domingo, 24 de dezembro de 2023

Por mais este natal

      Chegada a noite, venha o dia.

      Nas assonâncias e dissonâncias da língua, nas lógicas analógicas do pensamento, nas afinidades e nos contrastes poéticos inspirados nas regularidades e irregularidades da vida, escrevo:

Votos natalícios (Foto e texto VO)

      Cumpra-se o que é preciso para lidar com os dias imprecisos e tenha-se a certeza do melhor que se faz para os tempos incertos.

      Um bom natal para todos.

sábado, 9 de dezembro de 2023

Nova falha... já antiga.


       E não foi, por certo, por causa da chuva - que não para.
      Hoje, logo ao acordar, depois do empate e da crise do Benfica, vem a guerra de Israel-Hamas e, para não variar, a desgraça da língua escrita (prioridades!):

       Sem equilíbrio na escrita e no mundo (Foto VO)

     A inconsciência ortográfica assenta numa outra: a morfológica. Trata-se de um caso clássico de erro ortográfico proveniente da inconsciência morfológica. Não sabendo a palavra base (equilibrada), por parte de quem escreve, o acrescento do prefixo 'des' deriva numa escrita fonética mais do que problemática.

       Efetivamente, o DESEQuilíbrio é evidente... na língua e nos líderes mundiais (chega a parecer que a guerra é preferível). Santo Deus!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

No Dia Internacional da Aviação Civil

       Chega o apontamento fotográfico do dia.

       Parece ironia, mas as aves decidiram celebrar o dia deste modo:

Voos suspensos (foto VO)

       O dia invernoso assim o ditou: à espera de melhor(es) tempo(s).

    Estes passarocos parecem ser do contra, mesmo (logo hoje que oficializa o último dia do presente governo).

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Dezembro começa mal (e não vai terminar melhor)!

      Valha o facto de ser feriado (que foi já confundido com outras histórias), para não ser pior.

    Tudo por causa das negociações governamentais (ainda que em tempos demissionários) na área da saúde; ou melhor e para ser mais correto, pela comunicação que delas se faz.
      Hoje, a legenda televisiva é a seguinte:

      Não há saúde para a língua! É o desgoverno assumido. (foto VO)

     Não sei se será por o ministro ter ficado com os cabelos em pé (!!) ou se é por querer ligar todos a uma só causa, pensando que isto é questão de várias entradas para uma só tomada elétrica (isto para não falar de outras extensões, que também não são para aqui chamadas). É o que faz ESTENDER em demasia. Lá diz o povo: "Não te estiques!" A SIC, pelos vistos, espalhou-se!
      No que ao mau uso da língua diz respeito, é o desgoverno generalizado nos canais televisivos. Impõe-se uma "conjura" contra o domínio incorreto do nosso idioma. Toca a pô-los da varanda abaixo, metaforicamente falando.

      Isto de confundir 'es' com 'ex' é silábica e ortograficamente problemático. Preferia a extinção destes erros a uma extensão (tão paronímicas!) que não é salutar para ninguém.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Estamos nisto! Ortografia do melhor...

      Quando estás preparado para ser informado sobre o que se passa no mundo, ...

       ... as notícias aparecem na sua pior escrita.
    Dúvidas houvesse acerca da influência da oralidade na escrita, os erros comuns na ortografia de palavras como 'feminino', 'ministro', 'príncipe' e afins demonstram-na. Daí que, no plano da correção escrita, seja de abordar estes casos críticos, para que resultem em domínio mais consciente e correto do ato de escrever.
    A televisão começa a dar sinais de como esta competência parece já não ser apanágio do bom exemplo do serviço público e da exposição ao bom uso da língua:

Eis a razão para, sem dúvida(s), preferir o favorecimento, bem escrito (com agradecimento à AC) 

    Claro que não é necessário dominar a etimologia e reconhecer a base latina "PRIvilegium" (embora ajudasse): a leitura de vocabulário frequente permite ver bem as sílabas de "PRIvilégio" (desde logo a primeira de todas); a família de palavras assinala recorrências evidentes em "PRIvilegiar", "PRIvilegiado", "PRIvilegiadamente", "desPRIvilegiado" (pela consciência repetitiva da base); a consulta de um dicionário, hoje, está à mão de qualquer telemóvel ou computador pessoal (com palavras bem grafadas).
      Tão bom seria ver / ler palavras, em primeiro plano, para uma comunicação feliz!

     Talvez por causa do mau exemplo, prefira o favorecimento ao outro termo que, em vez de 'pre', deveria ter 'pri' na sílaba inicial.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Dia Nacional da Cultura Científica

         Poucos minutos, mas para minha memória futura.

       Uma turma de 10º ano, uma lição de Físico-Química A e o motivo do Diretor na sala de aula: um cartaz assinado que havia motivado dois dedos de conversa sobre Rómulo de Carvalho e o Dia Nacional da Cultura Científica, mais uns poemas que importava partilhar. O convite "Queres vir à aula, amanhã?" foi imediatamente aceite.

