sábado, 23 de junho de 2018

Rendimentos destes, dispenso-os...

     Uma foto de uma amiga apanhada bem a jeito (a foto, não a amiga... registe-se).

     Quando menos se espera, chega o Continente... que não rende:

Pormenor de uma foto tirada num estabelecimento da rede Continente

      Do publicitário ao diretor de imagem da empresa em causa (que, por mais de uma vez, já deu a ler o que não deve), entre os muitos outros que ajudaram a expor o erro, ninguém repara que perde(u) a razão para o que dá a ler. Fala-se de 'exemplo' e só pode ser o mau, definitivamente. É um péssimo exemplo mostrar às crianças (e aos adultos) a escrita de um 'ç' antes de 'e' (ou de 'i' que fosse). Torna-se mesmo indigesta a presunção, a ignorância, a pretensão de quem se acha com a autoridade de dar a saber algo e desconhece um conhecimento elementar da língua, que devia usar bem. Nem de interferência (interlingual) se trata. Lamentável!

     Pois é, meus senhores, as crianças não aprendem com o mau exemplo e a saúde da língua está comprometida: não há alimento que a salve, quando a escrita evidencia mais o erro do que o exemplo a seguir ou a dar. COMECEM a ler uma gramática.

sábado, 9 de junho de 2018

Seguro para a língua

     O assunto da notícia era o seguro de vida, mas bem que podia ser outro.

     Quando se leem as notas de rodapé dos programas televisivos, a desagradável surpresa não raras vezes surge. Ainda bem que a locutora está de olhos fechados! (Não se expõe ao erro.)


     Já escrevi que o acento agudo na contração do determinante com a preposição é erro grave. Mais ainda quando é recorrente e a própria televisão pública o expõe aos olhos dos espectadores com frequência. Devia ser o acento grave mesmo (não o agudo), como marca convencional e distintiva, na ortografia, da crase fónica verificada.

     Quem redige as legendas nas notas de rodapé não está seguro na língua. Está a precisar de um seguro, não sei se de vida; de língua, por certo (para que consiga poupar-se a erros desnecessários).

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Verbo 'tar' (só na oralidade com bastante informalidade)

     Lê-se (está escrito) no Expresso Curto, de hoje!

     Já escrevi sobre esta minha embirração: a do verbo 'tar'. Já também sobre ela falei a muitos alunos. E antes que me digam que têm razão, que podem escrever 'tou, tá(s), tamos, tais, tão' ou 'tive, tiveste, teve, tivemos, tivestes, tiveram' na conjugação do verbo 'estar', é bom que se lembrem que na oralidade informal, em casa ou com os amigos muita coisa pode acontecer; com o professor de Português é que não (só em jeito de brincadeira)! Como as aulas e os exames não são para brincar, faça-se a devida chamada de atenção, para que não haja surpresas na avaliação / classificação.
     Todo o excurso surge a propósito da imagem à esquerda e do título lido. Tudo ficaria mais simples se a jornalista em questão colocasse um apóstrofo no início da palavra ('tão), sugerindo que algo (uma sílaba) estaria elidido; ou, então, as aspas convenientes para dar conta de uma citação, de um verso transcrito de uma letra de canção. Não que, neste último caso, não seja de se escrever 'estão'; porém, no contexto de uma letra que sugere uma conversa com um "amigo", com vocabulário e expressões conjugadas com o destinatário e a situação (familiar, cúmplice), tudo se torna mais aceitável. Basta ouvir a canção e, em particular, a letra de Chico Buarque:

Chico Buarque, do álbum Meus Caros Amigos (1976)

         MEU CARO AMIGO

Meu caro amigo, me perdoe, por favor 
Se eu não lhe faço uma visita 
Mas como agora apareceu um portador 
Mando notícias nessa fita 

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 
Muita mutreta pra levar a situação 
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça 
E a gente vai tomando que também sem a cachaça 
Ninguém segura esse rojão 

Meu caro amigo, eu não pretendo provocar 
Nem atiçar suas saudades 
Mas acontece que não posso me furtar 
A lhe contar as novidades 

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 
É pirueta pra cavar o ganha-pão 
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro 
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro 
Ninguém segura esse rojão 

Meu caro amigo, eu quis até telefonar 
Mas a tarifa não tem graça 
Eu ando aflito pra fazer você ficar 
A par de tudo que se passa 

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 
Muita careta pra engolir a transação 
Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho 
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho 
Ninguém segura esse rojão 

Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever 
Mas o correio andou arisco 
Se me permitem, vou tentar lhe remeter 
Notícias frescas nesse disco 

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 
A Marieta manda um beijo para os seus 
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças 
O Francis aproveita pra também mandar lembranças 
A todo o pessoal 
Adeus!

