sábado, 24 de outubro de 2020

CREDO! (abrindo o computador)

      Quem mandou abrir o computador?!

      Devia estar fechado, sim, durante todo o fim de semana. Poupava-me a a horrores:

Captura de ecrã na pior das circunstâncias!

         É um susto! Já nem respeito há pelas "níveas cãs".
      As cores são escuras (como se de um enterro se tratasse), os números de infetados são cada vez mais altos (uma desgraça acima de 3.600, em vinte e quatro horas), citam-se palavras insensatas (absurdas, até, pela evolução trágica da situação) e... ESCREVE-SE MAL e porcamente (por mais que o certo da expressão fosse "mal e parcamente")!
    Seja lá qual for a opinião seja lá quem a diz, assumo que não é PREMATURO tratar da língua. É uma emergência!

   A comunicação social anda pelas ruas da amargura com alguma gente que por lá (ia escrever 'trabalha') não sabe redigir sem cair em erro.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Novo prato, nova escrita, ou o alentejano cada vez mais lento?

       Isto de se escrever conforme a fonética tem muito que se lhe diga.

     Quando um amigo me propõe uma foto com novo menu, deparo com uma escrita curiosa de prato já conhecido:

Um prato do "Lentejo" (com o agradecimento ao MM)

         Não sei se "lentejana" é denominação topónima ou variação para uma característica que se diz ser a lentidão dos alentejanos. Sei é que se fez uma longa crase somada à que já existia: à contração 'à' (carne a uma maneira > a maneira alentejana) acresceu o 'a' de 'alentejana', colado à contração e, entretanto, separado da palavra que lhe diz respeito. Uma crase em duplicado, para não dar aférese!

     Pena é terem-se esquecido da marca gráfica da contração / crase: o acento grave. É o desconcerto da escrita dos tempos. "Hoje" acho que me fico pelo peixe!


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Estar muito à frente

      Hoje de manhã tive a companhia de ilustres.
 
      É preciso estar muito à frente! 
     De facto, estive à frente deles, sentado numa secretária, com um portátil ligado para contactar com o mundo exterior. Ninguém de fora, eu dentro e eles nas minhas costas.

Eça e Florbela atrás de mim (Foto VO)

       Um lembrou-me a atualidade do pensamento:

in Portal da Literatura

       A outra, com a chuva lá fora, ensinou-me o ...

              MISTÉRIO

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

in Charneca em Flor (1931)

      Assim correu a manhã, sem que a tivesse feito por perdida. Entre as letras, não há tempo para solidão nem perdição.

      Foi uma boa companhia, sim. Talvez esperasse por outra(s), mas estive entre os meus.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

De novo, as gavetas (sem Dalí)

         Percorria o Facebook, quando deparei com uma foto que me fez lembrar Dalí.

      Há tempos, foi postada imagem de um estudo, ensaio do pintor catalão surrealista, sublinhando-se o que ela sugeria de multiplicidade, diversidade na pessoa que cada um é. Ver a diversidade na unidade, o múltiplo no uno é um sinal da arte moderna. Na poesia, Fernando Pessoa também revisitou o tema, tanto pela linha da fragmentação do eu como pela abordagem da criação heteronímica.
       Mais contemporaneamente, a expressão surrealista do polaco Igor Morski (ilustrador, artista gráfico e pintor) apresenta variações do que me parece ser esse estudo de Dalí:

Exemplo de uma ilustração de Igor Morski (da série "Falha no Sistema")

        Somos gavetas de registos e de tempo, a todo o instante revividos, por nós ou por outros. Delas, mais ou menos abertas, vêm notas, apontamentos, memórias que, com maior ou menor organização, fazem parte de nós; fazem o miolo de um livro de que frequentemente só se vê a capa ou a lombada.
     Quando atrofiados ou confinados a um espaço ou uma prisão (seja ela mais real seja ela mais metafórica), tornamo-nos sombras do que pudéramos ter sido ou do que ainda somos.

