de dar as mãos, construir redes e fazer obra.

      Em novo ano letivo em curso, que venham outras marés e se viva a escola de e para todos.

sábado, 8 de outubro de 2022

Uma teoria da linguagem com vários tópicos

       Ricardo Araújo Pereira no seu melhor, quando sério rima com cómico.

    Um excerto de um encontro universitário com um debate que resultou nalguns momentos semelhantes a uma autêntica teoria da linguagem em vídeo, sobre o humor, a língua, a linguagem inclusiva, a questão do género gramatical e os seus excessos:

Excerto de um encontro sobre humor, língua e linguagem inclusiva

      No final, pode concluir-se que, com humor, muito se aprende sobre a língua e a linguagem, onde o politicamente correto é tudo menos aquilo que diz ser.

      A rir se corrigem os novos tempos e políticas que pouco têm de linguístico, apesar de o quererem fazer como campo de lutas para as (des)igualdades.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

É possível ser melhor... com acento

      Pode começar-se melhorando a escrita.

      É o que se me afigura dizer quando leio este pensamento:

Não há flores que escondam a imperfeição da escrita

       Logo a abrir, um acento gráfico (agudo) faz a diferença. Quem o fizer passa a ser melhor: mais correto, mais perfeito, com maior demonstração de qualidade(s).
       À semelhança de 'alguém', 'também', 'vintém', 'mantém', 'contém', 'armazém', 'parabéns', as palavras não monossilábicas agudas ou oxítonas (com sílaba final mais forte) terminadas em 'em' / 'ens' apresentam acento gráfico agudo.
       Inclusivamente, está aqui a distinção entre palavras como 'contem / contém' (com sílabas tónicas diferenciadas e correspondendo a verbos distintos: contar e conter, respetivamente).

      Ninguém, repito, ninguém deve esquecer-se do acento, sob pena de ser menos perfeito e, também, não poder ser melhor.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Eis o poder da antonomásia

       Isto de pensar que a literatura é que tem figuras de estilo é um erro.

       Para não falar nos enunciados metafóricos que produzimos no dia-a-dia (como o 'jogar em casa / jogar fora'), ou os de natureza mais metonímica (como o 'beber um copo'), considere-se ainda os que revelam outra figura retórica: a antonomásia.
Publicidade com muita retórica e inteligência 
(imagem colhida do Facebook)
     Por definição, trata-se de uma figura retórica de pensamento que consiste em empregar um nome próprio como um nome comum, transmitindo a generalização de um predicado / propriedade / caraterística que pertence, por excelência, ao nome próprio, ou, inversamente, em utilizar um nome comum para designar um nome próprio. 
     O conhecimento enciclopédico-literário e cultural permite entender que “Tartufo”, por extensão, refere-se a um “hipócrita”; “Messalina”, a uma “mulher devassa”; inversamente, “o primeiro rei luso” designa “D. Afonso Henriques” ou "o Salvador do mundo", Cristo (para os crentes católicos cristãos, por certo). A antonomásia constitui-se, nesta medida, pela expressão ou pela manifestação próxima ao que é uma metonímia, sem esquecer a forma da perífrase (como nos dois últimos casos). Dizer que alguém me saiu cá um Sócrates é tomar o nome próprio por uma propriedade que 'nos sócrates desta vida' é, pela virtude, convocar o papel filosófico e as qualidades referenciais do saber e da sabedoria; pela ausência dela, relembram-se casos que não nos deram felicidade nenhuma nas más decisões políticas (aqui o Sócrates é já outro, no tempo, no espaço e no âmbito de ação!).
       É sabido como a publicidade recorre frequentemente a mecanismos linguísticos e retóricos capazes de causar impacto, efeitos pragmático-estilísticos que exploram a estranheza, o insólito, o saber partilhado, o jogo interpretativo desafiante e desafiador na construção de significado. O jogo de conceitos cabe neste trabalho linguístico que se revê no anúncio publicitário à direita.
      O conceito 'machado' não é o do instrumento de corte, mas bem que o podia ser (pela força de luta e do acesso desejado ao saber, "abrindo a cabeça", a mentalidade à cultura que dignifica o ser humano); Machado (de Assis) é um nome próprio, um cânone cultural e literário de expressão portuguesa, que tem essa potencialidade: a de abrir, intervir, dar a ler um mundo mais digno, atento àquilo de que o mundo pode e deve evitar / aspirar - um Machado escritor que é homónimo de um 'machado' para a construção (da inteligência, da sabedoria) do ser humano.

      Brincadeiras com (ou de) muito saber, onde literatura e linguística se mostram inseparáveis.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Um dia de muitas razões

     Coincidência ou não, este é dia para lembrar.

