terça-feira, 20 de outubro de 2020

De novo, as gavetas (sem Dalí)

         Percorria o Facebook, quando deparei com uma foto que me fez lembrar Dalí.

      Há tempos, foi postada imagem de um estudo, ensaio do pintor catalão surrealista, sublinhando-se o que ela sugeria de multiplicidade, diversidade na pessoa que cada um é. Ver a diversidade na unidade, o múltiplo no uno é um sinal da arte moderna. Na poesia, Fernando Pessoa também revisitou o tema, tanto pela linha da fragmentação do eu como pela abordagem da criação heteronímica.
       Mais contemporaneamente, a expressão surrealista do polaco Igor Morski (ilustrador, artista gráfico e pintor) apresenta variações do que me parece ser esse estudo de Dalí:

Exemplo de uma ilustração de Igor Morski (da série "Falha no Sistema")

        Somos gavetas de registos e de tempo, a todo o instante revividos, por nós ou por outros. Delas, mais ou menos abertas, vêm notas, apontamentos, memórias que, com maior ou menor organização, fazem parte de nós; fazem o miolo de um livro de que frequentemente só se vê a capa ou a lombada.
     Quando atrofiados ou confinados a um espaço ou uma prisão (seja ela mais real seja ela mais metafórica), tornamo-nos sombras do que pudéramos ter sido ou do que ainda somos.

        Da sensual postura à ilusória sombra, faz-se reflexão acerca da vida e de uma sociedade que vê no ser as gavetas que só a ela interessam.

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