        Da sensual postura à ilusória sombra, faz-se reflexão acerca da vida e de uma sociedade que vê no ser as gavetas que só a ela interessam.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Um compacto... à semelhança da vida poética

      Depois de um registo mais amplo, um compacto para uma atividade de escuta ativa.

    Tal como a vida do poeta (tanta poesia para tão curta vida), fica aqui um compacto do essencial da biobibliografia daquele que, na Geração de Orpheu, foi visto como o mestre dos mestres:

(montagem a partir da RTP-Ensina)

       De Cesário Verde se fez lembrança e motivo para avaliar oralidade (compreensão oral e léxico).

      Chegado o fim de semana, apetece-me dizer "Não quero nada. Deixa-me dormir!"

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Tão a (des)propósito!

        Há coisas que, de tão sérias, acabam por se tornar ridículas. Alguém assim as faz.

      Com a crescente taxa de infetados do Covid-19, tornam-se necessárias algumas medidas que façam parar a proliferação deste vírus que se alastra, afeta, infeta, mata, sem que se consiga perceber por onde anda. Daí, contudo, a considerar que uma aplicação eletrónica pode ser a panaceia, nem ao Diabo lembra (particularmente quando a aplicação só é ativável em smartphones, nem para todos acessível, ou quando ela depende dos registos nela reportados).
      Anunciá-la como medida fundamental é, no mínimo, questionável; no máximo, discutível e inútil. Diria intolerável, quando de concretização prática não generalizável ou controlável.
      Começo a acreditar na razão de uma letra de canção:

Uma letra de canção "futurista" com uma máscara já anunciada no cantor (imagem colhida do Facebook)

      Conan Osíris, foste um visionário!
    Tudo porque o Stayaway Covid é encarado como uma solução estruturante para a questão. Enfim! (Entre os milhões que vêm da Europa, deve haver verba para entregar a cada português um smartphone compatível com a decisão governamental).

      Não sendo assim, é bom que se saiba que há quem não tenha comida para subsistir quanto mais para ter um smartphone. Há prioridades de ação human(itári)a que não podem passar por decisões segregadoras dos mais vulneráveis. Conceitos e decisões de democracia pouco sociais, viáveis ou sustentáveis.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Acento saltitante!

         Eu, que nem sou fumador, prestei atenção ao pedido.

       Uma ida ao supermercado foi o bastante! A cortesia do "Por Favor" inicial e do "Obrigado" final chama a atenção, claro! Há, contudo, ali um acento gráfico que me deixou incomodado à entrada e à saída. Vai daí, tirei foto, para memória de um erro que se quer irrepevel (e se fosse no plural, o acento ficava na mesma sílaba, claro está):

Um acento que "saltou" para a sílaba errada - (Foto VO)

       É verdade que as palavras agudas terminadas em 'el' fazem o plural em 'éis' (como em pastel > pastéis, pincel > pincéis). Repito: palavras agudas! Não é o caso das graves. Nestas últimas, é a penúltima sílaba que deve ser graficamente acentuada. Assim, é bom que se leia 'dispovel', no singular, e 'dispoveis', no plural.
        Por norma, as palavras graves não apresentam acento gráfico; mas as que terminam em 'l', para não serem agudas (como habitualmente o são), é na penúltima sílaba (e não na última) que o devem ter.

     Toca a seguir o mesmo exemplo de 'fuveis', 'admissíveis', 'apeteveis', 'viveis', entre outros. (Apetecia-me "queimar" aquele acento com uma "beata").

domingo, 11 de outubro de 2020

Percebe-se...

       Tudo passa, de facto, a fazer sentido.

    Ainda que público (circulando pelo Facebook), nada como ver como andam as comunicações oficiais.
       A causa é já por si mais do que preocupante, mas há quem a queira tornar mais trágica ainda:

Nota muito desinformativa!

     Percebe-se por que razão o número de infetados Covid-19 está em crescendo: há quem queira IR DE ENCONTRO AO objetivo da segurança, quando o que devia fazer era IR AO ENCONTRO DE. No primeiro caso vai contra (esbarra, mesmo); no segundo é favorável ao objetivo (mais do que consensual). Bem o contrário!
       Erro tão comum quanto desejavelmente evitável.