Saberes que cruzam letras, planetas, forças e número em abraço

        Há 117 anos, nascia aquele que viria a ser professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes, Liceu D. João III (Coimbra) e no Liceu Camões; pedagogo, investigador da história da ciência em Portugal... e poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão. Há 25 anos celebra-se o "Dia", inspirado neste professor e divulgador de ciência. Também escritor literário. Razões mais do que suficientes para o homenagear. "Pedra Filosofal", "Lição da Água", "Lágrima de Preta" são das mais reconhecidas produções poéticas.
         Li "Impressão digital".
      A propósito dos "olhos", lembrei Camões e "Se Helena apartar / do campo seus olhos / nascerão abrolhos" - os efeitos do olhar de Helena na natureza são transformadores (sejam olhos verdes da "cor do limão" sejam de outra cor, mas "olhos do meu coração"). Os olhos de Gedeão são outros. Mais próximos dos contemporâneos, por certo, com abordagem e orientação temática bem distintas, sublinhando e definindo o que nos singulariza, o que nos faz ser diferentes, tal como uma "impressão digital".
      O tema da relativização do que se vê, da perceção das coisas, do copo meio cheio / meio vazio, da visão otimista em confronto com a pessimista são lições para a vida, para o crescimento do entendimento do universo. É / são saber(es) que o texto / poema dá, vindo(s) de alguém que se fez Homem da Ciência e das Letras, mostrando que a fronteira entre conhecimentos não faz sentido.
António Gedeão, no Parque dos Poetas (Oeiras)
     Ficou o convite para se deslocarem a Oeiras, ao Parque dos Poetas, e verificarem como uma estátua em honra do poeta António Gedeão não desdiz o físico Rómulo de Carvalho, mais os seus tubos de ensaio. Com física ou química, há lugar para a poesia, nas palavras que se atraem, noutras que se afastam - forças que a física designa de atração e de repulsa. Também há flores e escolhos (que rimam com os camonianos abrolhos); pedras pisadas, gnomos e fadas; moinhos e gigantes.

        Um dia que se marcou pela diferença, nas ciências que se complementam, por cruzarem saberes e darem outro sabor - um halo diferente na vida. Obrigado, AMT.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

A propósito de escândalos (no plural)

     Não bastava um, tinha de aparecer outro.

    É o que dá não distinguir verbos principais de verbos auxiliares. No caso de 'haver', é a diferença, respetivamente, entre a forma exclusiva do singular e a que admite o contraste de número com plural.
     Por isso, quando o verbo é principal, como em...

Escândalo atrás de escândalo (com agradecimento à CF)

     ..., não há plural. Há um, há dois, há mil. No caso, havia (dois telemóveis que sejam).
     Entre o escândalo noticiado e a forma verbal escandalosa, não há telemóveis que escapem. Numa semana em que, numa só reunião de trabalho, os discursos oficiais permitiram ler e ouvir "*Alguns de vós não esteve presente" (credo!) e "*Ainda que não tenhemos dados..." (salvo seja!), já espero tudo, no mal em que a língua anda.

      Atrocidades à visão e à audição, para o comum dos mortais.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Pano-Pão-Planeta

      São três "Ps" para a vida.

    Na padaria e pastelaria 'Pão Pepim', em Espinho, foi experimentada uma receita de pão para a Semana Europeia dos Resíduos (18 a 26 de novembro).
     No decurso da semana, um pequeno gesto contribui para uma grande causa: um saco de pano faz a diferença.

Campanha da Pão Pepim e do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (foto VO)

      Hoje, depois de tomar um cafezinho, à hora do pagamento, os olhos pousam num "RollUp". Da grande mensagem ao pequeno pormenor, vê-se quem participa na causa.
    Lida a mensagem, levado o saco de pano, comprado o pão, fica o dever cumprido pela sustentabilidade do planeta.

      Leva-se o pano, compra-se o pão; alimenta-se o Homem, poupa-se (n)o planeta.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Conjugações pronominais (e outras coisas mais)... no seu pior.

        Pasmo com alguns documentos oficiais (pois quanto aos que não o são...)

     De erros e pontapés na gramática estão os media cheios, bem como alguns falantes da língua, mesmo o intitulado 'Bom Português', que, por vezes, deixa muito a desejar.
       Com documentos oficiais, a questão torna-se bem mais grave, assumo. Assim o penso sempre que me cruzo com pérolas (asneiras) deste tipo:

Da língua mal dirigida na educação, ainda por cima quando vem da Direção-Geral!

    E tenho eu que ler isto, quando ensinava que, na conjugação / construção pronominal, os verbos terminados em 's' perdiam esta consoante em contexto de sequência de pronome pessoal átono:

       Encontramos + nos > ENCONTRAMO-NOS
       Fizemos + o (trabalho) > FIZEMO-LO
       Deténs + o (juízo necessário) > DETÉM-LO
       Lavais + vos > LAVAI-VOS
       Convidamos + vos > CONVIDAMO-VOS

     E quando dizia que uma vírgula não separa o complemento do seu verbo, no predicado. Se ainda fosse com duas (uma depois de " a participar e a divulgar" mais aquela colocada antes de "o desafio"), tudo estaria bem, com o encaixe da sequência "..., junto de todos... Escola Não Agrupada,..." entre vírgulas (uma antes e outra depois, para haver encaixe e não ter uma vírgula a separar o núcleo verbal dos seus complementos). 
     E, como não há duas sem três, que dizer daquele apontamento final "Toda a informação e regulamento disponível"!!! A informação (disponível) e o regulamento (disponível) não estarão para uma coordenação nominal com concordância no plural ("Toda a informação e regulamento disponíveis...")?!

     Vai mal a língua ou o conhecimento dela (que tende para o desconhecimento). Como irá a educação que dela e nela se dá?!

