domingo, 29 de setembro de 2019

Salvo seja! Abrenúncio!

      Ao término de um fim de semana, ver materiais (que deveriam ajudar na preparação de uma nova semana de trabalho) cansa mais do que construí-los de imediato.

      A questão, já não sendo fácil de abordar, mais complicada se torna quando à nossa frente está o disparate. Trabalhar o complemento de nome (já surgido, na sua identificação, em exames nacionais) não é tarefa bem sucedida com propostas destas em caderno de atividades que acompanha um projeto editorial de manual escolar:

Foto relativa a um exercício proposto no Caderno de Atividades de um projeto editorial

      As frases de partida são:

      a) A foto do meu pai ficou muito boa.
      b) O meu interesse pelo estudo tem-me ajudado muito.
      c) A procura de emprego aumentou imenso.
      d) O irmão do Pedro emigrou.
      e) Ouço muitas vezes a música dessa banda.
      f) Algumas panelas de alumínio têm alguma qualidade.
     g) Estas pinturas do Douro são lindíssimas.
     h) A previsão meteorológica não é muito animadora.
     i) A ideia de frequentar esse curso agrada-me.
     j) O pastel de Chaves é ótimo.

     Ora, a tabela acima pressupõe que todas as frases têm um nome / grupo nominal que surge expandido por um complemento de nome. Nada de mais errado, quando, por exemplo, de panelas (f) ou pastel (j) se trata, para não mencionar outros casos bastante dúbios.

      Com isto termino: sem reconhecimento por quem produziu o exercício nem pela consultoria linguística que aparece como fonte de validação em capa, lá vou ter de trabalhar mais um pouco para compensar a falta de qualidade de quem recebe direitos indevidos (face ao mal que dá ao ensino e à aprendizagem). E depois dizem que o manual é um auxiliar do trabalho docente!

sábado, 28 de setembro de 2019

Enquadramentos

     Hoje, decidi emoldurar o céu e o mar.

     O muro de pedra - que tantas vezes tem feito de banco para os transeuntes mais cansados ou para os que decidem admirar a praia, inspirar o ar iodado e expirá-lo para o mar e o horizonte - tornou-se moldura de um quadro natural que o fim de tarde compôs:


Fotos de pedra, chão e natureza - Granja (Fotos VO)


     Encaixilhada a natureza, o infindável colorido fica nos limites da matéria dura, compacta; vê-se preso num enquadramento que aviva o contraste dos frios e ásperos minerais com as ensombradas partículas a pairar no céu, esperando esse reencontro caloroso com o oceano.

     Um dia talvez venha a lembrar esse instante, cruzá-lo com outros já vividos, na imagem aqui deixada para o tempo, para a memória e para os sentidos que o quiserem evocar.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Palavras para quê?!

      Nos últimos tempos, tem circulado no Facebook, com elevado número de visualizações, o exemplo identificado como do melhor dos(as) nossos(as) representantes municipais.

      É isto o que se chama defender uma causa, uma ideia, um princípio. Enfim, persuadir... para o riso ou para o choro, conforme se ache isto (des)construção ou (ir)realidade:

Um discurso clarividente - à falta de melhores palavras! Enfim...!

      Identificada como Margarida Bentes Penedo, deputada municipal do CDS por Lisboa, resta saber que o tema da "preleção" é o da "ideologia de género".
     Que mais dizer / escrever? Discurso fluido, coerente, bem fundamentado, numa clareza de ideias e progressão informativa inexcedíveis. O melhor exemplo de oratória, digno dos modelos mais ciceronianos do discurso. A prova categórica de que ser deputado(a) é o reconhecimento de qualidades superiores - no mínimo, a do falar bem.

       Começo a crer que, com tudo isto a ser verdade, o CDS escolhe cada vez melhor! Outro partido que fosse não lhe ficava atrás.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

"Não quero nada. Deixa-me dormir."

       Palavras citadas, palavras ajustadas.

       Eu que o diga. É o que me apetece responder quando me perguntam "Queres alguma coisa?"
     Cada vez mais a vontade é a de dormir, mas não o dormir que deu em morte, quando Cesário Verde proferiu as que, dizem, foram as suas últimas palavras (um dormir eterno, portanto). 


O Livro de Cesário Verde (RTP 2 - da Série Grandes Livros)

       Poeta da cidade e também do campo; transfigurador de uma realidade que o aprisiona e atrofia, buscando alternativas no tempo, no espaço ou na intensidade emotiva; um comprometido com as questões sociais, lutando por um equilíbrio que as desigualdades e injustiças sociais não permitem; um solidário com as vítimas de uma sociedade atroz, sombria, doentia, dominada por poderosos que comprometem a igualdade e a equidade desejadas.
     Outros temas podem ser recuperados na poesia cesariana. O visionamento deste documentário pode ser uma boa oportunidade para complementar experiências de leitura e/ou confirmar recorrências; dar ensejo à verificação da intemporalidade da mensagem poética dos finais do século XIX, bem como à apreciação crítica da leitura de alguns versos.

