domingo, 19 de junho de 2022

Fatiga, fadiga... que cansaço!

       Tempos de canseira.

      Perguntavam-me há dias se o nome associado a quem anda fatigado é fadiga ou fatiga. Respondo que são os dois (e para quem anda cansado é questão que já pouco interessa). Digam ou escrevam como quiserem.
        Claro que o mais habitual é falar ou ler sobre "FADIGA" (mesmo que o adjetivo esteja mais para 't' do que para 'd' - fatigado). Dizer-se 'fadigado' não é impossível, até pela derivação que decorre de 'fadiga' (nome) e 'fadigar' (verbo), isto é, causar ou sentir fadiga ou cansaço; logo, o 'fadigado' torna-se mais do que compreensível.
          Fatigado está mais para o sentido etimológico, que atesta o verbo latino 'fatigare' e o nome 'fatigo'.
     Entre 't' ou 'd' direi que o primeiro está mais para a origem; 'd' para a variação evolutiva, nomeadamente a sonorização que se evidencia na posição intervocálica de [t], com o som surdo lábiodental inicial a ganhar o traço sonoro por influência vocálica. Foi já o que analogamente sucedeu com totu(m) > todopotes > podes, na passagem do latim para o português, só para mencionar exemplos nos quais, também e pelo mesmo motivo, [t] evoluiu para [d]. 
         E, assim, 'fatiga' chega a 'fadiga'. Fica a primeira pela via erudita; vem a segunda por via popular. Reconhecida esta última, se ficarmos por aquela também não está mal. Explica-se, portanto, a possibilidade do apontamento lido nos destaques noticiosos da Microsoft Edge:

Colhido do Microsoft Edge, em "Notícias ao Minuto"

         Com ou sem Boris Johnson, é um dado que a guerra Rússia-Ucrânia já cansa. Bastariam Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky para nos atormentar a mente com o conflito que a todos aflige. Vem também o primeiro ministro britânico contribuir, com a citação feita, para o desalento, afadigando o espírito com sinais dos perigos que não dão esperança.

      Fadiga ou fatiga, o tempo é declaradamente, e por vários motivos, de cansaços (lembrando Campos e "Sobretudo cansaço").