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Gaivotas em terra

      Ei-las todas alinhadas ao sabor do vento (que não muda nem para).

    Assim as encontrei, ao sair de casa, plantadas na relva que ladeia o "mamarracho" cá do sítio.

Gaivotas em terra... de Espinho (Foto VO)

     Lá diz o povo: "Gaivotas em terra, tempestade no mar". Sim, este anda muito agitado, altivo, tal como o mundo. Até as aves marinhas procuram repouso à espera de melhores dias. Acrescente-se, contudo, que as expressões idiomáticas e os provérbios são frequentemente redutores e culturalmente relativos. Isto é evidente quando na terra a acalmia é só para alguns e a agitação também não é para todos.
    Não é ocasião para lembrar que "uma gaivota voava, voava" (lá chegará!). É momento para deixar a tempestade amainar. Há tempos assim. Deixá-los passar. Hão de mudar.
     Gostava de ser uma destas gaivotas, em sossego. Ter tempo para reler Gaivotas em Terra, obra que David Mourão-Ferreira produziu na estreia da sua ficção narrativa (1959) e com a qual foi galardoado com o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. Há nela uma novela intitulada "E aos costumes disse nada" (adaptada, em 1982, ao cinema como "Sem Sombra de Pecado", por José Fonseca e Costa), com um toque de escrita a lembrar prosa queirosiana, um retrato de época e de um país com muitas "tempestades":

       "E os tempos iam maus: quase toda a Europa estava em guerra, quase todo o mundo estava em guerra. Dos meus camaradas do COM, a maior parte tinha sido destacada para os Açores: alguns outros para lôbregas unidades fronteiriças. Eu - talvez graças a influências do meu pai - fora dos raros privilegiados a ficar numa guarnição de Lisboa." 
in "E aos costumes disse nada", de Gaivotas em Terra, Presença, [1959] 1998

     Neste segmento narrativo convergem várias metáforas: as da família, do quartel, da cidade, da guerra (e da sua linguagem), da terra a conviver com o grotesco, com a máscara, com uma formalidade aparente; a contrastar com a antítese e a duplicidade de comportamentos. Transparece uma sociedade que pouco tem de liberdade, na teia do "ser" e do "parecer", à espera de uma outra "tempestade", mais libertadora e geradora de condições de vida mais dignas.
     Pensamentos e reflexões feitos de uma atualidade que cansa (porque há quem teime em não aprender ou se renda ao que não é dever nem poder).
       
      Não sei se estas são as gaivotas que voam, que aspiram ao alto, à mudança; parece-me que não trazem "o céu de Lisboa". Andam mais perto, ameaçadoras. Talvez em qualquer lugar, a qualquer instante, espalhando excrementos corrosivos que importa limpar de imediato (como a "cegueira", as invejas e outros males do mundo). Com Zeca Afonso, o digo: "não há só gaivotas em terra quando um Homem se põe a pensar".

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Vai uma "ghost house"?

      Não se confunda com "guest house".

     O dia é de Halloween, mas não é feriado para ninguém (é de trabalho, trabalho,... e mais trabalho). Nem com feitiços isto lá vai! De bruxas, nada - já não as há como antigamente, que eram mais "descaradas", menos dissimuladas!
       Por isso, com "trick or treat", fiquemos pelo "treat" e uma "ghost house" (melhor, duas). Com a crise da habitação em Portugal, não há como explorar alternativas (que não prejudiquem).

"Ghost House": uma doçura de Halloween vinda diretamente da Pepim (Foto VO)

       Venha o chazinho (de limonete) e viva-se a "doçura" sem travessuras.
       Há quem veja neste dia o antípoda do seguinte:

Comparações falíveis, com dias sem luz, sem vida e sem o princípio da eternidade

       Antes fosse assim! A referencialidade histórica do dia de amanhã em nada se mostra positiva pelo que foi tragicamente vivido, corria o ano 1755 - um dia de má memória.

       Façamos nós os dias ou alguns momentos destes ao prazer de todos, porque, para tragédias, já basta as que existem no mundo e parecem não ter fim.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Dois anos depois

       Há quem lembre a obra feita.

       Uma grandiosa, outra inspirada e inspiradora, uma terceira que delas foi leitor.
       Correndo pelo Facebook, (re)encontro-me com o tempo e as lembranças:

Um apontamento do "Farol das Letras" no Facebook (com agradecimento ao MM)

       Passaram dois anos (quem diria!) de um dia feliz. Outros houve (os imediatamente anteriores) dedicados à leitura, à escrita e à amizade. Revejo o escrito, que resultou de um desafio enorme; que ousei aceitar e produzir, na senda de uma figura intelectual grandiosa, de uma profecia ansiada e da explicação de um império a realizar; que procurei fazer corresponder à confiança depositada e à consciência de uma responsabilidade assumida na força da fraterna amizade e identidade

       Na base, o pensamento e a obra de uma personalidade; no motivo, a ficção partilhada em espírito de fraternidade; na apresentação, um adjetivo exagerado (diria) para uma reconhecida e vivida realidade. Sem perdição.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Um pensador... com sangue português.

       Fecha-se a leitura de um romance de escrita nacional.