     Enquanto português, o cinco de outubro vem de há séculos com a marca da independência nacional, já que, em 1143, o Tratado de Zamora foi assinado entre D. Afonso Henriques e o primo, Afonso VII de Leão - o que para alguns historiadores representa a assinatura de uma declaração de independência de Portugal e o início da dinastia afonsina ou de Borgonha. 
    O motivo oficial do feriado nacional nada tem a ver com monarquia: é a data da implantação da República, em Portugal, em 1910.
    Uma outra razão faz o dia grande, quando a UNESCO, desde 1994, reconhece este dia pelo papel fundamental dos professores na sociedade, homenageando todos os que contribuem para o ensino e para a educação de crianças, jovens e adultos enquanto construtores de futuro. 
D. Pedro II, segundo e último imperador do Brasil
    Em tempos de República,  talvez seja ousado citar a figura de um imperador para lembrar a importância dos professores. Ainda assim, o pensamento de D. Pedro II do Brasil, quando afirmava "Se não fosse impera-dor, desejaria ser pro-fessor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro", traduz algum do sentido da ação docente. Enquanto tal, acrescentaria que somos (d)o presente, também lidamos com passado e temos de perspetivar o futuro.
     Lembrando os que me marcaram como estudante e os que se têm vindo a cruzar no meu percurso pessoal e profissional, uma palavra impõe-se neste dia que, afinal, é nosso, para além dos muitos outros que se dedica a quem connosco cruza no caminho e no exercício da nossa a(tua)ção. O descanso "republicano" pode não vir a corresponder às exigências da profissão. Porém, há que conquistar momentos e reconhecer que este é o dia dos que, como eu, são PROFESSORES.

      Há os que são por algum tempo; há os que são e ficam para a vida; há os que ultrapassam o próprio âmbito da escola. A minha professora Ângela, a primeira de todas, na Escola (ainda Primária) de Gondivai, tem hoje o seu dia partilhado comigo e com muitos outros que têm essa designação maior: PROFESSOR(A). 

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Símbolos das 'Jornadas Mundiais da Juventude' em Espinho

      Uma manhã de sol e de símbolos para a juventude (de qualquer idade).
     
    Na sequência da solicitação da Diocese do Porto e da Paróquia de Santa Maria Maior de Espinho, para que o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira recebesse, no seu espaço escolar, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (cruz peregrina e ícone mariano 'Salus Populi Romani'), hoje de manhã, pelas 11 horas, procedeu-se à divulgação / demonstração dos mesmos na escola sede do agrupamento, no âmbito do espírito ecuménico e do entendimento etimológico do termo: do ou para o mundo inteiro; que reúne pessoas de diversas religiões ou ideologias.
    Trata-se de uma iniciativa de e para a juventude (independentemente do credo ou da fé professados), pelo que se contou com a colaboração de alguns dos estudantes (atuais e alguns outros em percursos de vida já para lá do ensino secundário), para a sensibilização e mobilização para essa Jornada Mundial da Juventude.

Jornadas Mundiais da Juventude no AEML (montagem de fotos)

   Na sequência de outras iniciativas que têm trazido jovens de vários credos ao espaço escolar, pretendeu-se viver esta experiência com esse sentido congregador, de união, num caminho, num percurso, numa sensibilização para o que mais une o Homem enquanto ser tomado pelo que de mais humano e humanista o caracteriza. Que os tempos de guerra, de confronto e de conflito deem lugar ao sentido máximo desse princípio universal que sublinha como, sendo diferentes, todos somos bem mais e maiores naquilo que nos aproxima - eis o pensamento matriz.
    Nesse mesmo espírito ecuménico e jovem que também deve pautar a escola, houve uma cruz, tocada por milhões, com a energia e a alegria que nela quiseram depositar; uma imagem mariana, observada nos tons dourados e azul, com o Menino Jesus nos braços, a segurar um livro dourado.
    O sol brilhou e concentrou quem quis aderir a um espírito que sabe contrariar a conhecida letra de canção de António Variações (na voz de Marisa Liz): "Já esqueceram o cantar e o sorriso / Já não são homens de boa vontade / A loucura está a vencer o juízo, / O ódio, a amizade / Estão-se a despir de toda a humanidade".

    Um breve evento que marcou os dois agrupamentos escolares do concelho e a passagem dos símbolos peregrinos pela cidade de Espinho.

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Não mereço

     Logo a abrir,...

     Quando me preparava para começar a ler, só a persistência fez ultrapassar a barreira:

Com muito 'você' e um acento a desmerecer o(s) leitor(es)

       Não mereço o pensamento, logo à primeira palavra com o acento errado. 
     Reformulo, portanto, o pensamento, inspirando-me no que às vezes (às) está próximo: às (às, de novo) vezes, tenho de esquecer aquilo que definitivamente não quero, para começar a entender que, neste mundo, há pessoas que fazem e são aquilo que não mereço.
      Ninguém merece.
      Prossiga-se com o acento errado e dê-se importância ao que se faz de e por bem.

