quarta-feira, 24 de abril de 2024

Arruada de Abril pela Liberdade

      Na véspera do feriado, duas escolas do agrupamento saíram à rua.

    Na impossibilidade de as quatro o fazerem, a Arruada de Abril pela Liberdade cumpriu-se esta manhã.
   Na base do trabalho desenvolvido desde o início do ano letivo, bem como das reuniões que permitiram a articulação e a planificação possíveis das atividades com os diferentes departamentos curriculares e grupos disciplinares, no âmbito do tema do Plano Anual de Atividades do Agrupamento ("74:24 - o que cabe em 50 anos"), foram muitas as iniciativas contempladas, na diversidade de propostas e na participação em atividades que marcam distintivamente este ano letivo.
   A propósito da celebração do 25 de Abril (que propositadamente maiusculizo), as múltiplas expressões planificadas refletiram iniciativas mais ou menos individuais compaginadas com outras de natureza mais agregadora. Neste último sentido surgiu a "Arruada pela Liberdade" na véspera dessa "madrugada" por que muitos ansiaram e lutaram; que Sophia poetizou; que se viu festejada em clima e regime democráticos, hoje vividos no caminho cinquentenário trilhado. Das escolas ao largo do município, preencheu-se  o caminho com alunos, professores, assistentes, acompanhados pela polícia que se empenhou também para o sucesso do evento. O público que assistia sorria, gritava pelo 25 de Abril, buzinava (ora pela paragem do trânsito ora pela identificação com a democracia conquistada), vinha às janelas dos prédios bater palmas. Algum deixava-se levar pela emoção denunciada no brilho dos olhos.
50 anos depois, recriam-se alguns sinais do movimento histórico na "Arruada pela Liberdade"

     Com o apelo à participação de todos nesta iniciativa, testemunhou-se como, em terra de "Tanto Mar", se cumpriu "a festa, pá!", passando-se aos alunos a mensagem do vivido e que estes puderam realizar / representar, enriquecer graças à intervenção de muitos e de uma equipa que coordenou o projeto. A Presidente da Câmara e outros representantes do município também contribuíram para um dia que se faz de memória(s) e de projeção contínua dos valores de liberdade, democracia, respeito, educação. 
    Tempo para lembrar uma revolução, na qual as armas e as máquinas de guerra que a sinalizaram e que recordamos não lançaram balas; tiveram cravos plantados pelo povo que somos, na afirmação da paz que qualquer ser humano deseja para o mundo.

    Como o disse Chico Buarque, "foi linda a festa, pá! Fiquei contente!". Fica um "cheirinho de alecrim" para todos, com a gratidão que se impõe pela participação diversa e responsável.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

"Isto vai, meus amigos, isto vai"

    Assim começou o dia, citando as palavras de Ary dos Santos.

    Retomada a prática letiva em pleno mês de abril, celebrou-se um dos dias que, há cinquenta anos e entre muitos outros dias, no silêncio estratégico e agregador, deu expressão à liberdade e à democracia, tão queridas ao poeta citado.
    Num incentivo à mudança, com as cores da esperança, cumpriu-se Abril (sim, com maiúscula, pela simbologia convocada). Também podia ser Maio (de novo, com maiúscula), enquanto marca de tempo inspiradora para revoluções (a de Maio de 68 ou outra), voltadas para a melhoria e para o bem comum da humanidade:

Declamação do poema "O Futuro", de Ary dos Santos (in O Sangue das Palavras, 1978)

     Veja-se na palavra poética o movimento dos tempos, das pessoas, dos caminhos feitos com valores de participação, de esforço, de trabalho (ou não seja este um poema pertencente ao "Tríptico do Trabalho" - formado por "O Futuro", "A Terra" e "A Fábrica").

    Estes vão ser os dias, as semanas, o mês de abril, que cabem em cinquenta anos de democracia (a bonança), surgida de uma penosa ditadura (tempestade), para dar lugar ao desenvolvimento, à construção de um regime, de um povo, de um país.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Questões de lateralidade

     Seja pela leitura (que não foi feita) seja pela perspetiva (que depende de quem vem e de quem vai).