     Abre-se o conhecimento a uma personalidade seiscentista que os séculos teimam em não desvelar a larga escala. É ela a protagonista da narrativa, do início ao fim (da infância à morte).
      Assim termina o romance:

      "As ideias que deixara registadas em papel, as ideias que plantara no espírito de tantos e tantos homens, essas ideias ficariam, floresceriam, perdurariam e espalhar-se-iam por toda a humanidade. Ele morria, mas viveria nelas. Desaparecia como homem, é certo, mas o seu espírito eram as suas ideias, e se essas sobreviviam então ele de certo modo também sobreviveria, e o que era isso senão a verdadeira imortalidade?"

        Palavras para um denominador comum: Bento de Espinosa. 
      Criado na comunidade luso-judaica de Amsterdão, depois de a família ter abandonado Portugal pela ação da Inquisição, Espinosa veio a desenvolver ideias altamente controversas a respeito da autenticidade da Bíblia Hebraica e da natureza do Divino, podendo afirmar-se que foi um panteísta - tomou Deus pela natureza, não os diferenciando: "Se o mundo é regido por leis naturais e tudo o que ele contém é natural, então Deus é natural." (pág. 504)
       Eis um filósofo que José Rodrigues dos Santos nos dá a conhecer em O Segredo de Espinosa, obra ficcional narrativa, publicada neste ano de 2023 e inspirada em acontecimentos verídicos feitos de perseguição, de busca de verdade, de pensamento teológico, político e ético sustentado no racionalismo  do século XVII.

        Há um tanto de Espinosa no heterónimo pessoano Caeiro, o "guardador de rebanhos" que joga com o conceito do pensador. Também o primeiro o foi, enquanto um dos grandes filósofos de todos os tempos para o autor e jornalista português. Na opinião deste, três povos podem reclamar Espinosa como um dos seus maiores: o neerlandês, o judeu e o português.

sábado, 21 de outubro de 2023

Qual é maior?

    É o que dá caminhar.

    Encontram-se pormenores que importa registar. No dizer de alguns chega a fazer-se do longe perto, nessa vontade que é a de estar mais próximo do mar.

Duas capelas sobre rochedos e areais (Foto VO)

    Aqui está o "Senhor da Pedra" tão à mão que os olhos dizem estar "muito perfeitinho, até no tamanho."
    É assim a ilusão no que se vê e no que se diz.
    Dita a razão que não há qualquer confusão: o que se ouve (dizer) outros olhos não se deixam enganar. Lá longe, mais próximo do mar, há areia, rocha, pedra bem mais real, com tamanhos que não cabem numa maquete exposta pelo município junto dos transeuntes.

    Continue-se a caminhada, enquanto o parco sol deixa e a iminente chuva não se faz sentir.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

(Inter)Pessoal, local e nacional

     Começou o dia com uma saudação.

    A caminho de uma reunião de trabalho, após um café, cruzo-me com uma pessoa conhecida que me saúda com o generoso "Bom dia!" e a questão retórica (já que o andamento é apressado, sem espaço para haver resposta prolongada) "Como vai?"
   Saiu um "Vamos andando, obrigado", por um lado, a corresponder literalmente à situação (já que ambos os dialogantes continuam efetivamente em movimento, a passo largo, criando distância face ao que as breves palavras momentaneamente quiseram encurtar, sem grande sucesso); por outro, a cumprir uma resposta cortês e tradutora de um estado de alma, no momento, sem angústias nem euforias.
   Uns passos adiante, o discurso pessoal comungado, partilhado com a conterrânea revê-se, entretanto, no espaço público da praça:

Toca a levar o barco, na rede que a vida tece - I (Foto VO)

      E o que se lê a nível local, numa perspetiva outra, acaba por se expandir para o espírito nacional:

Toca a levar o barco, na rede que a vida tece - II (Foto VO)

      Nem bem nem mal! Às vezes melhor, outras vezes nem por isso.
    Sobrevivamos a cada dia, afastados das guerras mortíferas que o mundo tem. De outras não nos livramos, mas destas saibamos doseá-las com as forças do entendimento e, se possível, com respostas efetivas à resolução dos problemas, para que todos passemos da retórica à [comunic]ação prática.

    Terminou o dia com uma reflexão, procurando razão para novo acordar. Toca a descansar, que amanhã há mais vida para quem desperte do sono e se queira alimentar de sonho.

domingo, 8 de outubro de 2023

Escuridão... que não deixa ver!

       Diz-se torta, apesar de parecer estar "direitinha".

      Num jogo das palavras, algo se apresenta como escuro; porém, ou talvez por isso, não se dá a ver, não pela escuridão, mas por uma outra razão: a visão "viu-se" comprometida na grafia e na sua correção.

Uma torta "viu-se" negra (com agradecimento à HV, pela imagem)

       De volta à grafia com 'ss' e sua confusão com '-se'. Também não é com doçuras que se resolve o problema.
      Bastava colocar o texto na negativa ("não SE viu") ou fazê-lo anteceder de 'que' (QUE não SE viu") para se verificar que o pronome '-se' não aglutina ortograficamente à base do verbo.

      Convenhamos que há tortas que se tornam indigestas. Mais do que queimadas, tostadas ou escuras, cheiram a esturro quando a escrita a propósito delas, esta sim, se revela mais do que "torta".

sábado, 7 de outubro de 2023

Impérios de Guerra (que não são o quinto, definitiva e infelizmente)

      Após o início declarado de mais um conflito na Humanidade.

