sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Céu grego

       No caminho, entre Espinho e a Aguda, vi a Grécia.

      As sombras escuras do céu noturno deixavam ainda clarear uma península, fazendo lembrar essa terra com Creta ao pé. 

Céu, mar, praia e terra da Granja (Foto VO)

     Era como se o Peloponeso se ligasse a um continente triangulado, limitado pela escuridão dos mares, com o negro Jónico, a oeste, a não se distinguir do Egeu, a este, ou do Mediterrâneo, a sul. Só que o mapa era outro: tinha um rasgo de fogo, também com recortes e sulcos (quais cadeias montanhosas dos Titãs), a separá-los de um Atlântico a ondear até à praia a que Ulisses não aportou. 
     No horizonte, não se via a fina linha contínua desse limite visual; antes o calor de um verão quente e seco em frio inverno.
       Esta é terra de Sophia, dessa poeta que, qual "Menina do Mar", na "Casa Branca", renascerá:

       CASA BRANCA

Casa branca em frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

A ti eu voltarei após o incerto
Calor de tantos gestos recebidos
Passados os tumultos e o deserto
Beijados os fantasmas, percorridos
Os murmúrios da terra indefinida.

Em ti renascerei num mundo meu
E a redenção virá nas tuas linhas
Onde nenhuma coisa se perdeu
Do milagre das coisas que eram minhas.

                                                                     in Poesia, 1944

      Foi este o caminho que me deu a Grécia aos olhos, à imaginação, à viagem que, nos meus passos e percursos tão próximos e familiares, se fez bem longe.

     Regressado a casa, revi a foto e lembrei esta noite que ainda tinha alguma luz de cultura, de mitos e de deuses nas cores da praia, do céu e da maresia.

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