Um perfeito exemplo de como a sintaxe requer a semântica
para uma melhor classificação.
Assim me chegou, sem mais, a questão:
Q: Olá. Na frase ‘As tarefas foram distribuídas pelos
alunos’, ‘pelos alunos’ é o complemento agente da passiva, certo?
R: Talvez sim, talvez não. Na ausência de todo um contexto
que permita enquadrar a produção da frase, antecipo dois cenários: um, com os
alunos a serem os agentes e responsáveis pela distribuição; outro, com os
alunos a serem beneficiários ou destinatários do ato de distribuição.
Com o primeiro
cenário, temos a frase proposta como a construção passiva obtida a partir de uma frase ativa de
base (‘Os alunos distribuíram as tarefas’), na qual ‘os alunos’ seriam o
sujeito-agente da ação de distribuir. Neste contexto, após as transformações
típicas da frase ativa para passiva, o sujeito da ativa dá lugar, na voz passiva, ao complemento
agente da passiva.
O segundo cenário
perspetiva a frase com significados e papéis semânticos distintos, mesmo que a
frase não deixe de ser apresentada como uma construção passiva. Pode esta última ser a
configuração final de uma frase ativa do tipo ‘O professor distribuiu as
tarefas pelos alunos’, a qual, uma vez transformada na passiva, apresenta uma
sequência com o complemento agente da passiva omisso (‘pelo professor’), apenas
com o sujeito (‘As tarefas’) e o predicado (‘foram distribuídas pelos alunos’)
– este último com o auxiliar ‘ser’ (da passiva), mais o particípio passado do
verbo principal (‘distribuídas’) e o respetivo complemento oblíquo.
Dependendo da
interpretação do primeiro e do segundo cenários, temos naturalmente funções
sintáticas distintas. O certo é que, para existir um complemento agente da
passiva, a frase tem de se encontrar na voz passiva e o agente deve ser o que
pratica a ação ou o processo configurada(o) no verbo principal (no caso, ‘distribuir’) daquela que seria a frase
original da voz ativa.
Um caso, portanto,
em que sintaxe e semântica têm de estar de mãos dadas para desambiguizar sentidos e funções.