      A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta cerca de 9.700 civis mortos na Ucrânia desde a invasão russa há 21 meses. Hoje, dia 7 de outubro, dá-se mais um passo para repetir o apontamento numa outra guerra, já com muitas histórias e muita perda de vidas.
    A Guerra Israel - Hamas (re)iniciada tem contornos tão intensamente violentos que todos já deviam saber a História e ter aprendido a lição maior: poupar vidas, particularmente a do Homem comum (que somos todos)! Qualquer guerra, em qualquer tempo, ponto geográfico ou na base de qualquer credo (religioso ou outro), é o maior ladrão de vidas. E quem a promove, provoca, perpetra sabe-o, num altar de poder que não considera o sentido prático e comum do que é sofrer. Está(ão) aqui o(s) maior(es) ladrão(ões)

Império de Trevas (ou como o peixe grande e assombroso da guerra se alimenta dos mais pequenos)

      No capítulo V do Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655, na Misericórdia de Lisboa (quando o queria ter feito na Capela Real), Padre António Vieira lembra o seguinte:

    “Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. - Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?”  

      Nem quatrocentos anos (e pelos vistos não são muitos!) para se continuar a ler tão atuais palavras, que referem cadeias de ladrões tão diferentes e constantes no crime maior à Humanidade. A evolução, se a houve, parece ter ficado na subtileza do furto... que deu frutos. Se Adão se fez ladrão recebeu o inferno; mas há ladrões maiores que, por não serem ou não se acharem Adões, conseguem chegar ou andar pelo(s)paraíso(s) - para além dos fiscais, os de uma Terra que não é de todos (ou que será mais de uns do que de outros).
     Continuo com o exemplo inspirado(r) do “Pai Grande” - ou Payassu, como os índios o designavam -, dos primeiros a reconhecer um sentido de justiça argumentativamente apurado, também o valor da diferença, da tolerância entre os homens e no que os define; e ainda a defesa da miscigenação dos idiomas, numa legitimação tanto do culto "pulcro" como dos registos comuns do "belo" ou do "bonito", para não falar das sonoridades escutadas em todas as cores da sua ação missionária. A aproximação fazia-se também, então, a um Quinto Império (com um Papa "angelicus" e um imperador cristão), abraçando judeus, cristãos, muçulmanos numa espécie de paraíso, a construir em vida entre os homens e não a doutrinar como prémio a alcançar depois da morte (atualidade tão inquestionável).

       É preciso focar a causa e não o efeito. Tem de ser um português a relembrar tal, desde há séculos até ao presente, numa voz que recorde o valor do "abraço"? A cultura da paz é construção de valor difícil, quando devia ser escolha maior de todos os humanos, aproximando-os na comunicação, na comunhão, na união contra o que o ameaça (e não da perdição). Afinal, citando Steinbeck, toda a guerra é um sintoma do fracasso do homem (melhor, de alguns deles) enquanto ser pensante.
 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Dia do Professor

     Em dia feriado, por razões republicanas, bem que o poderia (também) ser por outros motivos. 

     Somos país, língua e cultura a celebrar singularmente, com feriado, um poeta no calendário; lembrar (mais) um outro dia é o mínimo para quem está na base de formação de tantos profissionais importantes para o mundo e para a vida.
      São  muitas razões a celebrar:

Porque somos um entre muitos
Porque transportamos uma vida que comungamos
Porque nos aproximamos de quem (nos) procura
Porque exploramos possibilidades, oportunidades, modos de incluir
Porque repetimos, persistimos, insistimos
Porque (re)construímos e partilhamos conhecimentos tão diversos
Porque convocamos mundos para vários saberes do universo
Porque abrimos caminhos de (re)descoberta
Porque damos palavra a quem quer aprender
Porque testemunhamos empatia
Porque gerimos vontades
Porque inspiramos muitos, pelo saber e com o sabor dos afetos
Porque procuramos sorrisos em horas de angústia e desespero
Porque se faz da luta esperança, mesmo que não se instaure a mudança
Porque comunicamos o que nem sempre se quer ouvir
Porque vemos pontes a ligar margens e a superar obstáculos
Porque sonhamos e lidamos com os sonhos de tantos
Porque gostamos do que somos

Porque é o nosso dia

Porque somos professores

Um dia para lembrar e celebrar, por variadíssimas razões (imagem adaptada)

    Celebre-se a República (implantada), até o 25 de novembro (que alguém quer marcar como consolidação da democracia e da liberdade, na complementaridade do 25 de abril); brinde-se a quem faz anos em data tão relevante; lembre-se e festeje-se o Professor que, ao longo dos tempos e independentemente de regimes, tem feito, faz e fará a diferença na vida de todos. (Alguns o fizeram, e muito, em mim). Bom feriado.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Fatalidades: do filme ao erro

       No pouco tempo de que disponho, deixei-me levar por um filme...

      Já não me lembro do título nem do canal televisivo que o difundiu - por certo um dos TVCine. Era um daqueles que apelam à simpatia por um casal que tudo faz para salvar a filha de uma doença fatídica e que, à última hora, vê um milagre acontecer. Antes assim, para o final feliz do enredo e dos espectadores que se reveem nos sinais de esperança.
        Felicidade, contudo, não existe quando se lê, nas legendas, o seguinte:

Legenda fatídica em filme de esperança (quanto à língua...!)

       É fatídica a confusão da grafia '-se' e da sequência 'V[ogal]sse'. Caso para dizer que não há crença que resista já ao pretérito imperfeito do conjuntivo, escrito com esta última sequência e não com a primeira (hifenizada). A construção "se não cresse" (à semelhança de outras: "se não acreditasse, se não fizesse, se não tivesse, se não fosse...") não tem qualquer hífen a separar a forma verbal de base da sua terminação com a amálgama do modo-tempo-pessoa-número.

