sábado, 7 de outubro de 2023

Impérios de Guerra (que não são o quinto, definitiva e infelizmente)

      Após o início declarado de mais um conflito na Humanidade.

      A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta cerca de 9.700 civis mortos na Ucrânia desde a invasão russa há 21 meses. Hoje, dia 7 de outubro, dá-se mais um passo para repetir o apontamento numa outra guerra, já com muitas histórias e muita perda de vidas.
    A Guerra Israel - Hamas (re)iniciada tem contornos tão intensamente violentos que todos já deviam saber a História e ter aprendido a lição maior: poupar vidas, particularmente a do Homem comum (que somos todos)! Qualquer guerra, em qualquer tempo, ponto geográfico ou na base de qualquer credo (religioso ou outro), é o maior ladrão de vidas. E quem a promove, provoca, perpetra sabe-o, num altar de poder que não considera o sentido prático e comum do que é sofrer. Está(ão) aqui o(s) maior(es) ladrão(ões)

Império de Trevas (ou como o peixe grande e assombroso da guerra se alimenta dos mais pequenos)

      No capítulo V do Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655, na Misericórdia de Lisboa (quando o queria ter feito na Capela Real), Padre António Vieira lembra o seguinte:

    “Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. - Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?”  

      Nem quatrocentos anos (e pelos vistos não são muitos!) para se continuar a ler tão atuais palavras, que referem cadeias de ladrões tão diferentes e constantes no crime maior à Humanidade. A evolução, se a houve, parece ter ficado na subtileza do furto... que deu frutos. Se Adão se fez ladrão recebeu o inferno; mas há ladrões maiores que, por não serem ou não se acharem Adões, conseguem chegar ou andar pelo(s)paraíso(s) - para além dos fiscais, os de uma Terra que não é de todos (ou que será mais de uns do que de outros).
     Continuo com o exemplo inspirado(r) do “Pai Grande” - ou Payassu, como os índios o designavam -, dos primeiros a reconhecer um sentido de justiça argumentativamente apurado, também o valor da diferença, da tolerância entre os homens e no que os define; e ainda a defesa da miscigenação dos idiomas, numa legitimação tanto do culto "pulcro" como dos registos comuns do "belo" ou do "bonito", para não falar das sonoridades escutadas em todas as cores da sua ação missionária. A aproximação fazia-se também, então, a um Quinto Império (com um Papa "angelicus" e um imperador cristão), abraçando judeus, cristãos, muçulmanos numa espécie de paraíso, a construir em vida entre os homens e não a doutrinar como prémio a alcançar depois da morte (atualidade tão inquestionável).

       É preciso focar a causa e não o efeito. Tem de ser um português a relembrar tal, desde há séculos até ao presente, numa voz que recorde o valor do "abraço"? A cultura da paz é construção de valor difícil, quando devia ser escolha maior de todos os humanos, aproximando-os na comunicação, na comunhão, na união contra o que o ameaça (e não da perdição). Afinal, citando Steinbeck, toda a guerra é um sintoma do fracasso do homem (melhor, de alguns deles) enquanto ser pensante.
 

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