     ... não é que apetece desligar?

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A fuga das... sílabas e dos sons (e outras coisas mais)

     Não se trata de um título de filme, mas foi um filme!

    Passada na televisão, uma nota da Presidência da República dava a ler uma fuga de informação de dados - nada que não possa a acontecer ao comum mortal que lida com dados sensíveis e os tenha armazenados numa base de dados que, inadvertida e inconscientemente, acabe "nas bocas do mundo" (lamentavelmente naquelas que mais berram aos quatro ventos).
      Pelos vistos, muito mais coisas há a fugir. Até sons e sílabas:

Uma nota de alguém que preside e, no caso, é o Presidente (foto VO)

    Verdade que o Presidente da República preside (verbo); presidente (nome), porém, tem mais sons graficamente representados (a nasalidade) e sílabas. Não é pelo tamanho que se define a qualidade do cargo, mas quem tem direito às sílabas e aos sons todos, assim seja. 
    Sei que muitas vezes já lemos o que não escrevemos; que a pressa é inimiga da perfeição. O imediato é tantas vezes vendido como fácil e eficaz que chega a assustar a facilidade que não resulta. Restam, portanto, a comunicação e a atenção como ingredientes necessários à correção. 
    E, já agora, além dos sons e das sílabas, repare-se a construção "devida a", mais a falta de uma vírgulazita aqui ou ali nos locais devidos (por ali depois do segundo travessão, por exemplo). Esta nota, por todas as razões, merecia outro(s) cuidado(s).

      No caso, talvez fosse suficiente a informação oral, para que a nota da presidência não fosse objeto de uma visibilidade pública com tanta confusão. São fugas, senhores!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acerca do outono

    Perguntavam há dias de onde vinha o outono.

    Não se trata do 'onde' locativo, mas da origem etimológica. O latino 'autumnus, -i' dita a formação do adjetivo 'autunal', também proveniente do 'autumnalis, -e', como tudo o que é relativo ao outono.
    E então: é autunal, outonal ou outoniço? 
    Valem os três. O primeiro mais próximo do étimo latino; o segundo com algumas evoluções fonéticas assimilativas em pontos articulatórios vocálicos [+ altos]; o terceiro decorrente de um processo morfológico cuja base derivante nominal ('outono') é acrescida de um sufixo que, no português, tem a produtividade significativa de referir aquilo 'que nasce em' (outoniço < nasce no outono); aquilo que indica facilidade ou tendência para (fronteiriço < próximo ou tendente para a fronteira; esquicidiço < tendência para ser esquecido; inverniço < tendência para inverno; reboliço < facilidade para rebolar; gadiço < facilidade para ser domado como gado).

Colorido outoniço com o "intenso colorista"

  Em termos de significado, o outono é polivalente: refere-se à estação do ano, à transição / transitoriedade / mudança / viagem dos ciclos, à época das colheitas, ao tempo da gratidão, ao equilíbrio e descanso terrenos, à reflexão e introspeção, à despedida, à aproximação da velhice, à decadência.

    Viva-se o outono, cumpra-se o ciclo e enriqueça-se o tempo com a variedade dourada das cores outoniças.

sábado, 13 de agosto de 2022

Um dia depois...

      Porque é agosto, é dia de sol, ...

     Porque a seguir a um dia vem outro e há quem esteja já para lá do tempo (que passa sempre). É o caso de Miguel Torga.

               MÁGOA

Medas de trigo ao sol - Agosto,
Tudo o calor do Sonho amadurece;
Só a verdade amargura do meu rosto
Permanece!

Até me lembro que não sou da vida!
Que não pertence à terra esta tristeza…
Que sou qualquer desgraça acontecida
Fora do seio mãe da natureza.

E contudo não sei de criatura
Que mais deseje ter esta alegria
De um fruto azedo que arrancou doçura
Do céu, das pedras e da luz do dia.
.
Leiria, 11 de Agosto de 1940.
in Diário I

     Sem mágoa(s), sem medas de trigo, sem querer ser "desgraça acontecida", há a consciência do que possa fazer ensombrar e perigar esta vida; mas há também palavras a combinar e a criar alguma da magia que só os eleitos conseguem trazer à escrita poética, como que peneirando, do pó da terra, o ouro vital que a ela nos liga.
     Nos grãos de areia que caem no relógio, há tempo para que a poesia dos versos torguianos adoce o dia - o de hoje e o do futuro.

    Porque ontem foi mais um dia para o celebrar e hoje, e sempre, faz sentido (re)lembrar.