    Com esta modinha brasileira 'tão' e 'tá' fazem todo o sentido, nas palavras (ousadas) dirigidas ao "meu caro amigo", aquele confidente com quem se desabafa, numa intimidade que se pauta pela amizade, pela cumplicidade e pela confiança (mas que não convém a uma ditadura militar brasileira, criticada e denunciada como "esse rojão", para não falar em qualquer outro contexto político brasileiro coincidentemente crítico e adverso). Fora dela, fiquemo-nos pela adequação de uma norma a situações mais regradas e formais - para que a coisa não fique "preta!" As variedades da língua devem ser consideradas no pluriformismo e na versatilidade que os falantes dela revelam, não esquecendo a avaliação, a adequação e o ajustamento que nelas se impõem.

     A bem de quem está em contexto de avaliação e de classificações (internas ou externas) que podem marcar uma vida. (Es)tá?

terça-feira, 5 de junho de 2018

Relações matemáticas

     Da importância da matemática na vida e na língua, já aqui se fez apontamento.

    Das relações mais práticas às mais simbólicas, de tudo se compõe a vida no jogo das letras e dos números. Acrescente-se a geometria, quando se lê o seguinte:


      Perante estas lições de vida, quase diria que se impõe uma 'volta de 360 graus', se não puder ser evitada qualquer uma das anunciadas "geometrias" (ainda que a volta pareça vir dar ao mesmo sítio). Mais vale mesmo 'dar a volta por cima', para ver se tudo 'fica às mil maravilhas' (quantificação com tanto de hiperbólico quanto não se poder fazer outra coisa a ter de se contar as ditas).
      Antes de fazer disto um quebra-cabeças (um verdadeiro "trinta e um") e de dar voltas à "tola" até 'ficar feito num oito', não vou mais longe. Não fecho o assunto 'a sete chaves', nem quero ficar tal qual 'um zero à esquerda'. Simplesmente, não vou fazer disto 'uma espiral de loucura ou de problemas'.

     Língua e matemática têm tanto de aproximação que as provas são já 'favas contadas'.   

domingo, 3 de junho de 2018

A velha casa e outros dias

    Gondomar, na Biblioteca Municipal. Com amizade.

    Um dia depois de uma amiga ver o seu livro publicado nas mãos de alguns dos leitores e de ter assistido a uma apresentação da obra por alguém que a lera (e muito bem), ficou-me a vontade de apreciar mais a narrativa matizada de oral e poesia, com boa literatura à mistura.
  Um registo diarístico ficcionado; uma personagem (Madalena) cheia de vida, dando à palavra 'reformada' o sentido de mulher (bem) formada e com oportunidade(s) de reformular, retomar e reformar percursos e projetos; marcas de espaço e de tempo que se (re)visitam para se lhes dar novas cores, sabores e vivências, sem esquecer os tons, as pessoas e as memórias que a novidade faz e traz na (re)criação afetiva do lugar, das estações ciclicamente retomadas e renovadas, do fluir e do fluxo de vida e de comunhão com os outros e consigo própria - de tudo isto o livro se compõe, num jogo de ficção e realidade em que qualquer semelhança (ou coincidência) sai motivada e inspirada por lembranças, pela condição de presente e pelo desejo de futuro.
       E porque este último se complementa com presente e com passado, na linha do tempo, os projetos também se compõem de vivências e de memórias, inclusivamente aquelas que se revisitam pela tradição oral numa literatura feita em verso familiar, popular, universal pelas lições e pelos exemplos de vida configurados:


Poema da D. Marieta (in A Velha Casa e Outros Dias)

"Os Velhos" (in A Velha Casa e Outros Dias)

      Porque o ser humano se faz de, no e com tempo; porque também ele ocupa um espaço mais ou menos difuso, real, virtual ou fictivo; porque ele se (re)vê num espelho em que a imagem observada fica aquém da que verdadeiramente se expõe ou reflete, busca-se, nas linhas da narrativa, os traços de que uma mulher é feita, num retrato e numa vivência com sinais de passado recordado, de presente em ação e de futuro projetado.
      Liberta das contingências de uma vida entregue aos vários papéis que plenamente desempenhou, Madalena é feita de dores (etimologicamente de 'dolores'), de perdas, de conquistas, de ganhos, mas sempre de afetos e de expectativas, na demanda dessa utopia de felicidade que, na vida, não pode ter fim.

     ... porque o outono da vida há de sempre dar em novas primaveras, não obstante as intensidades do inverno e do verão.