domingo, 31 de dezembro de 2017

Votos pouco convencionais

       E depois do Natal, a entrada no novo ano.

     Avisa-se o leitor de que a imagem seguinte pode afetar algumas pessoas mais suscetíveis e/ou causar alguma incredulidade:


Imagem colhida a partir de http://geradormemes.com/meme/drk6hr

    Partilho uma forma original, embora pouco convencional, de formular os votos de umas boas entradas e de um bom ano. É o que dá brincar com a metonímia e a homofonia

       A bem do riso, do cómico e da boa disposição que o novo ano possa trazer. Bom 2018!

domingo, 24 de dezembro de 2017

Ainda Natal

     Pelo que tenha de bom e pelo que faça lembrar do que não é / tem.

     Repete-se um tempo que, entre a exceção e os excessos, pouco tem tido do muito que devia mais ser. Daí ser época a conjugar encantamento, magia e luz com tristeza, desilusão e perda. Assim persiste e resiste uma festividade que, no brilho, no regalo e no conforto, muito tem do lúrido real da pobreza, da solidão e do abandono. Entre o canto e o desencanto, o deus menino tudo isto espelha, tanto no nascimento como na morte. 

Um presépio em Espinho, com os espinhos da vida (Composição fotográfica VO)

     Esteve sempre nas mãos do Homem a hipótese de tudo ser diferente. Assim se manterá para futuro tal condição. Bom seria que neste Natal nascessem sinais da esperança, para que, cada vez mais, a luz permanentemente encandeasse o que de pior o mundo tem.
    Ainda assim, como dizem a música de Assis Valente (desde 1933) e a voz de Bethânia (desde 2008, com o CD "Natal Bem Brasileiro") em toada do Brasil, "Anoiteceu".

Vídeo com a versão, cantada por Maria Bethânia, de "Boas Festas"

        BOAS FESTAS

Anoiteceu, o Sino Gemeu 
A Gente Ficou Feliz a Rezar 
Papai Noel, Vê Se Você Tem 
A Felicidade Pra Você Me Dar 

Eu Pensei Que Todo Mundo 
Fosse Filho De Papai Noel
Bem Assim Felicidade Eu Pensei 
Que Fosse Uma Brincadeira De Papel 

Já Faz Tempo Que Pedi 
Mas o Meu Papai Noel Não Vem 
Com Certeza Já Morreu Ou Então 
Felicidade É Brinquedo Que Não Tem.

    Com música, até parece que "Papai Noel" ainda vem (não da Lapónia, mas das terras de Vera Cruz).


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Alaranjado Natal

       A poucos dias do branco(?!) Natal.

      Não são pinheiros, não. Também não é tempo de verão. As cores, porém, aquecem este inverno, num pôr do sol matizado dessa estação que já foi e que teima em fazer lembrar-se.

O pôr do sol na avenida da Liberdade, em Espinho (FOTO - VO)

      No mar, qual lençol em dobras e sulcos ondeados, há rastilhos de um sol mais do que anunciado ao fundo de uma tela feita de terra, água e céu.

      No calor das cores, só a friagem (ou o friacho do aproximar da noite) faz sentir alguma da natural invernia que não fez parte do dia.
      

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Para ver e ouvir... Caeiro.

     Depois de tanto procurar, encontra-se o que não se quer e o que não podia ser melhor.

    Procurando Caeiro, circulam pelas redes sociais e no mundo virtual materiais que tanto têm de bom como de péssimo. Já nem falo da ridícula questão de se assumir que Caeiro é um pastor ou camponês, quando se deve tomá-lo como bucólico e pensador, por mais que este, por princípio, procure recusar o pensamento abstrato (por isso, a todo o momento concretizado).
     Pior ainda é dizer-se (e fazer-se ouvir) que recusa a metáfora. Se estivesse numa realização cinematográfica, diria "Corta!", para lembrar que "O rebanho é os meus pensamentos" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"), afinal, o que o torna um guardador de rebanhos (diga-se, pensador) ou alguém que tem a alma como a de um pastor (também eu, por vezes, tenho a alma como a de um santo, ainda que, realmente, esteja mais para pecador ou para diabo - isto de ser como ou ter como não é o mesmo que ser ou ter, por certo).
    No fundo, mais metáfora não existe do que aquela que faz de Caeiro o mestre, o pensador, o centro da criação pessoana que, quando surge, é encarado como o resultado de um "dia triunfal" (segundo carta de Pessoa a Adolfo Casais Monteiro).
      Mais: afirmar que Caeiro não recorre ao adjetivo é não o ler, em toda uma produção literária que sublinha que "O que é preciso é ser-se natural e calmo" ou que "o poente é belo e é bela a noite" (in poema XXI de "O Guardador de Rebanhos"); que "Sou diferente" (in "Dizes-me: tu és mais alguma cousa" de "Poemas Inconjuntos"); que "fecho os olhos quentes" e que "Sei a verdade e sou feliz" (in poema IX de "O Guardador de Rebanhos"); que "Aquela senhora tem um piano / Que é agradável..." (in poema XI de "O Guardador de Rebanhos") - alguns versos apenas do heterónimo para contraditar o que nunca deveria ser dito / ouvido. Assim se revê a verdade de tanto material educativo, validado por tanto saber superior que a todo o momento cai. E bastava tão somente falar em "O Pastor amoroso" para duvidar da grande verdade! Quase apetece fazer uma tese com uma tipologia dos adjetivos a que Caeiro recorre, para sustentar, ainda mais, o que já aqui se assume nos sublinhados.
     E, assim, cresce o pecador e o criminoso que há em mim: cortando o inútil e combinando o válido com o que é bem feito, chega-se a algo que pode ser visto e ouvido para conhecer melhor. Um material novo, a partir do já feito e que, a bem da verdade literária, tinha de ser expurgado do que não interessa para ninguém.
    Como o objetivo não é obter lucro nem comercializar, fica um material para futuro (acompanhado de uma ficha de trabalho / um teste a propósito), sempre que Caeiro for para ensinar:

