sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mente sem acento

      Ainda li  textos em que os advérbios terminados em 'mente' apareciam escritos com um acento grave (cf. ponto 23 das Bases analíticas do Acordo Ortográfico de 1945)...

      Já lá vão os tempos em que se grafava 'invariàvelmente', com acento grave, na base derivante e anterior ao sufixo 'mente' que provém de formas adjetivais com acento agudo: (benéfica >) benèficamente, (contígua >) contìguamente, (diária >) diàriamente, (agradável >) agradàvelmente, (heróica >) heròicamente, (só >) sòmente. Deixou esta acentuação de existir com o Decreto-lei nº 32/73 (de 6 de fevereiro).
     Hoje deparei com um anúncio, num corredor, à entrada de uma sala de aula. Lá voltava o advérbio a ter acento gráfico (e desta vez, para mal de todos os pecados, agudo). Mais um exemplar para a coleção de erros ortográficos que tem sido depositada nesta "carruagem", nomeadamente casos de derivação que dão lugar à perda de acento entre a base derivante e a palavra derivada.
    Seja lá quem tiver sido o autor de tal registo, esqueceu-se de uma regra que muitos alunos frequentemente também desconhecem e que sistematicamente relembro: os advérbios terminados em 'mente' não têm acento gráfico, pois este sufixo tem como sílaba tónica [men], tornando grave ou paroxítona (incidência fónica na penúltima sílaba) qualquer palavra que o incorpore. E diz a regra que a língua portuguesa é fónica e predominantemente de acentuação grave, pelo que não se utiliza normalmente acento gráfico nas palavras com tal tendência.
   Assim, a título de exemplo, saiba-se que o termo derivante (adjetivo na forma feminina) pode ter acento; o mesmo não acontecerá com o derivado (advérbio):


      ..., mas há quem o queira tornar agudo. Nem um nem outro. Sem acento, tão-SÓ... ou melhor, tão-SOMENTE.

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