   A imagem diz tudo: os parcos utilizadores da esquerda, caso se cruzassem com os da orientação contrária, ficariam impedidos no caminho. 
    Assim, os que em grande número desobedecem às instruções e caminham pela direita estão certos de que vão melhor dessa forma, já que estão todos no mesmo sentido, rumo a Gaia.
    Só uma senhora parece estar prestes a cumprir o que deve ser feito: atravessar a rua, chegar à esquerda (anunciada como direção a seguir) e, quem sabe, calcorrear a ponte D. Luís pelo piso dos automóveis (e não os dos transeuntes), para não impedir os que vêm ao seu encontro de prosseguir para a grande cidade invicta.
     Não sei se isto tem leitura de opções políticas, mas os resultados eleitorais de há dias apontam para uma maioria de direita. Será esta uma contrariedade assumida, reflexo dos tempos, trazida para a travessia da ponte?

      Está difícil a construção do caminho, mas ou muitos estão enganados ou, então, preferem a esquerda do vir enquanto seguem para Gaia. Confusão? Nada que não esteja no apontamento fotográfico, à direita, com tanto peão!
 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Já foi a 21, agora dizem que é a 20

     Seja o dia que for, é Dia Mundial da Poesia.

   Ontem, alguém me dizia "Amanhã, temos poema". As palavras, ao som de alguma "diretividade" disfarçada de constatação futurologista, ecoaram na mente como dever a cumprir.
   Hoje deu-me para isto, nuns breves minutos de final de tarde, para descomprimir:

Composição poética com Vivaldi a acompanhar

    Deus me valha, mais a generosidade dos leitores. Já da música, é do melhor barroco para a celebração do dia.

     Perdoai-o, Senhor, que ele não sabe o que faz (com tanto que há para fazer)!

sábado, 16 de março de 2024

"Todas as palavras de amor"

      Eis o verso a abrir um dos poemas antologiados em As Palavras do Amor.

    Trata-se de uma compilação poética "de novos poetas de Espinho", conforme se lê na capa da publicação promovida pela Câmara Municipal local e a colaboração da 'elefante editores'. É a segunda edição de um concurso de escrita, bastante participado por alunos de instituições escolares do concelho, nomeadamente, o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, o Agrupamento de Escolas Manuel Gomes de Almeida e o Externato Oliveira Martins.
    Mais de sessenta jovens escritores, entre os onze e os dezassete anos, expressaram-se acerca de um sentimento universal, a marcar pessoas, tempos, espaços, seres vivos; feito do seu bem e do seu contrário, dos dilemas e das interrogações provocados; das definições a encontrar; de cores e matizes a combinar.
     Em oitenta e cinco páginas, uma resta em branco, para preencher, não com o vazio, mas com o pleno agradecimento a todos os que incentivaram e acompanharam esta aventura de escrita poética, particularmente a dos "novos poetas" que houve oportunidade de aplaudir, numa cerimónia levada a cabo pela Divisão de Educação e Cultura do município. 
      Nas palavras da Sr.ª Presidente da Câmara (e Vereadora da Educação), é uma iniciativa a repetir, dada a evolução, desde o ano letivo passado, no número de versos produzidos, na qualidade da produção e no número de participantes no concurso. Foi bem sublinhada a gratidão aos professores de Português, alguns dos quais assistiram à sessão oficial de lançamento do livro, no auditório António Gaio do Centro Multimeios de Espinho.
     Ouviu-se poesia, logo no início da cerimónia, com os versos iniciais de alguns textos do ano letivo 2022-2023:

Vídeo de apresentação  (exibição na segunda edição do concurso poético)

      Dele e do presente, ficam o orgulho e a satisfação de mais de dois terços dos títulos serem da autoria de estudantes do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML). Prosseguiu-se com poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma conversa entre jurados e a oferta de livros aos agraciados com a publicação dos seus textos. Findou o evento com a fantástica participação musical de alunos da Academia de Música de Espinho.

    Um fim de tarde que juntou pais e mães, alunos, professores, num sentido de comunidade e comunhão que reconhece o contributo de muitos, particularmente daqueles que, nestes momentos, são um motor (muitas vezes invisível) de energia inesgotável. Obrigado aos professores de Português do AEML, que agenciaram o projeto junto dos respetivos aprendentes; particularmente a quem lidera este grupo disciplinar e também merece palavras de amor, ao assumir-se como interlocutora e colaboradora constante com os promotores da atividade (MTM).

quinta-feira, 14 de março de 2024

A propósito de uma exposição... o reencontro com História(s)

    O convite foi formulado, imediatamente aceite... e assim voltei a tê-los comigo.