       Uma simples troca de preposições / contração faz a diferença no significado. E, pelos vistos, há quem não o saiba. Enfim! Há notas muito desinformativas.

sábado, 10 de outubro de 2020

Uma questão de rima (com muitas questões)

      Quando tudo passa pelos sons, é bom que se esqueça por momentos a escrita.

     Assim tem de ser quando de rima (homofonia ou conformidade sonora geralmente configurada no final de versos) se trata.
      Surge o apontamento por causa de uma dúvida:

      Q: Entre as palavras 'coroou / passou' e 'trouxe / fosse' a rima é consoante? Ou não?

      R: Primeiro de tudo, interessa clarificar que 'rima' é termo para designar homofonias sonoras a partir da sílaba tónica de palavras, integrando obrigatoriamente um núcleo (vocálico) e opcionalmente uma coda (consoante final). 
       Consultando o Tratado de versificação portuguesa, de Amorim de Carvalho ([1941] 1981, Lisboa, Centro do Livro Brasileiro páginas 77-79), é possível verificar que a rima consoante é aquela que consiste na homofonia completa de sons vocálicos e consonânticos, ou só os vocálicos (quando não existem consoantes) a partir da sílaba tónica; a toante ou assonante, quando apoiada apenas nos sons vocálicos ou nos consonânticos, a partir da sílaba tónica (daí ser designada também de rima incompleta).
   Ora, no par 'coroou / passou', é possível verificar que as sílabas tónicas (sublinhadas) têm correspondência total nos sons vocálicos em rima (sem existência de coda, e não obstante a presença de um som de ataque inicial na segunda palavra). Daí tratar-se de rima consoante (ou completa).
      Com o par 'trouxe / fosse', já não há correspondência total dos sons que rimam (o núcleo silábico na primeira palavra é um ditongo, ao contrário da vogal fechada no núcleo da segunda). Neste caso, estamos perante rima toante (ou incompleta).

      A análise mais precisa da sonoridade das rimas é aquela que admite como preferencial a classificação rima completa (total dos sons) / incompleta (não total), como já o próprio Amorim de Carvalho o admitia em nota na sua obra.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Na onda do desenho animado

          Depois da Mafalda, é tempo do Calimero!

         Cansa-me o discurso daqueles que estão "sempre no corte", que não veem nada de bom nos outros e que estão sempre à espera da primeira falha. Também não aprecio os que sistematicamente dizem que não têm, não podem, não conseguem; dos que se sentem perseguidos pelo universo; dos que passam sempre ao lado e perdem, sem encontrarem forma de ir ao encontro das oportunidades. Outros fazem-no; eles nunca podem.
          É com estes últimos que me lembro do Calimero ("That's an injustice! Yes, that is!).

Calimero: o pintainho negro do "That's an injustice!"

        Trata-se de um desenho animado, de criação italiana, que apareceu na minha infância, por via da televisão, e que mais não era do que um infeliz pintainho, meigo, inofensivo, por vezes algo ingénuo. Era o único negro numa família de galos amarelos; terminava os episódios caminhando pesarosamente, com metade da sua branca casca de ovo na cabeça, e lamentando-se pelo infortúnio que lhe cabia. Os olhinhos descaídos, prestes a chorar, eram a expressão do "coitado" que parecia.
       Nascido das mãos de Nino e Toni Pagot, mais Ignazio Colnaghi, nos anos 60 do século passado (1963), Calimero fazia dupla com a sua eterna noiva Priscila e, junto com o pássaro esverdeado Valério, a pata Susi, o pato Piero e a ave Rosella, todos viviam aventuras e resolviam mistérios. Porém, no final, lá ficava o pintainho sozinho, assumindo as injustiças no percurso da vida.

        Há quem fale do 'Síndrome do Calimero', para os que se acham sempre vítimas de tudo e de todos. Às vezes também me apetece fazer de Calimero. O problema é que ninguém resolve por mim o que tenho de fazer. Ai!!!!!