    A felicidade (ficcional) da personagem não tem associação possível ao mal-estar (factual) do espectador que vê a língua tão erradamente tratada na sua grafia.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Um tesourinho (com multiplicação de letras)

       Assim, mo foi apresentado: um tesourinho para a carruagem.

     Há leitores(as) atentos(as) e que vão partilhando, à semelhança do que aqui faço, os seus encontros com o mau exemplo da escrita televisiva.
       Este tem o seu requinte:

Um descanso nada repousante (com agradecimento à IP, pela partilha)

     Entre a escrita correta do duplo 's' na terminação verbal do imperfeito do conjuntivo e o erro do duplo 's' na palavra base, resta pensar que foi a preocupação na sílaba final que se estendeu, por antecipação, à penúltima. Nem 'cans(aç)o nem descanso admitem a grafia que a legenda televisiva dá a ler. A simples estratégia da família de palavras assim o dita (descansar, descanso, descansado, descansasse).

     Por mais que o cansaço seja sentido e experienciado, não é pela multiplicação de 's' que o descanso se torna a recuperação desejada. Na escrita da palavra não o é, garantidamente.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A tripla faceta do plural numa só palavra

      Numa breve passagem pelo Facebook, relembrei o plural de 'ancião'.

      Numa imagem simples, lia-se:

Variação morfológica no contraste de número

      Uma palavra com três plurais possíveis - muita variação morfológica, diria. O mesmo acontece com 'alão', 'aldeão', 'ermitão', 'sultão', mesmo que, correntemente, a preferência dos falantes vá para a terminação em 'ões'.
     Algumas outras há que admitem apenas duas formas (em 'ães' e 'ões', como é o caso de 'alazão', 'deão', 'rufião', 'truão'; em 'ãos' e 'ões', como 'anão', 'castelão', 'corrimão', 'hortelão', 'verão' e 'vilão'; em 'ães' e 'ãos', como em 'refrão'), ainda que, a par da tese etimológica de formação destes plurais (recorrendo ao latim) ocorra uma outra que a consciência dos falantes assume como mais sincrónica e menos diacrónica, liberta da consciência etimológica que muitos perde(ra)m.

      Já de outros exemplos não vale a pena escrever, agora; já foram denunciados como o que não se deve ler nem ouvir

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Nem joker nem póquer

       Assistir a concursos televisivos nem sempre se revela um ato muito instrutivo ou esclarecedor.

   Assim o escrevo por, na emissão de hoje do Joker (na RTP1), não ter encontrado informação completamente correta nem título de obra adequado. Nada incomum!
     Sempre aprendi que, na escrita manual, os títulos de livros se sublinham (ou se colocam em itálico, na redação digital); aspas são para títulos de partes / segmentos dos mesmos (por exemplo, subtítulos, episódios, capítulos, entre outros). Consequentemente, Os Maias é um romance queirosiano onde se encontra o "Episódio do Hotel Central" ou, então, Amor de Perdição é uma novela camiliana composta por vinte capítulos, além da "Introdução" e da "Conclusão".
        Pior do que isto é errar o próprio título, conforme se lê na foto seguinte:

Estamos a precisar de ler melhor Os Lusíadas, certo? (Foto VO)

      Camões escreveu Os Lusíadas (com o determinante a integrar o título) e, portanto, não se pode referenciar a epopeia quinhentista como "Lusíadas", mas, sim, "Os Lusíadas", se com aspas se quer sinalizar o título.
     Quando se deveria ter escrito que, em "Os Lusíadas" (sem aglutinação da preposição 'em' e do determinante 'os'), há um deus que se opõe à navegação dos portugueses, já agora registe-se que este último não foi o único. Só o terá sido no universo dos quatro deuses mencionados na questão lançada ou no destaque que, no Canto I, no "Consílio dos Deuses do Olimpo" se dá à voz de um, apesar de o narrador explicitar a dissonância "Quando os Deuses, por ordem respondendo / Na sentença um do outro difiria" (I - 30, vv 2-3). Prova maior da falha do "único" está uns cantos mais adiante: acrescente-se a Baco (protagonista da oponência à causa lusa) o deus Neptuno, Éolo e outras divindades marinhas que, no episódio da "Tempestade" (canto VI), convergem na decisão de dificultar a vida aos nautas, antes de estes cumprirem o objetivo de chegar à Índia.

       Em suma, leia-se melhor a obra épica camoniana e daí decorra, no mínimo, a capacidade de identificar convenientemente o título e a de não tirar conclusões apressadas e inconsistentes.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Nada a ver com municípios!

      Em plena época de veraneio, há cuidados a considerar.

      Desde logo, cuidado com o sol, com o mar... E com a língua também!
      Quando as férias se anunciam e o descanso se impõe, alguém consegue irritar o comum dos mortais:

Praia do conCelho de Lagoa é desaconSelhada: assim deve ser! (Foto VO)

      Não há imagem paradisíaca que resista a legenda tão infeliz!
     O problema até pode estar no concelho de Lagoa (pelos vistos, nem tudo é perfeito pelo Algarve), mas, no que diz respeito à praia do Carvoeiro, só pode estar desaconSelhada. Isto de confundir homófonas (conselho / concelho, vós / voz, conserto / concerto) é questão crítica até para a formação de palavras. Conselho, aconselhar, desaconselhar é sequência de derivação recursiva, a constituir uma família de palavras que fica "unida" pela base ortográfica de um 's', que nada tem a ver com concelhos.