   Na sequência do Dia da Mulher (e porque este deve acontecer todos os dias), a Biblioteca do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML) tem o seu espaço ocupado pela presença de uma poeta: Sophia de Mello Breyner Andresen.
    À entrada da escola, nos corredores do edifício, a presença feminina evidencia-se, assim todos possam educar-se com os contributos que muitas mulheres têm deixado, em diversas áreas, para a Humanidade, por razões de abril ou outra que afirme a construção de valores dignos para qualquer ser humano.
     Convidaram-me a partilhar, com alunos de 12º ano, a minha leitura de alguns poemas de Sophia, da minha visão acerca da sua vida e obra. Tarefa difícil, por certo, dada a grandeza de quem foi falado e dado o relevo formativo, poético-literário a salientar para quem ia ouvir. Muitas caras familiares suavizaram o registo, pela lembrança do bem vivido.
    Enquadrada no tema do Plano Anual de Atividades deste ano letivo ("74:24 - o que cabe em 50 anos"), a poesia é tópico de destaque, na expressão comprometida e transfiguradora da sociedade. Se com Antero de Quental a máxima foi "A poesia é a voz da revolução", com a autora de Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral (1950), Livro Sexto (1962), Grades (1970), O Nome das Coisas (1977), Ilhas (1990), entre muitos outros contributos poéticos, conjugaram-se as forças da terra, da natureza, do mar, da cultura e da erudição para a luz da libertação e da liberdade.
    Sublinhei os traços biográficos da ascendência aristocrática da primeira mulher a receber o maior galardão literário de expressão portuguesa - o Prémio Camões (1999) num puzzle criativo onde generosidade, humildade e sabedoria se refletem em poemas breves com mensagens eternas, como a da entrega e da dádiva poéticas ao leitor:

     EPIDAURO 62

Oiço a voz subir os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha
                                                                   (in Ilhas, 1990)

       Três a cinco versos bastam para trazerem a vida, o(s) tempo(s), a cultura, a pátria, os valores da justiça, da verdade e da dignidade humana à reflexão - motivos mais do que suficientes para que, também, a escritora portuguesa tenha sido reconhecida, no país vizinho, com o Prémio Rainha Sofia (maior galardão para a expressão literária iberoamericana), em 2003.
       2004, 2014, 2024 são datas para Sophia: o da morte, o da trasladação do corpo para o Panteão Nacional, o de celebração de cinquenta anos do 25 de abril - facto histórico que a poeta eternizou em quatro simples versos:

        25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
                                                             (in O Nome das Coisas, 1977)

Obra de Sophia numa das secções da exposição, na Biblioteca do AEML (foto JR)

    Na versatilidade da obra (em modo lírico, dramático ou narrativo), há imaginário(s) rico(s) portador(es) desses valores que compõem uma ética de apelo ao imaginário, à cultura, à viagem, à descoberta, à origem da luz, do cristalino, da concha, da onda, da força que o ser humano transporta como "O super-homem" (que cada um de nós é no labirinto da vida).
      As flores da celebração eram as da primavera, do jardim, mas também as da liberdade - que se (re)viram nos poemas, no mar, na madrugada (25 de abril) que quebrou a noite e o silêncio (do regime ditatorial). 
      Assim foram evocados os versos da poeta, lidos, partilhados na mensagem de energia, de passagem, de crença e de luta pelo progresso das coisas, de aprendizagem e de vida, sugeridas na diversidade de matizes do coral:

     CORAL

Ia e vinha
E a cada coisa perguntava
Que nome tinha.
                                       (in Coral, 1950)

        Do mais que se dissesse e do muito que Sophia viajou (física e espiritualmente), pode dizer-se que Sophia, neste território espinhense tão marcado pelo mar, é personalidade para um roteiro que não pode esquecer esse leito original de vida:

       INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.
                                        (in Livro Sexto, 1962)

       Se não tiver ficado a vontade de voltar a Sophia (na poesia, no passeio junto à Granja, na visita ao Panteão, na descoberta do Epidauro, na ironia que perpassa em "As Pessoas Sensíveis"), que esta tenha sido a razão para a vivência de uma libertação; de um momento de recordação; de reencontro com um tempo passado, num presente a caminho de futuro. Com História e com o agradecimento à MCB.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Estratégias e interações para aprendizagens com o digital

     Numa sessão de formação para docentes do agrupamento.

