Os passeios de "Carruagem" dão nisto - com a vantagem de não haver cobrança de bilhete.
Estive a “passear” pela tua “Carruagem 23” e, quando li a tua explicação para aquela situação (absurda, na minha opinião) do complemento agente da passiva, em 'Estive apaixonado por ela […]', lembrei-me de algo que me aconteceu há uns dias. Quando resolvia uma atividade do vosso Com Textos, do 10º ano, aquando da análise de uns excertos de regulamentos (pp. 62-63), dei como exemplo de um enunciado marcado pela construção da voz passiva o seguinte: “O nome do visitante fica registado (…)”. Na verdade, o verbo auxiliar não é o ‘ser’; no entanto, creio que, neste caso, a realização é semelhante. Que te parece? Quando puderes, esclarece-me, por favor.
Obrigada.
R: Olá.
A questão da diátese ou voz passiva apresenta, em português, diferentes formas configurativas, com orações de diferentes tipos.
A mais comum ou típica é precisamente a que diz respeito a orações passivas verbais, que apresentam o verbo auxiliar 'ser' seguido de um particípio passado (correspondente ao verbo pleno da frase ativa), acompanhados ou não do complemento agente da passiva - daí o contraste de orações passivas longas e curtas, respetivamente.
As orações passivas que recorrem ao verbo 'ficar' são as que descrevem uma situação consequente / resultante da mudança de estado, de lugar ou de posse (orações resultativas), como as abaixo escritas:
i) O correio entregou a encomenda > A encomenda foi entregue (pelo correio) > A encomenda ficou entregue.
ii) O meliante fere a vítima > A vítima é ferida (pelo meliante) > A vítima fica ferida.
iii) O autor escreverá o livro > O livro será escrito (pelo autor) > O livro ficará escrito.
É no âmbito destas últimas (iii) que o enunciado "O nome do visitante fica registado" pode ser perspetivado como marcado pela construção da voz passiva (resultativa), geralmente sem a realização do complemento agente da passiva. Trata-se de uma versão oracional e aspetualmente convergente com as construções passívas típicas (as configuradas com o verbo auxiliar 'ser': 'O nome do visitante é registado' < 'O visitante regista o próprio nome' OU 'Alguém regista o nome do visitante'), sendo estas últimas recuperáveis em termos da aplicação geral das regras de transformação passiva / ativa. Abordaria cenários destes, por exemplo, quando focasse diferenciações aspetuais na construção de enunciados passivos.
Configurações da passiva em Português
Ainda assim, e particularmente ao nível do ensino básico (o contexto que me motivou no apontamento citado), creio que devem ser tratados os casos mais típicos, generalizáveis no que aos exercícios de transformação ativa / passiva diz respeito. No ensino secundário, faz sentido que progressivamente se equacionem outras formas de construção, nomeadamente as passivas resultativas (com o auxiliar 'ficar') e as passivas pronominais (do tipo 'Discute-se o orçamento em todo o sítio' < 'O orçamento é discutido em todo o sítio).
E depois da ação, volto à condição de passivo (menos cansativo ou, por certo, permitindo despromover, colocar em segundo plano temático, ocultar os agentes da ação). Até porque hoje é domingo.