     Isto de integrar e desintegrar municípios e/ou 'concelhos', não sendo impossível, ainda está para se representar na língua como "(des)aconcelhado".

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Sempre em ação... não param!

      Caso para dizer que não para (forma estranha do verbo, por certo).

    A estranheza vem do hábito anterior ao Acordo Ortográfico, quando se acentuava a palavra, para a distinguir da conjunção ou da preposição (não acentuada). E se hoje ainda sinto a necessidade do acento nessa forma verbal, o mesmo já não digo de outras:

Ministro(s) à parte, o que diz(em) não se escreve, conforme o lido - (Foto VO)

      Numa língua que se diz fónica e predominantemente de acentuação grave, não se utiliza normalmente o acento gráfico nas palavras com tal tendência. Portanto, ´param' é a forma correta de escrita, já que a sílaba destacada / sublinhada é a mais forte (daí a classificação da palavra como paroxítona ou grave, quanto à sílaba tónica).

      Aos protestos na educação, para negociações sem fim à vista, um outro acresce: o da língua, sem a correção dos media (e não só!) na escrita.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Mont Saint-Michel

      Qual peregrino, em terras gaulesas, mais precisamente na Normandia.

      Em local fortemente marcado pela espiritualidade, a abadia do Mont Saint-Michel é um exemplo de arquitetura medieval excecional, prova de edificação prolongada ao longo dos tempos (dos séculos XI e XII à construção do claustro e refeitório dos séculos XIII ao XVI).
     A muralha do século XIV configura uma fortificação que, outrora, protegia a ilha das marés e, durante a Guerra dos Cem Anos, das incursões inglesas que atravessavam o canal da Mancha - daí também representar um forte símbolo de identidade nacional.

Vídeo com apontamentos fotográficos do passeio escolar do AEML (Vídeo VO)

    Aclamado local de peregrinação, juntamente com Roma e o Caminho de São Tiago, o Mont Saint-Michel foi percurso das romagens mais significativas do oeste medieval, a ponto de ser considerado uma das mais importantes cidades-santuário europeias.
    Crê-se que os mil e trezentos anos de história do local iniciaram em 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou construir no monte Tombe um santuário em honra de São Miguel Arcanjo (Saint-Michel).

   Hoje o monumento beneditino recebeu mais um admirador - inclusive da caixinha de bolachas salgadas comprada na Grande Rue. Motivo para regressar um outro dia?

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Balanço do dia

     Aqueles momentos que marcam o dia... a vida.

   No termo de um dia de trabalho exaustivo, no qual nem vale a pena contar as horas passadas em azáfama contínua - entre o sufoco e as múltiplas situações a que importa dar resposta(s) -, chega o momento em que o sofá deixa rever o vivido e o sentido.
    E o que verdadeiramente importa é recordar aquele momento em que te chamam para registar numas T-Shirts brancas a mensagem de que houve atos e afetos suficientes para, após algum tempo e nem com um ano completo de trabalho conjunto, me acharem merecedor de tal honra; ou aquele em que, depois de doze anos, recebo a visita de quem, como ex-aluna, me quis visitar na escola que não foi dela e fez sublinhar que ser diretor não é tão importante como ser professor (não me esqueço, nem quero esquecer disto, apesar da função em que, por ora, estou); e também o que me fez dar um abraço a quem, pelo prémio recebido, eu quis demonstrar o orgulho que um agrupamento e um antigo professor têm pelo bem e (muito) bom que fez. Revivo, inclusive, aquele instante de um final de ano letivo, quando, na avaliação que fazia dos desempenhos de um jovem, lhe transmiti que o classificava com uma nota acima do que havia demonstrado, embora eu sentisse que poderia ser ainda mais. Confirmei-o, algum tempo mais tarde.
      No final deste mesmo dia, bem para lá das horas razoáveis de permanência no local de trabalho, ainda houve tempo para um sorriso de um assistente operacional que vinha lembrar "está quase!", dando a força necessária para o que estava por cumprir - um gesto não muito diferente de outros que me vêm tirar do gabinete e das comunicações urgentes, para me levar a instantes que, agora, recupero como sinais de que algo devo ter feito (bem) para tanta recompensa.

        De uma forma ou de outra, os cansaços dissipam-se com tantos desses sinais. Felizmente, vivo-os.

sábado, 3 de junho de 2023

Felicidade(s)

      Aprender a ver o positivo: uma questão de perceção, sem o propósito de reclamação.

   Quando o sentido crítico surge pela negativa e se fica pela declaração de impossibilidades injustificáveis, o foco do pessimismo instala-se (condicionado ou limitado  a ver e a ler o que não traz esperança).
      E se o que parece menos se tornasse mais?
      Tudo se revela com a seguinte imagem de "As Filas da Vida":

Imagem colhida do Facebook, à espera de uma leitura da esperança.

    Procurar na esquerda a confirmação do comum impede de ver na direita o que esta ainda consegue (de)mo(n)strar. Poucos, mas bons, aí estão os que interessam: os que ajudam e os que incentivam.
     No meio não está a virtude (e garanto que nada tem a ver com a construção "brasileira" do título da porta, que escancaradamente é aberta por quem frequentemente nada tem a ver com o assunto). 
     Entre os que fofocam (bisbilhotam ou mexericam - venha o Diabo e escolha o léxico!) ou criticam, domina essa maioria por vezes tão inoperante, tão improdutiva! Está aí para estagnar, impedir avanços, dificultar caminhos, adiar o que interessa alterar a pretexto de formalismos e formalidades desajustados. Como se um papel fosse só por si mais importante do que o que nele pudesse estar escrito. 