    O desafio foi lançado e estruturou-se uma ação de curta duração destinada à equipa educativa que se encontra a trabalhar no projeto piloto dos Manuais Digitais (oito turmas e cerca de quarenta professores).
     Tudo começou pelas consabidas vantagens genéricas do digital:

Slide 1: Vantagens do Digital (extrato de PPT - VO)

   Prosseguiu-se com algumas orientações metodológicas a apontar para a pedagogia ativa e o método da aula invertida, enquanto pressupostos a considerar na planificação de procedimentos, de dinâmicas e tarefas, de mecanismos avaliativos, por forma a que o manual digital não se torne mais um exemplo "melhorado" de abordagem expositiva das aulas:

Slide 2: Pressupostos / orientações metodológico-didáticas para o trabalho com o digital 
(extrato de PPT - VO)

Slide 3: O método da aula invertida no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

    O foco da(s) interação(ões) prevalece num ensino-aprendizagem que se equaciona de acordo com princípios / sentidos de interação assentes na/no(s):

Slide 4: Sentidos de interação no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

   Por fim, reconheceu-se que ensinar e aprender com o digital levanta questões de fundo, algumas das quais encaradas como necessidades a destacar no trabalho a desenvolver:

Slide 5: Questões de fundo no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

     E porque tudo não terminou sem alguma nota poética, foi relembrado um poema de Ana Luísa Amaral com um título sugestivo - não o do sentido de um verbo de movimento (que se assumiria desde logo no imperfeito), mas o de um universo de referência maiusculamente identificado com a "Inteligência Artificial":

Slide 6: Nota poética para terminar (extrato de PPT - VO)

     Com a afirmação do humano, dessa inteligência natural que não pode esquecer(-se) do papel que tem (nomeadamente na educação, no ensino-aprendizagem, as opções que intencionalmente assume), caminha-se para o que se anuncia como uma nova sessão de trabalho: a avaliação do projeto, dos processos de / para aprendizagem(ns), das tarefas, dos alunos.

domingo, 10 de março de 2024

Dia de eleições

      Este é o dia de reafirmação da democracia.

      Um dia que lembra o cravo de há cinquenta anos e tem de apagar sinais da arma que o fez florir.

Que o cravo inspire o ato de escolha, 
na consciência de que o futuro é sempre incerto, mas construído por quem vota.

    Que a escolha se cumpra e se reflita sobre o que não se fez, num caminho em que as incertezas e indefinições se tornaram uma prisão para um país que precisa(va) de muito diálogo e de soluções com maior(es) compromisso(s) - o(s) qual(is), assim o diz a História, surgiu(ram) muitas vezes sem maiorias. 

     Menos abstenção seria já a melhor resposta para quem provocou toda uma situação ainda sem resposta; ainda por provar. Tragicomédias não vão poder ser evitadas, garantidamente, mas que a escolha seja a de fazer progredir um país, livre de forças que o comprometem no que tem de bom. Seja este um país de cravos (destinado que parece estar a não viver num mar de rosas)!

sexta-feira, 8 de março de 2024

De / Sobre / Para Mulher(es)

     Saudados todos os leitores, elas hoje saem destacadas - pelo Dia Internacional da Mulher.

   Ainda que assinalado desde o início do século XX (com variações na data da celebração), em dezembro de 1977, este veio a ser o dia oficialmente reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, através da Resolução 32/142, para sublinhar os direitos conquistados pelas mulheres até então: o direito ao voto, a salário igual, a maior representação em cargos de liderança, a proteção em situações de violência física e/ou psicológica, ao acesso à educação. Fossem direitos já adquiridos, não haveria a necessidade de tomar o dia pela diferença, nomeadamente nalguns pontos do globo, onde muitos deles estão ainda por cumprir.
     Hoje, lembrei-me de uma mulher que recentemente me ofereceu uma edição / publicação poética (o esforço que fiz para não escrever o masculino 'livro'!), da autoria de uma professora minha de Literatura Inglesa na Faculdade de Letras do Porto:

