segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Um quiasmo... no muro.

        A prova de que os recursos retóricos andam aí pelas ruas.

       Ou melhor, nos muros. Não se diga, portanto, que as figuras de retórica são para os textos literários, porque é bem redutor tal pensamento.
       Basta uma caminhada para nos cruzarmos com uma delas:

Quiasmo em paredão junto à praia - na Granja (Foto VO)

      Ao estilo vieirino (que tantas vezes recorreu ao quiasmo para expressar um pensamento moralizador nos seus sermões), veja-se uma repetição configurada numa construção reveladora de um paralelismo cruzado (se figurar em linhas prosaicas ou versos distintos) ou de uma ordenação contrária (do tipo AB - BA). Se o Homem come para viver, é bom que não viva para comer. Há como que um efeito de espelho, de reflexo, partindo a frase anterior em duas; um pensamento não deixa de ficar marcado: o da sobrevivência que não deve dar a lugar a excessos ou vícios.
     Há, portanto, uma simetria sintática a traduzir uma máxima ou moralidade significativa - prova de como a forma está de mão dada com o conteúdo para que tudo faça (algum) sentido.
     Com o exemplo fotografado, o primado da sensibilidade firma-se (só não sei se houve a mesma no ato de pintar a pedra de forma algo ousada). Talvez não resulte em vandalismo puro porque a verdade do escrito impõe-se face à frieza da racionalidade ou da pedra.

     Se são figuras retóricas, são da língua - falada ou escrita. Nem que seja no paredão de uma localidade próxima.

Sem comentários:

Enviar um comentário