      Prefiro a lateralidade de leitura que, iniciando na direita, destaca o que importa. Seguir para a esquerda é consciencializar dessa evidência de peso improdutiva. Não me fico pelo que esta última dá (ou melhor, não dá), particularmente quando o bem de muitos e/ou dos que mais precisam fica à mercê de uma não resposta. 

quinta-feira, 1 de junho de 2023

Vá lá! Do mal o menos!

    Acertaram nalguma coisa.

    Nem as fotos da documentação exposta na escola ou as da entrada do edifício deram para identificar corretamente o patrono:

Patrono, desculpa-os, que nem sempre sabem o que escrevem (foto VO)

    Manuel Laranjeira com sobrenome reconfigurado. A falta de alguma coisa, por certo! Não é digno do patrono. Há que o reconhecer melhor.

   Vá lá! Escreveram bem o meu nome (sem 'c' e com acento no 'i'), sem me terem perguntado como o fazer.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

No Dia Mundial da Língua Portuguesa...

      Fizeram-me chegar a desgraça que grassa pela televisão (não tem graça, não)!

      Imagine-se a qualidade linguística da nossa comunicação televisiva, a partir dos exemplos que me fizeram ler precisamente hoje! Chega a ser constrangedor.
    Comecemos com a incapacidade de acertar no adjetivo relacionado com o ato de asserir e com a força das asserções. E porque, (orto)graficamente, de 'ss' se trata, veja-se no que a CNN não acerta:

Notícias de última hora que deveriam dar lugar ao fim de legendas infelizes.

     Isto de ser assertivo pode ter a ver com 'pontarias', mas de atos de fala. Diria que é preciso não ter mira linguística para falhar. É o que faz um órgão de comunicação social (à semelhança de outros).
      Segue-se o clássico desrespeito da morfologia: se o verbo é 'incendiar', previsivelmente as formas da conjugação mantêm a base (excetuando, naturalmente, as do singular no presente do indicativo e do conjuntivo). Portanto, onde se lê o errado 'e' da terceira sílaba veja-se o expectável 'i' da base de formação / variação da palavra:

Interferências... não dos manifestantes, mas da pessoa e número gramatical (foto AMT)

      Convenhamos: a legenda tornou a situação mais incendiária, pelo mau uso da língua. Inconsciências morfológicas, para não dizer desconhecimento ou ignorância.
      E como não há duas sem três (bom é que não se avance mais), assinale-se outra manifestação de desrespeito morfológico: ignorar a conjugação de 'vir' e sua projeção nas formas verbais de 'intervir'.

Se "*interviu", não salvou! Falhou redondamente. (Foto e agradecimento à AMT)

       Isto de querer 'ver' (viu) o que não é possível é uma forma de cegueira (da pior espécie). É questão de 'vir' (veio) e era bom que tivesse chegado na forma correta.

      Em dia que devia ser de celebração, fica o registo da aberração (múltipla).

terça-feira, 28 de março de 2023

Uma dramatização de 'Uma História do João Ratão'

     Depois da apresentação do livro, projetou-se a representação, hoje levada a cabo.

     Leu-se, releu-se e tornou-se mais presente (isto é, representou-se). Assim foi, com a presença das autoras Maria Clara Miguel e Maria Dolores Garrido:

Uma dramatização de uma obra que foi apresentada há dois meses na EB de Guetim.

       Em pouco tempo se fez muito, numa das iniciativas que animaram a Semana da Leitura numa das escolas do AEML.
    Educadoras, professoras e alunos(as) motivados e animados recriaram um texto que, da tradição, ganhou temáticas novas pela escrita das autoras (um ato I com explicação para o João Ratão ser glutão; um ato II conforme a tradição; um ato III que reforça a lição); se concretizou em ato de representação, dando continuidade à expressão artística e dramática, em sede de inovação.

     Nas palavras de uma das autoras, "foi uma manhã muito bonita". E a alegria de todos aconteceu. Isto é escola.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Ilha, terra / céu, luz e mar...

      Depois do cansaço do dia, só o café trouxe a energia que já não tinha.

     No desconcerto do momento, olhando as ondas e o cinzentão do final de tarde, peguei numa caneta e rabisquei o canto de uma folha impressa, já usada, mas ainda com espaços para rascunhar ideias, soltas, vagas, à espera de um sentido que não tenho de ser eu a dar.

Palavras, imagens e sons com alguma poesia (texto e filme VO)

LIBERDADE E CLARIDADE

Há quem se perca e se prenda na ilha.

Cada porto é chegada a nova terra.
Cada ilha se faz terra para novo mar.
O céu está além, para as estrelas.
Nem sempre se dão a ver; estão lá.
Dissipada a névoa, fugidas as nuvens,
limpo o céu, aquelas brilham, ainda.

Presença de luz invisível no vazio
Da escuridão instalada, cá na terra,
Sem sol nem claridade. Só dor.

Há que fugir da ilha. Banhar no mar.

     Sem bagagem, lancei-me na viagem. Não sei onde vou dar ou parar.

     Tempo de caminhar rumo à luz.