               O SOPRO

A mulher sentada à minha frente

brinca com a carteira –
distraída

Gira e revira a asa
da carteira,
enrola-a entre os dedos,
volta após volta

Ana Luísa Amaral (2021: 80-81),
in Mundo, Porto, Assírio e Alvim

Como um pássaro breve e dançarino,
a asa da carteira ganha vida
nos dedos da mulher

A carteira é azul e o fecho é amarelo,
a mulher é velha,
a saia desbotada, uma blusa cansada
e também velha, usa chinelos

Mas brinca com a asa
da carteira
num ar feliz de criança ou pardal,
sem se preocupar com as pessoas sérias
de mãos serenamente,
seriamente pousadas sobre o colo,
lendo quietamente o seu jornal

A mulher sentada
à minha frente
brinca com a carteira,
distraída


Distraída, a mulher? Ou a carteira?

fazendo piruetas,
volteios elegantes, curtos passos de dança,
ao dar-lhe o sol de lado, na cabeça,
a mulher fica quase bonita
no seu ar distraído de criança
ao dar vida à carteira,
que dança

distraída
no seu colo
      Um poema para todas as mulheres, de uma mulher, acerca de mulher(es), com palavras que são colo, calor, luz e sopro de vida, independentemente da(s) idade(s) e do(s) género(s).
     Quem puder leia outra mulher que escreveu uma narrativa muito feminina, que cruzei com "O Sopro" numa viagem e numa progressão temporal que me fizeram (re)ver "Georgina" em verso.

      Bem hajam, Mulheres. Felicitações por este dia, a espelhar no dia-a-dia do resto do ano.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Indecisões

      Os tempos são, para alguns, de bastante indecisão.

    No sobe e desce das sondagens diárias que apresentam partidos e números de deputados como se fossem resultados finais de eleições (por acontecer), lá vem o elevado número de indecisos que, dizem, tudo vai resolver à hora das urnas.
      Nem os carros escapam, a julgar pela "leitura" de certas matrículas:

Uma matrícula muito indecisa

     Da leitura de letras à da palavra percecionada, até os números parecem instáveis, quando "apanhados na curva".

    Na celebração dos cinquenta anos de liberdade e democracia nacionais, que domingo próximo seja a afirmação consciente de um direito e de um dever que a todos assiste, para calar o circo mediático das sondagens, a cansar a paciência de qualquer espectador televisivo. 

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Classificações... a quanto (n)os obrigam!

      Veio a pergunta e logo se ativaram os focos de análise.

      Por mais respostas que se queira dar, há vários pontos de vista analíticos a considerar, alguns dos quais conduziriam à que se revela mais aceitável / adequada / correta.

      Q: Olá, Vítor. Quando puderes, diz-me, por favor, como classificas as orações na frase: "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa, que é muito bom." A professora de uma explicanda minha diz que é subordinada adjetiva relativa explicativa. Se não fosse adjetiva relativa, só poderia ser adverbial causal.

       R: Viva. Perante a minha divergência face às respostas citadas, direi o seguinte: 

       i) a hipótese de uma subordinada adjetiva relativa (explicativa), eu colocá-la-ia de parte, uma vez que o suposto pronome relativo "que" me levanta questões de forte ambiguidade quanto à construção sintática da complexidade na frase e quanto ao referente retomado (será "o CD do Pedro Abrunhosa", que não sei qual é apesar da determinação e que necessitaria de uma relativa restritiva para a sua identificação precisa, ou será "[d]o Pedro Abrunhosa", que não vou apreciar na forma e nos termos apontados no enunciado);

      ii) o cenário de a segunda oração ser uma adverbial causal levanta-me sérias reservas quanto ao facto de as subordinadas adverbiais tipicamente admitirem inversão dos termos da construção (*"Que é muito bom, ouve o CD do Pedro Abrunhosa" resultaria numa clara construção agramatical);

    iii) a expressão lógica da causalidade-explicação do enunciado é admissível, conforme se encontra introduzida na segunda oração, configuradora de uma explicação / justificação para o que se enuncia na primeira oração; porém, não tomaria esta última como subordinante nem aquela como subordinada;

    iv) o foco de análise pragmático a colocar no segmento "Ouve o CD do Pedro Abrunhosa" permite entender este último como um ato diretivo (conselho, sugestão) na interação produzida entre um 'eu' e um 'tu', conforme se depreende do modo verbal imperativo usado em 'ouve'; simultaneamente, a apreciação feita com a segunda oração resulta numa orientação justificativa (assente numa apreciação) / explicativa de um 'eu' para o ato de fala assumido na primeira oração.

