Acho que foi por causa do exame de Língua Portuguesa de 3º Ciclo (com um caso de pronominalização muito peculiar) que me lembrei deste diálogo.
Não é coisa inventada. Foi real, ainda que na prossecução de um desafio que ambos os interlocutores quiseram expandir até ao possível.
E assim resultou:
- Por acaso, terás contigo o DVD do “Clube dos Poetas Mortos”?
- Tê-lo-ei, por certo.
- Emprestar-mo-ias, para o passar numa das minhas turmas?
- Fá-lo-ei com todo o gosto.
- E importar-te-ias de mo trazer amanhã?
- Trar-to-ei, sim senhor. Dir-me-ás apenas onde o deixar.
- Pois… Encontrar-nos-emos por aqui, lá para a hora e meia?
- Não creio! Deixá-lo-ei, então, no PBX. Pedi-lo-ás quando por lá passares e entregar-to-ão.
- Ficar-te-ei muito agradecida.
- Sê-lo-ás para toda a vida!
E os sorrisos acompanhavam as palavras e os atos.
E os sorrisos acompanhavam as palavras e os atos.
Entre os sorrisos de cumplicidade no jogo discursivo dos dialogantes, chegou, por fim, o riso sonoro de uma outra docente que assistia deliciada a esta interação tão preenchida de mesóclises e de tmeses, para bem da pronominalização.
Fica o exercício complementar: encontrar os antecedentes das pronominalizações. Indicá-los-ia se não tivesse mais do que fazer.
Deixa-me brincar, se me é permitido. (Tentei comentar um post relativo à fonética e fonologia e não deve ter entrado...).
ResponderEliminarAs mesóclises/as tmeses introduzem um discurso (posso dizer?) um tanto arcaico ou, no mínimo, pouco familiar. Ainda para mais no con_
texto de um empréstimo do "Clube dos Poetas Mortos", tão longe da realidade atual de "A turma", de que falamos na última ação.
Mais longe do que "A Turma" é "O Substituto", de Tom Kaye (cf. http://carruagem23.blogspot.pt/2012/12/o-substituto-desligado-de-si-preso-ao.html) - filme com tanto de desconcertante como de desafiador quanto à perspetivação do papel de professor em certos contextos de ação.
EliminarQuanto ao diálogo, é um dado que as construções pronominais são linguisticamente equacionadas como um indicador de muito do conservadorismo da língua; talvez por isso decorra daí alguma da formalidade pressentida no registo. Mais um caso para a distinção entre o que possa ser educar na sua dimensão de socialização primária face a educar numa dimensão de socialização mais secundária.
Apoiando-me no que se pediu no último exame de 3º Ciclo (uma sequência pronominal do tipo 'contou-no-la'), mais uma razão para, "a brincar, a brincar", não deixar de familiarizar os alunos com realizações desta natureza.
Obrigado pelo comentário.
Ai, Dr. Vítor Oliveira, a equipa do GAVE responsável pela elaboração dos exames do 9º ano que não viaje aqui! É que se vê isto, ainda o utiliza num dos possíveis enunciados de provas de exame do ano que vem.
ResponderEliminarE... valha-nos Deus, até já tem a instrução adiantada por ti: encontrar os antecedentes das ditas pronominalizações!
;-)
E por falar em empréstimos, ainda cá mora em minha casa, em sossegado repouso (agora, que corrijo exames e não quero misturar poetas!), a tua antologia de poesia de Jorge de Sena.
Não está esquecida.
Ser-te-á devolvida, assim que der por findo o meu “consolo”! E, claro, levar-ta-ei no dia seguinte!
Bjinho
IA
Credo, Doutora Isaura Afonseca!
EliminarRecolha o seu espírito e não dê ideias ao GAVE, que, a julgar pelo que fez na última prova de terceiro ciclo, só falta pedir aos alunos que conjuguem o verbo ir na segunda pessoa do plural e no presente do conjuntivo! (Quo vadis!).
Quanto aos empréstimos, estão seguramente em boas mãos. Recomendo os poemas experimentalistas, da série da Afrodite Anadiómena, sem "Petrina Sanguilícia"!
Em próximo apontamento, abordarei um desses, para lembrar a belíssima experiência de uma ação de formação sobre a leitura (Que modesto que eu sou!), enriquecida em muito com os contributos de tão qualificados formandos.
Beijinho.
Quando falei n' "A turma", estava a pensar no tipo de alunos que temos, quase todos-todos tão longe dos rebeldes com causas do "Clube dos Poetas Mortos". Também me recorda um caso que houve, no meu segundo ano de docência, na Sec. de Ermesinde, em que um colega de Filosofia fez os alunos subirem ao topo da carteira e saltarem,
ResponderEliminarnum registo de macaquinhos de imitação, em vez de dar asas aos do sótão, provavel_
mente com muito mais significado para os seus alunos, podendo criar um-qualquer outro processo dentro da «mesma» teologia da libertação.
Pois, olha, eu não fiz os alunos subirem às carteiras (literalmente; o mesmo já não o asseguro figurativamente), mas já o fiz eu mesmo em plena sala de aula só para eles imaginarem o que seria Padre António Vieira num púlpito, em pleno exercício oratório.
ResponderEliminarNão foi teologia de libertação, mas foi o momento em que subi às alturas!
Subiste nas alturas, pela corda bamba dos equilibristas, que todos os docentes agora temos de ser, sob as novas interações, mais próximos do teatro da vida, que para os nossos alunos se encontra já não no cinema mas em videos caseiros, humanidade essa
ResponderEliminarque curiosamente nos torna parentes da Teresa Ricou, essa grandiosa mulher palhaço, pelo que um curso de artes circenses não será necessário quando se fala de um novo perfil de professor, tão complementar de um curso de técnicas de voz?
Só espero que, na subida feita, não se cumpra o princípio paramiológico tão popularmente consabido: "Quem muito alto sobe...". Não há Teresa Ricou (ou Teté) que me valhe nem Chapitô que me acuda nessa formação (circense que seja)no novo perfil do professor.
EliminarResta-me ficar como Bip, paradigma do silêncio que Marcel Marceau nos legou.