      Palavras que precisam de ser enquadradas, porque das comentadas sem sentido já bastam as que andam por aí a infernizar a vida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Gente que não sabe!

        O título do programa televisivo é "Gente que não sabe estar".

        Ricardo Araújo Pereira brinda-nos, ao domingo à noite, com um programa televiviso de registo cómico, a fazer esquecer, por momentos, que o dia seguinte (hoje) é o de retoma do trabalho. (Bem haja o esquecimento provocado!)
        Ultimamente, em vésperas de eleições legislativas, têm sido entrevistadas figuras partidárias e/ou governativas que têm marcado o nosso panorama político. Desta feita, foi a vez de André Silva, porta-voz do PAN (Pessoas-Animais-Natureza) e deputado da Assembleia da República desde 2015. E quando tudo corria pelo melhor, num estilo bem hilariante, eis que se falou de erros, de touradas sem animais e surgiu o pior, o impensável:

Programa da TVI, emitido ontem na TVI (montagem fílmica)

        Tem sido uma constante esta falha da colocação do pronome, tanto na conjugação verbal no futuro como na do condicional. Típica e corretamente colocado entre a base verbal e a terminação (isto é, no meio da forma verbal), eis que há os que teimosa e erradamente o colocam no final do verbo. Até o Sr. Deputado! Precisava de treinar uns diálogos pronominalizados que eu cá conheço...

         Bem que podia ser "Gente que não sabe falar", a julgar pelo que o convidado diz (mal).

domingo, 22 de setembro de 2019

Ao final de um dia de sol

      (Ou quando essa estrela de luz e calor se foi...)

    O registo fotográfico de um novo final de dia impõe-se, não tanto pelas cores, mas antes pela sugestão do que é dado a ver no firmamento:

Foto de um final de tarde brumoso (Foto VO)

       De novo junto à Granja, parecia erguer-se da espuma das ondas ou do sulcado mar um esguicho de nuvens, projetado e espalhado num céu que ia perdendo o azul e o brilho da tarde. Borrifada a pele de neblina, como se desse repuxo de sombra cinza tivesse vindo, a friagem pedia agasalho. As pinceladas de calor eram poucas, sem força, ténues. Abrumou-se o tempo, o espaço, o ser. 
       Nem o iodado e sorvido ar curam a perda de um instante que foi apaziguador. Não há sal que, por comparação, tempere o que está para vir.
      Qual relógio de areia ou clepsidra que vê a água escoar-se, não há retorno desse instante vivido. Por mais que se torne ou faça parte de novo ciclo, não será jamais o mesmo. Será sempre outro, irrepetível.
       Diz o filósofo Heráclito que o Homem não se banha duas vezes na mesma água do rio. Por maior que seja o oceano, também este não limpa as pegadas de um areal que não chegou a ser pisado.

     Findo o domingo, volta a semana contada nos dedos de uma mão aberta às muitas que a procuram.

sábado, 21 de setembro de 2019

Tempo outoniço

      Hoje, as nuvens, a frescura, o vento e a chuva.

     O apontamento do dia faz-se com uma foto do final do dia de ontem:

Um pôr do sol e um barco a flutuar (Foto VO)

    Pareceu a despedida do verão para o outono que hoje se pôs. Um barco flutuava frente ao pôr do sol, como que anunciando a passagem, a mudança imposta nos e pelos ciclos desta vida. 

     Ontem, uma tarde de sol, do veraneio que se foi (para mais cedo ou tarde regressar). E a vida flui.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O que a mente quer ver / ouvir / dizer

     Quando hoje falava aos meus alunos das representações que fazemos e das perceções que construímos,...

     Não sabia que, chegando a casa, iria cruzar-me com uma imagem a propósito. Teria sido um ótimo exemplo para trazer à discussão, bem para além do copo meio cheio (que também pode ser meio vazio), da referência ao imperador francês ou ao derrotado de Waterloo (Napoleão foi ambos os casos). E, com eles, a língua traduz um posicionamento e um sentido argumentativo imensos (numa clara perceção quando ao modo como as entidades ou as situações são vistas por quem fala).
     A imagem encontrada é fantástica:

Imagem colhida no Facebook

     Dependendo do que se veja  (guitarra ou cenário espacial matizado pelo tempo), e para que tudo não se fique pela metade,  há sempre a possibilidade da fusão de ambas: um final de dia com o ambiente refletido nas margens de um curso de água, na fluidez a que a própria música, em registo harmonioso, não é estranha. Flui a água, flui o tempo, flui a música, flui o ser humano que os vive.

      ... não imaginava que vinha aí a música feita de espelho de água, árvores e luar.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Refugiados, migrações... em debate

      Em modo de produção de materiais.