Problemáticas de identidade (e classificação) do 'QUE'

   Assim, numa perspetiva de análise pragmático-sintática, assumo que a oração inicial é uma coordenada (que não admite troca na ordem sintática com a segunda oração), seguida de uma coordenada explicativa introduzida pelo conector 'que' (a iniciar a oração coordenada explicativa). 

  Desta forma, concluo o seguinte: um "que" sinónimo de "pois" aponta para construções coordenativas; um "que" sinónimo de "porque" nem sempre corresponde a uma subordinação, a qual, sintaticamente, apresenta propriedades típicas não confirmadas com o enunciado em análise.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Declarações de desamor...

    Depois do Dia dos Namorados, ...

    Não há bolo que resista!
    Sem vírgula antes de 'mas', sem as que encaixam a expressão "às vezes", a forma verbal de 'dar' sem acento e o já mencionado "às vezes" mal grafado (acentuado) são ameaças muito significativas, a fazer certamente ter vontade de apertar o pescoço a alguém:

Um bolo azedo para desamor à língua

      (Também) não há amor que resista. O da língua já foi há muito.

      ... ficou um amor muito azedo e agressivo.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

No dia dos namorados, fui ao "Jardim dos Poetas"

       Acima de tudo, dia e tempo(s) que precisam de afetos.

    Na sequência de um projeto numa turma de 1º Ciclo, fui convidado para inaugurar o 'Jardim dos Poetas'. O dia é marcante, o projeto é artístico. Não há como recusar. Daí à ideia de trabalhar uma oficina poética com crianças do 3º ano (turma A da Escola Básica Integrada Sá Couto - EBISC) foi um pequeno passo.
     Um canteirinho com plantas para cuidar deixava ver alguns poemas entre o colorido natural. Assim se faz florescer o "namoro" com os poetas e a poesia. Entre os reconhecidos, inclusivamente o patrono da escola, havia outro que só o é por lidas bem distintas do labor poético.

O "Jardim dos Poetas" construído sobre livros e leituras do 3A da EBISC

      Inaugurado o "Jardim dos Poetas", houve partilha de poemas lidos a uma e duas vozes, com nomes que o tempo notabilizou: Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, Rosa Lobato Faria, Luísa Ducla Soares, entre outros.
    Não podia deixar de corresponder. Pensada a construção de um poema para a ocasião, a produção de um separador para lhes ofertar, tudo começou com a distribuição aleatória de palavras (as finais de cada um dos versos produzidos) entre as crianças. Tiveram de explicar se elas mantinham ou não relação com o "espaço" inaugurado. Trabalhou-se vocabulário, exploraram-se universos de referência, desenvolveram-se raciocínios e procuraram-se afinidades entre as palavras: as que se aproximam, as que se distanciam, as que rimam, as que têm sentidos múltiplos, as que revelam combinatórias sugestivas.
     Foi a turma posicionada aos pares, na ordenação do texto, de modo a que todos os alunos lessem quadras - um para cada verso findado com a palavra detida na distribuição feita. Apresentaram-se, no total, cinco quadras do poema oferecido.
     Como são vinte as crianças, a sexta estrofe (quadra final que sobra) vai ser minha - com a minha leitura passar-lhes-ei o desafio de serem elas próprias poetas do e no jardim inaugurado.

Das palavras ao poema (no "Jardim dos Poetas" do 3º A da EBISC)

Separador com "toque poético" na combinação de palavras... e não só.

    Produzindo uma quadra, poderão plantá-la junto daqueles que, no canteirinho, aspira(ra)m a um mundo melhor, mágico, artístico, onde os afetos, as emoções jogam com razão, coração e imaginação.