Composição de materiais relativos ao estudo de Caeiro, o Mestre pessoano 

     Imagens, pinturas, vídeos, versos, declamação (muito interessante de Pedro Lamares) - uma multiplicidade de suportes para fazer ver e ouvir o Mestre, que tanto adjetiva como metaforiza nessa intermediação que a língua (faz) representa(r) com o pensamento e com a realidade, por mais ou menos literário (ou poético) que seja.

     E tudo isto é Caeiro na suposta simplicidade que o caracteriza, num tempo-natureza a todo o instante novo por mais cíclico e repetitivo que possa revelar-se.
     

sábado, 2 de dezembro de 2017

Lutero

     A propósito de uma minissérie no canal público de televisão.

Estátua de Martinho Lutero frente à 
Igreja de Nossa Senhora (Frauenkirche), Dresden
Foto-VO
    Quando o rogo feito a Deus não é escutado (nem que seja por causa de um jogo de bola) ou quando os homens da igreja, a troco de indulgências, concedem o perdão, a fé surge necessariamente instrumentalizada. Resta a um homem caminhar no sentido da reforma da igreja, questionando-a e afastando-a das fraudes e dos logros criados. Foi o que Martinho Lutero fez.
     A Reforma de Lutero, minissérie em dois episódios hoje transmitida pela RTP1, é uma produção alemã da UFA Fiction - ZDF a ilustrar bem o que há 500 anos (1517) fez um sacerdote agostiniano revolucionário com as suas 95 teses acerca das indulgências: conseguiu que a poderosa Igreja Católica fosse abalada pelo movimento protestante do início do século XVI. 
     Do título original 'Reformation' e com a realização de Uwe Janson, a estreia televisiva denuncia como a máxima 'Quando o dinheiro cai na caixa, a alma voa para o Céu' se tornou na maior das contribuições dos fiéis para uma instituição que se afastava em muito do espírito cristão que a funda(menta)ra. A fé e a crença de um homem marcaram a diferença, na oposição aos dogmas da igreja a que pertencia; em favor da verdade, da piedade e da misericórdia para todos (nomeadamente na língua que dominavam e não no latim que desconheciam). Afinal de contas, ler permite construir o conhecimento que só alguns controlavam - logo, nada como traduzir as fontes para a língua que todos entendam.

      Trailer promocional da série, transmitida pela RTP1

    Martinho Lutero (interpretado por Maximilian Brückner) é o professor de Teologia que, na Universidade de Wittenberg e no início do século XVI, assina escritos contra a venda de indulgências, consciencializando os crentes de que nenhum homem deve pagar ou comprar a sua liberdade. Numa primeira conferência de Teologia em alemão, permitiu o acesso direto e generalizado à palavra de Deus, ultrapassando-se o espaço reservado apenas a quem sabia latim. Conquistada a população, enfurecido o Arcebispo, Lutero recebeu uma bula papal que o obrigava a retratar-se com as suas teses, sob pena de excomunhão. 
        O jogo agora era outro; a bola estava do lado do poder institucional e de um homem - o Papa - que, para Lutero, valia tanto como um porqueiro. Deus continuava a não parecer ouvir o rogo do seu 'pastor'. Daqui à destruição da bula e à afirmação de que "há uma Igreja falsa e uma Igreja real", Lutero faz o caminho, perante o Arcebispo, o Imperador e os príncipes alemães, que o levará a reafirmar as suas teses, a traduzir a Bíblia e a implantar uma nova igreja no seu país.

       Para a semana há mais (o segundo episódio), para conhecer melhor um dos religiosos mais influentes na reforma da igreja católica na Europa.