      Porque antes de debater, há que apresentar exemplos; porque antes de se falar, há que ver modelos e articulá-los com conteúdos que vão ser transversais às aprendizagens (lógica argumentativa e conhecimentos de mundo). A compreensão do oral assim se constrói, em articulação com outras exigências pedagógico-didáticas sublinhadas pelo novo enquadramento legal dos ensinos básico e secundário.
       O tema é atual, a reflexão impõe-se em termos de cidadania e desenvolvimento, a sensibilização é premente para que se mantenham características que nos definem culturalmente, enquanto povo que abre os braços ao mundo.

Montagem de excertos do programa televisivo Prós e Contras (18 de junho, 2018)

      Orientado o visionamento para um conjunto de tarefas (ficha de trabalho), prepara-se uma escuta / um visionamento ativo, reflexivo e formativo, articulado com discursos políticos, e sempre com a língua à mistura.

     Quando feito em colaboração, fica sempre melhor. Obrigado, ARS. Estamos imparáveis.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Bem precioso!

     Seja a água...

     Saber continua a ser uma forma de poder. Ignorância não ajuda a fazer escolhas.

Desconhecimento - fazer do perto longe

     Quando se sabe escolhe-se melhor. Quando não se sabe, as escolhas são tão erráticas que nem se faz a opção pelo que está mais à mão / mais perto.
     Sem água não há ser vivo que sobreviva por muito tempo, com ou sem conhecimento; sem conhecimento também há quem possa não chegar ao destino atempadamente, pondo em risco a existência.

     ... seja o conhecimento.

domingo, 15 de setembro de 2019

Polissemia

      Quando o dever não dá lugar a pagamento.

    O dever de obrigação (deôntico) difere do de probabilidade (epistémico). Também há o dever das tarefas solicitadas, o do reconhecimento, mais o das dívidas a pagar (não sendo obrigação, bem que o podiam ser em qualquer dos casos, para evitar a falta, o silêncio e a injustiça). E na confluência de todos, vem o cómico:

Cartoon colhido do 'Facebook'

     Se ao primeiro se associa a atribuição e o reconhecimento (daí 'dever' ser sinónimo de 'atribuir-se'), ao segundo é dado o significado do pagamento ('estar em dívida'). É o que dá o termo ser polissémico (ou, então, o sentido de crise andar muito apurado).

    Mais uma razão para se diversificar o vocabulário nas interações, não vá um aluno pretender brincar com a situação (e o significado das palavras).

      

sábado, 14 de setembro de 2019

Pôr do sol carregado

      Carregadíssimo de nuvens, como se fossem desabar no mar.

      Ao fim do dia, as cores são tão inspiradoras...
      Talvez não sejam da intensidade já colhida, mas atraem o olhar e guiam as mãos na (re)construção do instante.

Junto ao mar na Granja - (Foto VO)

      Depois da foto, a escrita...

     INSTANTÂNEOS

     Escuro... bem escuro...
     A luz está para o horizonte.
     Não sei o que dizer do futuro.


     Creio nele, nas águas de uma fonte.
     Quando secarem ou o travo for impuro,

     O mar abrir-se-á a novo céu, outra terra, alto monte,
     A longo caminho feito de cada passo sentido como inseguro.

     Há de vir mais um dia. Erguer-se-á uma outra ponte

     para novo tempo, espaço e ser mais maduro.


     Não sei se esta será uma reflexão sobre o tempo, se uma marca da existência. Talvez seja apenas o registo de um momento sensitivivido.

      Versinhos para fechar mais um instante deste dia.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Política?! Sim...

       Em busca de uma política de bem comum.

      Não a dos partidos políticos, porque essa já cansa de tão retórica, ilusória, fingida e desacreditada. É mais a dos seres humanos que, em solidariedade e em esforço conjunto e gregário, convocam a noção etimológica da polis, do ser social que aspira ao bem comum, sem a sede de poder.
     Não se trata de governar um estado (longe de mim tal pretensão), mas de educar para valores sociais que permitam a intervenção na realidade, na sociedade enquanto cidadão livre, responsável e respeitador do outro, particularmente daquele que está em situação crítica.

Diapositivo I de um Powerpoint para abordagem de discursos políticos

Diapositivo II de um Powerpoint para abordagem de discursos políticos

    Nisso a arte também tem o seu papel desencadeador, promovendo a leitura, a discussão, a aproximação a sentidos comuns de realidades por vezes bem distintas. Vieira da Silva, pintora portuguesa, é um caso a considerar neste raciocínio. Há histórias trágico-marítimas muito diversas, de tempos bem contrastivos, mas todos convocando o perigo, a fragilidade humana, o caos social.

      Leia-se a arte, relembrem-se os textos, revivam-se histórias da História e, afinal de contas, o(s) tempo(s) repete(m)-se.