     Com o agradecimento à S. F. que lançou a semente no "jardim". Assim passou a lição no meu melhor momento do dia: a de um namoro possível com o jogo poético, com a poesia.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Porque nem tudo é claro, coerente, evidente

    Quando tanto se fala da necessidade de coerência...

    Perceber que a vida tem contrastes é bem visível: mostram-no a noite e o dia, a tempestade e a bonança, o ódio e o amor, a inércia e a ação, o negro e o branco.
   Concluir que muitos deles se complementam é entender que, com antónimos, nem tudo se exclui definitivamente - é o que se pode inferir de expressões como "pôr o preto no branco", onde os termos antónimos convergem para uma noção, um sentido de clareza, explicitação e formalização de situações. 
    Não só a antonímia, enquanto processo de relação lexical, contribui para níveis de  coerência; também o conhecimento enciclopédico, apre(e)ndido e/ou vivido.
      Hoje, foi-me dado a ver que as pedras dão cor, flor, vida natural, ser vivo.

Pedras que dão vida no varandim de um hospital (Foto VO)

    Por estranho que pareça, não se trata de afirmação incoerente. Por literal que não seja, é possível ver o afirmado, pelos vistos mais e melhor do que alguns homens que, precisando de coração para viver, o negam para com os seus pares. Assim o ditam as guerras, os conflitos que por aí grassam no mundo e muitos teimam em não ver o mal que trazem e fazem à Humanidade. 

    ... e o mundo nos dá a ver que as contradições e os contrários não espelham necessariamente incompatibilidades.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Que dia! E diz-se 'oito'... de equilíbrio!

      Nem pelo clima nem pela História.

     A Karlota veio agravar o estado do tempo. Nem há vontade de sair de casa, com esta intempérie da chuva, do vento e do frio.
     Ainda que sujeito a confirmação, parece que a História aponta o dia como aquele em que Mary, Queen of Scots, foi executada, em 1587, sob suspeita de envolvimento na Conspiração de Babington (por pretender assassinar a prima, a rainha Isabel I). Diria mesmo que foi dia aziago para The Faerie Queen, já que, em 1601, Robert Devereux, Segundo Conde de Essex, se rebelou contra a mesma - ainda que de nada tenha adiantado, pois a revolta foi rapidamente esmagada.
       Houve também conflitos, guerras, atentados e até avalanches fatais no decorrer dos tempos, sempre ao mesmo dia.
       Estou aqui estou a citar Camões: "O dia em que nasci moura e pereça". 

Declamação do soneto camoniano "O dia em que eu nasci moura e pereça" (vídeo VO)

"Últimos momentos de Camões", 
de Columbano BordaloPinheiro (1857-1929)
O dia em que eu nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça.

A luz lhe falte, o céu se lhe escureça,
Mostre o mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas, pasmadas de ignorantes,
As lágrimas no rostro, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desaventurada que se viu!

      Pode ter sido mais topus literário e criativo do que sentido factual e autobiográfico, mas verdade é que, por vezes, a conjugação de fatores não ajuda a celebrações.

    Venham melhores dias e melhores anos - sem tempestades, execuções, rebeliões nem forças adversas. Ainda dizem que o número 8 (oito) é símbolo universal do equilíbrio cósmico!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

No mês mais pequen(in)o

     Depois de um janeiro que parecia não mais acabar...

     Chega o mês mais pequeno (ainda que este ano seja maior, por ser bissexto). 
    Com os dias a crescer (só falta sair do malfadado horário de inverno, que torna o fim de tarde mais rapidamente escuro), a primavera a aproximar, anuncia-se uma liberdade natural que um dia de sol faz mais apetecida.
     Olhando o mar, inspirando-se num sentido de liberdade que a imensidão marinha também traduz, Sophia faz-se evocada na sua familiar Granja:

Da purificação do mês à pureza poética - com Sophia de Mello Breyner Andresen

     Um sentido de libertação, concentrado em sete versos, convoca tempo mais quente, horas mais claras e vida mais luminosa.

        Fevereiro, traz o calor que nem janeiro nem o fogueiro dão. 
        

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Jornadas '24 de Inovação e Educação

     Dia para o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML) viver as Jornadas'24 de Inovação e Educação.

     Um grupo de profissionais (equipa do Plano de Ação de Desenvolvimento Digital da Escola - PADDE) preparou e concretizou um programa de sensibilização e de formação para docentes,  encarado como um espaço privilegiado de partilha e de reflexão no âmbito da utilização crítica das tecnologias em contexto educativo.
      Tendo como objetivos o fomento da integração das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas, o conhecimento e a utilização de diferentes ferramentas digitais (segundo a função a que se destinam), a promoção e a integração do digital de forma pedagogicamente pertinente, a capacitação dos docentes para a implementação de atividades promotoras da aprendizagem e do desenvolvimento das competências digitais dos alunos, o dia resultou em pleno com um número de participações significativo, de comunicações inspiradoramente pertinentes e demonstrativamente reveladoras de práticas que podem fazer a diferença.

Publicitação e dinâmica das Jornadas'24 do AEML, em parceria com a Câmara Municipal de Espinho (CME) 
e o Centro de Formação Aurélio da Paz dos Reis (CFAPR).
     
    O programa contou, no Painel 1, com a presença da Sr.ª Inspetora Geral de Educação, Prof.ª Dr.ª Ariana Cosme; do Presidente do Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua, Prof. Dr. Rui Trindade; da Prof.ª Dr.ª Joana Rato, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, investigadora integrada no Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde, onde dinamiza o grupo de trabalho Mente, Cérebro e Educação. Foi o espaço e o tempo das Neurociências à Sala de Aula, para reflexões acerca da aprendizagem e do ensino, da importância das mudanças, das reformas e da inovação na educação.
     Com o Painel 2, dedicado à Tecnologia e à Sala de Aula (como, quando e onde?), houve a oportunidade de receber contributos do Prof. Dr. Marco Bento (da Escola Superior de Educação de Coimbra), investigador em Tecnologia Educativa na Universidade do Minho, e do Prof. Dr. Luís Borges Gouveia (Professor Catedrático na Universidade Fernando Pessoa e Doutor em Ciências da Computação); do Dr. Carlos Pinheiro, professor bibliotecário do Agrupamento de Escolas Leal da Câmara, professor de História e coordenador interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares (concelho de Cascais).
      Durante a tarde, entre as 14:30 e as 19:00, foram várias as intervenções (Dr.ª Liliana Costa, Manuela Simões, Cláudia Meirinhos, Alda Ferreira, Carla Alves, Ana Paula Rodrigues e Dr. Tiago Costa e Pedro Silva) a sublinhar as oportunidades que as tecnologias têm vindo a trazer para a ação educativa.
     Num espírito em que o instituído se comple(men)ta com o instituinte, o tema da inovação e das tecnologias anuncia-se presentemente fulcral para a dimensão da relação e da interação pedagógicas; para o exercício consciente e consistente profissional docente; para a implicação fundamentada de uma atitude crítica perante os grandes desafios éticos e tecnológicos que atualmente a Inteligência Artificial (IA) coloca na Educação; para a defesa de uma complementaridade de suportes de aprendizagem em que a abordagem híbrida se revela mais diversa, integradora, complementar e, por isto mesmo, mais rica.
    Aproveitado o momento para que as vantagens da IA não deixem de se compaginar com o que a inteligência humana tem para a enriquecer (sem que o feitiço anule o feiticeiro), não deixou de se evidenciar como, do acordar ao deitar da humanidade, são múltiplos os sinais de como aquela nos facilita a vida, mesmo naquelas circunstâncias em que esta se encontra mais frágil ou em perigo e a requerer dela intervenções menos agressivas, mais cómodas, eficientes e imediatas.
    Sem endemoninhar a IA pelo que possa provocar nos tempos mais ou menos próximos, reconheça-se e descubra-se o que esta propicia ao ser humano, construindo-se e explorando-se, de forma inteligente, humanista e humanizadora, o que ela possa contribuir para a dignificação da existência do último.

     Um dia trabalhoso e que, nas palavras do patrono Manuel Laranjeira, revelou bem como "As ideias têm tudo em lucrar em serem agitadas" (in Cartas, na endereçada a João de Barros a 15 de janeiro de 1909) ou como "No mundo não basta descobrir verdades: é preciso sobretudo semeá-las pelo espírito e pelo coração dos homens" (idem, na carta endereçada a António Carneiro, a 14 de setembro de 1908).